rita vieira racing
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A igualdade e a equidade de género é um tema que tem estado em cima da mesa de muitos debates e mesas de decisões. No entanto, no desporto, na opinião de muitos, ainda falta um longo caminho a percorrer até à meta. Rita Vieira, piloto de enduro, defende que “as mulheres que se esforçam para estar ao mais alto nível merecem mais respeito e, sobretudo, melhores condições”.

Andar de mota “já faz parte do dia a dia” desta jovem desde muito nova. Foi com quatro anos que aprendeu e, aos oito, começou a competir. Está no sangue da sua família, pois já o irmão entrou neste mundo da competição e o incentivo veio do pai.

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“Para mim, é tão natural estar no meio das motas e andar de mota que já nem penso muito nisso. Está comigo desde que me lembro de existir, é algo que já está mesmo dentro de mim”, confessa ao Jornal A VERDADE.

Começou no Trial e, por volta dos 16 anos, passou para o Enduro. Quando chegou à faculdade, a conjugação entre os estudos no curso de Design de Moda, na Universidade da Beira Interior, as vindas a casa, em Vila Nova de Gaia, e os treinos “não era fácil”. Então, teve de optar e a escolha foi o motociclismo, mais em concreto, o Enduro.

Hoje em dia, dá aulas de mota a crianças e faz competição, tendo já passado por várias pistas da região do Tâmega e Sousa. Acredita que a participação de mulheres nestas modalidades “tem aumentado”. “Houve alturas, quando comecei no Enduro, em que era só eu, praticamente. E, depois, começaram a surgir muitas mais mulheres, tanto que acabaram por criar uma classe feminina, que depois passou a ser campeonato nacional”, descreve, sublinhando que “tem havido um grande crescimento e um grande aumento de nível também, o que é muito bom”.

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Tanto no ano passado como nesta época, Rita Vieira participou no Campeonato do Mundo de Enduro, mas só este ano lutou com as primeiras classificadas, fazendo três pódios e ficando em quarto lugar no final do campeonato. Ao questionar a realidade das três melhores do mundo, apercebeu-se de que “há quem receba para competir e há quem pague para competir, que é caso de todas as mulheres”.

“Na verdade querem que sejamos profissionais, mas não nos dão condições para isso. Claro que é gratificante subir a um pódio do Enduro GP e fazer parte das melhores do mundo, mas se formos analisar a questão a fundo: para quê? Quer façamos primeiro ou último lugar, a nossa vida continuará exatamente igual”, escreveu numa publicação.

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“Apercebi-me que isto não traz retorno nenhum, que, independentemente dos resultados, as mulheres nunca vão ter boas condições, porque, simplesmente, o Enduro (a nível mundial) está feito para as mulheres não terem essas condições e é um bocadinho frustrante”, comenta, recordando que chegou também a questionar as primeiras classificadas, de Inglaterra e Espanha, e percebeu que, “se calhar, ainda têm condições piores”.

“Quando me apercebi desta realidade, fiquei extremamente desapontada, porque acho que já não devíamos estar com estas mentalidades. As equipas oficiais, se for preciso, têm cinco homens a lutar pelas diferentes categorias, pelos Juniores, pelo Enduro 1, Enduro 2 e não incluem uma mulher”, indica, afirmando que, no mundo das motas, a inclusão de mulheres nas equipas ainda é algo que está “muito longe”.

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“A nível nacional, não tenho o que dizer. Sempre tive ótimas condições, tenho patrocinadores que me apoiam imenso… agora, a nível internacional, acho que a FIM (Federação Internacional de Motociclismo) devia incentivar, por exemplo, através de pontos”, exemplifica ao Jornal A VERDADE.

“E não, não sou ingrata, sempre valorizei muito quem me ajuda, mas sou ambiciosa e acho que tanto eu como todas as mulheres que se esforçam para estar ao mais alto nível merecem mais respeito e sobretudo melhores condições! Até há uns tempos atrás, o futebol feminino era completamente desvalorizado, agora pouco a pouco, vão conquistando o seu território. A união faz a força e eu acredito que juntas somos mais fortes! Sim, sou mulher e sou piloto”, pode ler-se.

De olhos postos no futuro, Rita Vieira, de 28 anos, confessa ainda que a sua maior ambição neste desporto “é fazer o Rally Dakar”.