vitor veloso
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A Organização Mundial de Saúde prevê, caso não sejam adotadas medidas urgentes e adequadas no campo da prevenção primária e secundária, um aumento de 50% de novos casos de cancro nos próximos 20 anos – de 10,1 milhões em 2000 para 15 milhões em 2020. A nível mundial a incidência do cancro da mama ocupa o segundo lugar com um milhão de novos casos, logo a seguir ao cancro do pulmão com 1,2 milhões de novos casos.

O cancro já é em Portugal o principal problema de saúde pública, sendo cada vez mais encarado como uma doença crónica. O cancro da mama é a doença oncológica de maior incidência na mulher portuguesa e nos países desenvolvidos, com a excepção do Japão. Todos os anos, Portugal apresenta 6 mil novos casos. A mortalidade ascende aos 1.800 por ano, o que corresponde a mais de cinco mortes por dia. É uma doença que aumenta de incidência com a idade, mas que também atinge muitas mulheres no seu período de maior produtividade e pujança física e intelectual. Também ocupa no nosso país o lugar cimeiro de mortalidade na Mulher. E muitas dessas mortes poderiam e deveriam ser evitadas com programas adequados de prevenção primária e secundária.

Quanto mais idosa for a mulher maior possibilidade tem de desenvolver cancro da mama. Há outros factores de risco, nomeadamente, genéticos (ligados ao ADN e genes – apenas 5%), familiares, hormonais (menarca tardia, gravidez tardia, não aleitamento, menopausa tardia). O uso de contraceptivos hormonais não está provado que aumente o risco de cancro, bem como o uso de terapêutica hormonal de substituição (THS) durante cinco anos com fármacos adequados.

As mulheres com cancro da mama têm várias opções de tratamento – cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapêutica hormonal e terapêuticas dirigidas. Na maioria dos casos, o factor mais importante, na escolha do tratamento, é o estadio da doença. Habitualmente, a mulher é submetida a vários tipos de tratamento.

O tratamento para o cancro pode ser local ou sistémico

Tratamento local: a cirurgia e a radioterapia são tratamentos locais. A cirurgia pode ser conservadora (mastectomia parcial) ou radical (extração de toda a mama). A cirurgia deve contemplar, igualmente, a pesquisa do gânglio sentinela da axila; se o gânglio sentinela for positivo (tiver tumor) ter-se-á de realizar um esvaziamento axilar. Presentemente, o tratamento cirúrgico é cada vez mais conservador, o que evita mastectomias radicais e esvaziamentos axilares. A radioterapia é um tratamento que completa, na maioria das vezes, o tratamento cirúrgico e pode ser realizado externamente e/ou com braquiterapia (introdução de material radioactivo na loca tumoral).

Tratamento sistémico: quimioterapia, terapêutica hormonal e terapêuticas dirigidas (também chamadas terapêuticas alvo, como os anticorpos monoclonais, ou terapêuticas com pequenas moléculas). Algumas mulheres com cancro da mama podem, ainda, receber terapêutica sistémica para diminuir o tamanho do tumor, antes da cirurgia ou da radioterapia, para que a intervenção seja menos extensa – tratamento neo-adjuvante. Outras, recebem terapêutica sistémica após a cirurgia e/ou radioterapia, para prevenir que células cancerígenas tenham permanecido na corrente sanguínea e linfática. Os tratamentos sistémicos também são usados no cancro metastizado.

A Liga Portuguesa Contra o Cancro é, através dos seus Núcleos Regionais, pioneira e a principal entidade que a nível nacional tem realizado acções de prevenção primária – educação para a saúde. A nível de prevenção secundária, a Liga Portuguesa Contra o Cancro tem implementado o Rastreio de Cancro da Mama de base populacional que em colaboração com as ARS levará a todas as mulheres portuguesas este rastreio que é fundamental para o despiste e diagnóstico de lesões iniciais.

Apesar do aumento de incidência, percentualmente a mortalidade já começa a diminuir no nosso país. Esperamos que os anunciados “racionamentos” na saúde, nomeadamente a nível do tratamento do cancro, não façam diminuir a cura e a sobrevivência.

Vítor Veloso – Presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro