miguel ferreira daltonico
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Castanho e roxo são duas cores visíveis aos olhos de quase todos nós, mas não aos de Miguel Ferreira. Ainda em criança foi-lhe diagnosticado daltonismo e dessa altura recorda-se de começar a “usar lápis de cor marcados com os nomes”.

O jovem, de 23 anos, consegue identificar a maior parte das cores, à exceção dessas duas. “O roxo, por exemplo é uma cor que para mim nunca existiu e não faz parte do meu dicionário. O mesmo acontece com os castanhos e, para mim, não existem subcategorias de cores”, explica.

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Ser daltónico nunca foi um fator de dificuldade para Miguel Ferreira, que do percurso escolar destaca “um trabalho de aguarelas em que era suposto pintar o céu de azul, mas a pensar que era azul pintei o céu de roxo e acabou por não ser um grande trabalho”.

Apesar de na escola já ter sido algo de “gozo e motivo de riso”, por colegas, o jovem garante que sempre se sentiu respeitado por todos os professores. “Só tive uma vez um caso de uma professora que não acreditava que era daltónico. Pensou que era motivo para brincar com ela ou ter alguma vantagem. A minha mãe teve de ir à escola e falar com ela professora”.

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O daltonismo “nunca” impediu Miguel de fazer “a maior parte das coisas”, pelo contrário, vê na doença “um ponto a favor. Acaba por me dar um olhar diferente sobre o mundo. A minha área é cinema, envolve muito trabalho de cor e acabo por ter um olhar completamente diferente da maior parte das pessoas. Normalmente usam um tom específico para representar alguma coisa e eu, como encaro isso de forma diferente, provavelmente vou escolher outra opção que nunca passaria pela cabeça da maior parte das pessoas que vêm as cores todas”, frisa o jovem.

Apesar de ser uma doença, que herdou do avô, o daltonismo “é um ponto de diferenciação. Temos de saber pegar no mau e transformá-lo no bom”.

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Foi com esse pressuposto que, este ano, confinado às paredes do quarto surgiu o livro  ‘Verso, memórias e pensamento de um jovem daltónico’. “Em 2021 trabalhei em conjunto com os meus pais para conseguir uma vaga para estudar nos Estados Unidos da América, a terra do cinema. Depois de uma semana de estar lá, o meu avô materno faleceu e, como viveu comigo a vida toda, decidi ir ao funeral para o homenagear pela última vez. Por questões logísticas não consegui regressar lá e terminar o que tinha começado”

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Com este momento culminou o isolamento devido à COVID-19. “Durante uma semana a única resposta que tive dentro do quarto foi a ideia do livro”, revela.

O livro é “um retrato” da vida de Miguel Ferreira, especialmente focado no último ano da vida do jovem.

O livro será apresentado esta sexta-feira, dia 14 de outubro, na Casa da Cultura de Paredes e Miguel Ferreira convida “toda a gente a estar presente”.