A carreira docente em Portugal encontra-se, há vários anos, numa encruzilhada que exige reflexão profunda e ações estruturantes. As professoras e os professores, especialmente os do ensino primário, básico e secundário, enfrentam desafios que não são apenas pedagógicos, mas também administrativos, emocionais e profissionais. Esta realidade tem levado ao crescente desgaste da classe docente, um fenómeno que compromete não apenas a qualidade do ensino, mas também o futuro da educação em Portugal bem como o bem-estar humano e social dos docentes.
Um dos elementos mais emblemáticos desse desgaste é o Concurso Nacional de Professores. Este mecanismo, concebido para assegurar a mobilidade e a colocação de docentes nas escolas, tem se revelado cada vez mais inadequado face às complexidades da atualidade. O sistema padece de opacidade, excesso de burocracia e falhas estruturais que frequentemente deixam professores em situações de grande instabilidade. Não são raros os casos de docentes deslocados para regiões distantes das suas residências, o que implica não apenas custos financeiros, mas também um enorme impacto pessoal e familiar.
Repensar este modelo é urgente. A implementação de soluções mais flexíveis e descentralizadas, capazes de considerar a realidade local e as especificidades de cada região, é essencial para devolver aos professores a estabilidade e a dignidade necessárias ao pleno desempenho das suas funções e ao reconhecimento da sua missão na sociedade.
Outro aspeto que não pode ser ignorado é o peso da burocracia sobre o quotidiano dos professores. A carga administrativa associada à elaboração de planos, relatórios e outros documentos oficiais consome um tempo precioso que poderia ser dedicado ao que verdadeiramente importa: o ensino, a formação e o acompanhamento, cada vez mais personalizado, dos alunos e alunas. Esta sobrecarga compromete não só a qualidade do trabalho pedagógico, mas também contribui para o esgotamento físico e mental dos docentes.
A desburocratização da atividade docente deve ser vista como prioridade política e educacional. Ao libertar os professores das amarras administrativas excessivas, cria-se espaço para uma atuação mais criativa, focada e eficaz. Isto, por sua vez, beneficia não apenas os profissionais, mas também os alunos, que são os destinatários e os protagonistas do sistema educativo.
A profissão docente necessita urgentemente de uma revitalização que passe pela sua revalorização social, económica e institucional. Os professores são os pilares de qualquer sociedade que aspire ao progresso, mas em Portugal, frequentemente, esta profissão é desvalorizada, tanto em termos salariais como de reconhecimento público.
Investir na formação contínua, melhorar as condições de trabalho e assegurar uma progressão de carreira justa e motivadora são passos fundamentais para atrair e reter talentos na atividade docente. Sem isso, corre-se o risco de assistir ao gradual abandono da profissão por parte de profissionais experientes e à dificuldade de atrair jovens vocacionados para o ensino.
Outro ponto que merece reflexão é o modelo de gestão escolar. Nos últimos anos, tem-se observado uma tendência de aproximação das escolas a modelos empresariais, com metas, rankings e resultados quantitativos a ocupar o centro das suas preocupações. No entanto, a escola não é uma empresa, nem deve funcionar como tal. O seu papel é ser um lugar de partilha de conhecimento, experiências e valores, onde haja flexibilidade para que a formação integral do indivíduo seja prioritária.
Um ambiente escolar que valorize a colaboração, o diálogo e a inclusão promove o sucesso escolar mas, também, o desenvolvimento humano dos alunos. Para isso, é necessário um modelo de gestão que reconheça e respeite as especificidades do trabalho docente, criando condições para que os professores possam exercer plenamente a sua missão.
O desgaste da carreira docente em Portugal não é um problema isolado, mas um reflexo de um sistema que necessita de reformas urgentes e profundas seja ao nível da gestão, seja a nível dos planos curriculares. Repensar o Concurso Nacional de Professores, desburocratizar a atividade docente, revitalizar e revalorizar a profissão e resgatar a verdadeira essência das escolas são passos indispensáveis para garantir um futuro mais promissor para a educação no nosso país.
Os professores não são apenas transmissores de conhecimento, são agentes transformadores da sociedade. Investir neles é investir no futuro de Portugal. Que esta reflexão inspire decisões concretas e eficazes!
Artigo de João Soares, professor