opiniao filipe couto penafiel
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A despovoação do interior de Portugal constitui um dos desafios mais prementes que o país enfrenta. Este fenómeno, que se arrasta há décadas, tem vindo a transformar vastas áreas do território nacional em zonas praticamente desertas, com impactos sociais, económicos e culturais profundos. A escassez de oportunidades económicas leva à saída das populações, agravando a carência dos serviços e dos investimentos, o que, por sua vez, diminui ainda mais a atratividade destas regiões. Este ciclo vicioso ameaça não apenas as comunidades locais, como também o equilíbrio e o futuro de Portugal no seu conjunto.

A desertificação humana do interior é particularmente evidente nas regiões como o Alentejo, as Beiras e Trás-os-Montes, onde o envelhecimento populacional atinge níveis alarmantes e a infraestrutura básica, como as escolas e os serviços de saúde, tornam-se cada vez mais escassos. Por outro lado, as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto enfrentam desafios opostos, como a superlotação, o trânsito caótico e a crise habitacional. Este contraste entre um interior despovoado e as cidades sobrecarregadas, reflete um país profundamente desequilibrado.

A solução para este problema não pode assentar apenas em medidas pontuais ou temporárias, mas sim num plano estruturado e sustentado que promova o desenvolvimento regional a longo prazo. A melhoria das infraestruturas de transporte e o acesso generalizado à internet de alta velocidade são fundamentais, pois facilitam a fixação de empresas e dos profissionais, atualmente concentrados nas grandes cidades.

Adicionalmente, é crucial investir na reindustrialização adaptada às especificidades locais e no desenvolvimento de uma agricultura moderna e sustentável, que valorize produtos regionais, como o vinho, o azeite e o queijo, entre outros… posicionando-os nos mercados nacional e internacional. O turismo sustentável também pode desempenhar um papel relevante, aproveitando o património cultural e natural do interior sem repetir os erros associados ao turismo de massas que têm prejudicado outras regiões do país.

Simultaneamente, é imprescindível implementar políticas que incentivem a fixação de famílias no interior, recorrendo a benefícios fiscais, à habitação acessível e à garantia de serviços públicos de qualidade, como escolas e hospitais. Estas medidas devem ser complementadas com um esforço coletivo para valorizar e promover a identidade cultural das regiões do interior, reforçando o sentimento de pertença das comunidades locais e atraindo novos residentes.

A revitalização do interior não é apenas uma questão de justiça social, como também é uma oportunidade estratégica para o país. O interior representa o coração de Portugal, com as suas tradições, paisagens e cultura, ignorá-lo é negligenciar uma parte essencial da identidade nacional. Investir na recuperação destas áreas é indispensável para construir um futuro mais equilibrado, sustentável e inclusivo. O momento para agir é agora, enquanto ainda há um interior para revitalizar.

Artigo de Filipe Couto, aluno do 3.º ano da Licenciatura em Saúde Ambiental na Escola Superior de Saúde do Politécnico do Port. Natural de Penafiel.