fleming
Publicidade

O cancro da mama é o tumor mais frequentemente diagnosticado nas mulheres, com maior incidência nas últimas décadas e representa 30% de todos os cancros. É uma doença complexa, de caráter multifatorial. Uma em cada 8 mulheres desenvolvem um cancro da mama invasor ao longo da vida e, em Portugal, surgem cerca de 7000 novos casos/ano.

Em 2020, as estatísticas revelam em todo o mundo mais de 2,3 milhões de novos casos e destes morreram 685 mil mulheres, distribuídos em 185 países, com incidências variáveis conforme o desenvolvimento civilizacional e estado sócio económico (Internacional Agency for Research of Cancer, 2021). Estudos recentes prevêm que, em 2040, esta incidência atinja cerca de 3 milhões de novos casos e um milhão de  mortes em todo o mundo (The Breast – Elsevier, 2022).

A OMS tem como objetivo reduzir a mortalidade com metodologias para melhorar o diagnóstico precoce, redução dos fatores de risco, tratamentos cada vez mais eletivos e diferenciados e intensificar os programas de rastreio.

A PREVENÇAO muitas vezes é confundida com o diagnóstico PRECOCE.

Um diagnóstico precoce é essencialmente para detetar um cancro que já se desenvolveu muito no início, sem sintomas, mas que vai progredir no crescimento incontrolado das células malignas, e ter tendência a disseminar pelo organismo. Quanto mais precoce for o diagnóstico maior a possibilidade de cura, que atinge cerca de 90%.

A chave do problema reside na prevenção! Mas como?

O cancro de origem familiar ou hereditário representa uma fração muito reduzida de apenas 8-10% de todos os cancros da mama se atingem familiares do 1º grau (mãe, irmã, filha ou pai) e realizando os conhecidos testes genéticos (BRCA1 e BRCA2- os mais frequentes, embora atualmente existam outros mais recentes). Nos casos de mutação positiva existe o risco de cancro da mama de cerca de 70% ao longo da vida e a prevenção será a opção de cirurgias de mastectomias bilaterais, com ou sem exérese dos ovários (risco de cancro do ovário) e reconstrução mamária imediata. Estas mutações tendem a desenvolver-se mais nas mulheres jovens. A maioria dos tumores da mama são do tipo não familiar ou esporádicos (cerca de 80–85%) em que as anomalias nas células mamárias normais resultam de agressões diretas intrínsecas ou extrínsecas ou ainda do próprio envelhecimento das células, iniciando um processo de multiplicação sem qualquer controlo.

São conhecidos vários FATORES DE RISCO que desencadeiam cancro da mama. Dos fatores impossíveis de evitar salienta-se a idade (mais de 50% dos tumores surgem após os 50 anos), a presença de mutações genéticas já descritas; menarca precoce; menopausa após os 55 anos; mama com alta densidade de tecido mamário; história de prévio cancro da mama ou a existência de lesões pré-malignas; história familiar de cancro mama ou do ovário, mesmo com testes negativos; pai com cancro da mama; história prévia radioterapia do tórax.

Fatores que podem e devem ser evitados, essencialmente sobre o estilo de vida: combater a vida sedentária, a obesidade na menopausa e também nas mulheres jovens, eliminar a hormonoterapia (de substituição na menopausa), primeira gravidez tardia após os 35 anos, ausência de amamentação, mulheres sem filhos, algumas pílulas anticoncecionais sobretudo se usadas desde muito jovens por períodos contínuos de cerca de 10 anos antes da primeira gravidez, abusos alimentares, fatores stressantes, bebidas alcoólicas apenas com moderação, e o tabaco.

O cancro da mama nos EUA teve diminuição após o ano 2000 e os estudos são consistentes para uma franca redução do uso da hormonoterapia de substituição nas mulheres pós-menopausa, que se revelou fator de risco evidente se usado de forma contínua mais de 5 anos. Nas últimas 2 décadas o cancro da mama tem tido aumento de casos de 0,5% ao ano, explicados pelos fatores que deviam ser evitados.

Recentemente os registos mundiais apontam para aumento significativo de cancro da mama nas mulheres jovens sobretudo abaixo dos 40 anos, ainda com incertezas sobre a epidemiologia e biologia. São geralmente tumores mais agressivos e de maior complexidade de diagnóstico pelo risco de confusão com doenças benignas e consequente atraso de um correto diagnóstico e tratamento. Deve obedecer a cuidados rigorosos na observação e orientação. Tem sérias consequências na vida das jovens, pelas medidas terapêuticas impostas geralmente com quimioterapia, na fertilidade, na menopausa precoce e recurso a medidas de suporte de acompanhamento psicológico e na esfera sexual. As causas e recomendações foram objeto de estudo no “ESO-ESMO – BREAST CANCER IN YOUNG WOMEN FIFTH INTERNATIONAL CONSENSUS SYMPOSIUM- BCY5- Outubro de 2020).

Na atualidade surgem investigações na temática “The Ecology of Breast Cancer”, pois cada vez mais mulheres na pré-menopausa estão expostas a altos níveis de poluição do ar e têm maior risco de desenvolver cancro da mama. É uma doença das comunidades que criamos e onde vivemos. Têm como objetivo tentar explicar a complexidade desta trágica doença, provavelmente epidémica, que profundamente altera a vida das mulheres, dos homens e das famílias.

JOSE FLEMING DE OLIVEIRA

Especialista da Consulta da Mama do Hospital Santa Isabel – Santa Casa de Misericórdia -Marco Canaveses
Ex. Diretor do Departamento de Cirurgia do Hospital Pedro Hispano
Ex. Chefe de Serviço de Cirurgia
Ex. Cirurgião Coordenador da Consulta de Grupo da Mama do IPO Porto
Ex. Diretor da Unidade da Mama do Hospital Pedro Hispano
Ex. Prof Associado Convidado de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UPorto