A gestão e a preservação dos recursos hídricos são questões centrais para o futuro das gerações vindouras, não apenas por uma questão ambiental, mas pela questão social e económica. A água, fonte primordial da vida, é um bem finito e essencial para todos os ecossistemas e atividades humanas. Os rios Sousa e Tâmega, outrora veios da vida e pilares das comunidades que os rodeiam, enfrentam hoje um ponto de rutura. Poluídos através das descargas indiscriminadas e pela negligência prolongada, estes cursos d´água encontram-se à beira de um colapso ecológico, com impactes devastadores para a biodiversidade, para a qualidade de vida das populações e para as atividades económicas que deles dependem.
Este cenário não é apenas preocupante, é alarmante, exigindo ação imediata e eficaz.
Ao longo das últimas décadas, os rios Sousa e Tâmega têm sido vítimas de um legado de práticas insustentáveis, que incluem desde as descargas industriais e domésticas ilegais até ao uso descontrolado de fertilizantes e pesticidas na agricultura.
De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a poluição difusa proveniente da agricultura, especialmente do uso excessivo de fertilizantes e pesticidas, é uma das principais causas da degradação da qualidade da água nestes rios. Estes produtos químicos não só apenas matam as espécies aquáticas, como também comprometem a potabilidade da água, colocando em risco a saúde das populações ribeirinhas. A contaminação dos rios, tem também um impacte significativo na fauna e flora locais, o que afeta diretamente os ecossistemas e as atividades económicas que dependem destes recursos.
O impacte ambiental é apenas a ponta do iceberg, a poluição dos rios Sousa e Tâmega também compromete a saúde pública de forma direta, através do aumento do risco de exposição a doenças transmitidas pela água, como Hepatite A, a Leptospirose, entre outras tal como já comunicado pela Direção Geral da Saúde (DGS). As populações ribeirinhas, que muitas vezes dependem dos rios para o consumo, para a recreação e para as atividades económicas como a pesca, estão especialmente vulneráveis a estes riscos. A contaminação das águas pode causar doenças graves, criando um ciclo de vulnerabilidade social e sanitária.
No entanto, os problemas não param por aqui, o setor agrícola que depende de "recursos hídricos limpos" para garantir a produção, também está a ser gravemente afetado. A diminuição da qualidade da água resulta no aumento das perdas das colheitas e compromete a segurança alimentar. Com as alterações climáticas, cada vez mais a agravar a escassez e a irregularidade da precipitação, o acesso à água potável para a irrigação torna-se um desafio cada vez maior, situação que as comunidades agrícolas e as populações locais enfrentam, sendo necessário uma resposta urgente, para se garantir a segurança alimentar e a estabilidade económica das regiões.
A solução para este cenário passa por uma gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos. Em primeiro lugar, é necessário implementar um sistema de monitorização contínuo da qualidade da água, capaz de identificar as fontes de poluição de forma eficiente e atempada. A fiscalização das atividades poluidoras deve ser rigorosa, com sanções adequadas para quem põe em risco a saúde pública e o ambiente. A APA e a Comissão Europeia (CE), têm insistido na necessidade de garantir que as políticas de água sejam cumpridas, nomeadamente no que diz respeito à Diretiva-Quadro da Água, que exige a manutenção de um estado ecológico saudável dos cursos de água. Para além disso, deve ser dada a atenção especial ao desenvolvimento de projetos de reabilitação ambiental, que permitam recuperar os ecossistemas aquáticos e a biodiversidade local.
Ademais, é fundamental envolver as comunidades locais e os sectores económicos neste processo de regeneração. A promoção de práticas agrícolas sustentáveis é uma das chaves para garantir que os rios possam voltar a ser uma fonte de vida. O uso de fertilizantes orgânicos, a adoção de práticas de cultivo mais responsáveis e a gestão inteligente do solo são algumas das estratégias que podem contribuir para a redução da poluição e a melhoria da qualidade da água. Para além disso, é imprescindível promover uma mudança cultural, através de ações educativas e de sensibilização, que incentivem a conservação e a utilização responsável dos recursos hídricos.
Um outro fator a ser considerado são os efeitos das mudanças climáticas, que agravam a situação já vulnerável dos rios Sousa e Tâmega. A intensificação dos fenómenos climáticos extremos, como as secas prolongadas e as inundações, torna a gestão da água ainda mais desafiante. Investir em soluções baseadas na natureza, como a proteção e a restauração das zonas húmidas e a implementação de sistemas de retenção natural de água, é crucial para garantir a resiliência dos ecossistemas aquáticos e a segurança das populações. Estas medidas, além de mitigarem os impactes das alterações climáticas, fortalecem a capacidade dos rios em fornecer os serviços ecológicos essenciais, como a purificação da água e a regulação do ciclo hidrológico.
Proteger os rios Sousa e Tâmega é, portanto, um imperativo não apenas ambiental, mas também social e económico. Estes rios são patrimónios naturais que pertencem a todos nós, e a sua preservação é um compromisso com as gerações futuras, com a dignidade humana e com a equidade social. As comunidades que habitam as margens destes rios têm o direito de viver em ambientes saudáveis e de prosperar economicamente, mas para que isso aconteça, todos os setores da sociedade precisam de se envolver de forma ativa na proteção e regeneração dos recursos hídricos.
A hora de agir é agora. Cada escolha que fazemos hoje determina o futuro que deixamos para as próximas gerações. Os rios Sousa e Tâmega podem, sim, voltar a ser símbolos de vida e prosperidade, mas para isso, é essencial que todos assumam a sua responsabilidade e participem de forma ativa na sua preservação. A água é vida, e preservar os nossos rios é garantir um futuro sustentável e saudável para todos.
Artigo de Filipe Couto, aluno do 3.º ano da Licenciatura em Saúde Ambiental na Escola Superior de Saúde do Politécnico do Port. Natural de Penafiel.