A família é-nos imposta. Sem se querer. Sem se saber ao que se vem. E o que virá. Por um vínculo se conduz e desvínculo não tem. A ela se pertence. E pode não se pertencer. Pelo sentir se governa. Ou apenas se sente ausente. Feita de laços de sangue. Ou sem sangue enlaçado. Com ou sem as mesmas raízes. Dos mesmos ramos. Ou ramos diferentes. De flores diversas e espalhadas por aí além. Uma família será sempre um jardim, de (muita) paciência.
A família é-nos imposta e nela se calha. Sem se querer e nem sequer, direito de voto ou escolha se ter. Como numa eleição obrigatória, que nos leva a cair num boletim, sem nunca o termos escolhido. Sem dele, nada sabermos. E nele, se ser obrigado a crescer, a viver e a depender. No vínculo, que desvínculo não tem. Nem nunca terá. Que nele se agrega tudo. E todos os restantes membros, que em ex. não se definem. Nem nunca deixam de o ser. Sem mudança de estatuto ou estado de parentalidade poder haver. Num contrato eterno e vigente. Perpétuo e impossível de invalidar. Como um timbre marcado e selado. Para toda a vida. A toda a geração e inexequível de anular.
E nessa condição de dependência e pertença. Se pertence e não se pertence. Nesse sentido da atribuição de um papel, seja ele qual for, vitalício se é, nessa família, presente e evidente, desse sentimento de pertença. De afeição, afinidade e de laços. De ligação, parentesco ou relação. Desse sentir, que pode ser ausente. Ou dele, nos podem ausentar. Porque, esse vínculo timbrado e selado, eterno e vigente, nele não impera a condição de amar. E dessa condição não se ordena o ser e sentir, e tão menos ainda, o pertencer. Pertence-se e não se pertence, nesse dualismo oposto. Contraditório e adverso. Moratório e disperso. No choque do ser e não se sentir ser. Da dor, do pertencer e não pertencer.
E de ambiguidades. Afinidades. Contrastes e diferenças, se edifica uma família. Uma só, com tantas, envolvidas e submetidas. Muitas inclusas e outras reclusas. E nessa onda de famílias e familiares. Laços de sangue e sem sangue enlaçado. Se funda. Se cria e alicerça, cada membro e filiado. Se educa. Se trabalham valores e princípios. Formas, meios de ser e personalidades diversas… Como peça fundamental, do puzzle de uma sociedade. Fruto do hoje. E futuro, das gerações vindouras e da posterioridade, que estará por vir…
Assim, a família é o núcleo da sociedade e a nossa primeira interação com o mundo social… É o meio indispensável, para uma sociedade responsável e consciente. Como um vasto jardim de flores... Que podem brotar dos mesmos ramos, mas nenhuma é igual às demais. Que podem ser de outros ramos, mas que já são parte daquele jardim. Que podem ser mais próximas ou distantes, mas serão sempre fruto da mesma terra… Que podem plantar-se noutro local, mas terão sempre raízes no primeiro terreno. E com mais, ou menos, sol, cada flor será, eternamente, parte do mesmo jardim… Um jardim, de flores diversas e espalhadas, por aí além… Que outros jardins, e noutros terrenos, se edificará e encherá. E independentemente de cada ramo. De cada terra. De cada terreno. Ou de cada flor… Uma família será sempre um jardim de (muita) paciência…
Lúcia Resende