alegria de crescer
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O “otimismo” que caracteriza o Sr. Abraão, como é carinhosamente chamado, esconde uma vida de histórias, “de altos e baixos”, que o ensinaram “a viver”. O “percalço” mais recente aconteceu há dois anos, e num discurso emocionado, recorda o diagnóstico de cancro da mama. “Estava a tomar banho, passei a toalha no peito e senti no mamilo da mama esquerda um caroço, parecia um tremoço. Limpei-me, vesti-me e fui de imediato ao hospital. O médico fez logo uma carta para entregar à médica de família, para fazer uma biópsia. Uma semana depois deu positivo e, em pouco tempo, fui submetido a tratamentos”. 

Esperava-se uma reação de medo, susto, mas surgiu uma “reação normal” porque o Sr. Abraão enfrenta todos os problemas da vida “de forma positiva. Sou otimista e isso é meia cura. Enfrentei como uma doença normal”.

Um ‘normal’ que a sociedade não associa ao cancro da mama no homem, mas como nos diz, não achou estranho, “porque as doenças não escolhem sexo, idades, nem pobres, nem ricos”.

A experiência dos seus 83 anos fizeram-no encarar o cancro “sempre com um sorriso nos lábios. A palavra cancro mete medo, mas temos de a enfrentar como uma realidade da vida, que pode tocar a todos”.

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Ao seu lado nesta luta, o Sr. Abraão teve uma mulher que “sempre” o apoiou, como apoia há 52 anos, fruto de “muito respeito e compreensão”. Mas a emoção e as lágrimas aparecem quando fala das três filhas, Sónia, Sandra e Carla. “Ter o apoio da família é o ideal. Fui a todas as consultas, sempre com o apoio delas”, recorda.

No processo de cura, fizeram também parte “todos os profissionais do hospital. Desde a menina da limpeza, até aos médicos e enfermeiros. Fui assistido maravilhosamente bem. Foram todos impecáveis, não há palavras”.

Do diagnóstico ao processo de tratamentos “foi tudo muito rápido” e, atualmente, o Sr. Abraão sente-se “bem e normal. Estou a ser acompanhado pelo IPO. Fiz há pouco exames e está tudo bem. Só há um problema, não tenho mama esquerda e tenho dificuldade em pôr o sutiã”, diz, mostrando a boa disposição que o define.

Quando diagnosticado precocemente, o cancro pode salvar vidas e no seu caso não tem dúvidas de que “se tivesse adiado, certamente, já não estaria aqui. Senti e foi logo ao médico, porque não se deve adiar, mas sim ir imediatamente ao médico. Estava no princípio e safei-me”. 

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Enfrentar a doença com “positividade” é um dos maiores conselhos que deixa, porque como diz “temos duas verdades na vida, nascemos e morremos. Por isso, temos de aproveitar enquanto cá andamos, respeitando o espaço de cada um. À porta do cemitério ficam todos os luxos, o que interessa é o que está dentro. Sei que é difícil, mas penso sempre que há alguém que está pior do que eu”.

As palavras são ma(duras) e certas de que “o amor é a base de tudo”, assim como a “compreensão e o respeito. Se houver isso, supera-se tudo”. Passada uma vida de “muitas” experiências profissionais, viagens e descobertas, o Sr. Abraão sabe que tem “tudo”. 

Natural da extinta freguesia de Fornos, o casal está há três meses na associação ‘Alegria de Crescer’. Um lugar onde “convivemos, conversamos, rimos, contamos anedotas, partilhamos histórias”, e onde são acompanhados por funcionárias “cinco estrelas e que têm sempre uma palavra amiga para dizer. É para continuar”, garante.