4 recordar e sentir scaled
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“Há quem diga que recordar é viver… Mas recordar não é viver… Recordar é sentir! No sentir palpitante do que essa recordação nos traz. De tudo o que nos deixa. E do quanto, intensamente, em espaço e memória, habita em nós. (…) E a nostalgia de recordar não está na tristeza do tempo que não volta mais. Nem tão pouco na impossibilidade de o voltar a viver… Está na saudade das pessoas, com quem partilhamos esse tempo… No reviver dos sentimentos, que isso nos deixa… E no sentir, que nos faz renascer…”

Vivemos de recordações e memórias. De lembranças presas e soltas dentro de nós. Que nos aprisionam. E outras que nos libertam. Somos memória de um passado… fio condutor do nosso presente. E dessas memórias, em recordações nos vamos deliciando e transmutando. Ora perdendo umas, ganhando outras. Mas nunca esquecendo aquelas que nos ficaram gravadas na pele e no coração. Essas, que na nossa reminiscência, são aí, eternamente, guardadas. Vividas e revividas, só por momentos, em pensamentos nossos. Sabendo nós somente, aquele sabor ou dissabor, que nos envia de feedback ao coração.

As recordações são o espelho do nosso passado. Nelas ficam refletidas as vivências que tivemos. Cada passo dado. Cada pessoa que encontramos. E cada triunfo, ou desilusão, que colhemos. Elas são o disco rígido do mundo, que nós envergamos. São parte da nossa conceção. Do nosso caminho e do nosso viver. E então, recordamos, sempre que queremos reviver. Ou de cada vez que queremos voltar ao passado, sem ser possível de o fazer. E sempre iremos recordar. Reviver as memórias. Porque recordar é o que nos investe o pleno sentido, do tempo presente, que vive em nós.

Há quem diga que recordar é viver… Mas recordar não é viver… Recordar é sentir! No sentir palpitante do que essa recordação nos traz. De tudo o que nos deixa. E do quanto, intensamente, em espaço e memória, habita em nós. O que recordamos, daquilo que ao peito nos desperta. Do que se foi e passou… Mas que nunca passou! Vive dentro de nós, de cada vez que o chamamos. Ou sem ter o chamar, simplesmente vem, como umas gotas de chuva, num dia quente de verão. Porque está ali, sem nunca estar apagado. Talvez adormecido. Ou presente, meio ausente. Mas ciente que mais ou mais tarde, será sentido novamente. Em calma ou desalento. Em melodia ou tormento. Porque recordar é sentimento!

E, então, desse sentimento que desperta, ergue-se uma nostalgia em nós. Aquela sensação do coração derramado e intenso. Pela saudade. Pelo tempo. Pelo mundo. Pelas pessoas. E por nós mesmos, ali impregnados, em algo que fomos. Que ainda somos. Ou não mais seremos. Do que nos fez sentir, o que hoje sabemos ser assim, ao recordar. E dessa nostalgia, rica em sensação plena do que foi, somos ricos do que hoje somos. Em sentir ao recordar. Que nos vem de dentro e preenche-nos cada pedaço de pele, que nos cobre o corpo… E vibra em cada recanto da nossa memória, que nos preenche a vastidão da alma. Porque a nostalgia de recordar não está na tristeza do tempo que não volta mais. Nem tão pouco na impossibilidade de o voltar a viver… Está na saudade das pessoas, com quem partilhamos esse tempo… No reviver dos sentimentos, que isso nos deixa… E no sentir, que nos faz renascer… 

Texto de Lúcia Resende