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Agosto, conhecido como o mês dos emigrantes, está quase a chegar ao fim e são muitos aqueles que deixam o país para voltar à rotina além fronteiras. Na viagem de regresso levam as saudades de tudo o que fica para trás, mas para encurtar a distância levam, também, alguns sabores típicos portugueses. “Às vezes trago para a Bélgica hortaliça, as couves já segadas, o feijão verde, que está na altura dele, o salpicão, um queijo castelões ou outro. E peço também que me tragam cebolas e azeite. Trago sempre um bocadinho de Portugal na viagem”, conta o marcoense Aventino Freitas, natural de Gouveia da freguesia de Várzea Ovelha e Aliviada.

Hoje em dia essas mesmas viagens são feitas de avião, mas recorda os tempos em que as fazia de carro. “Eram muito tristes, por isso é que deixei de fazer. Para ir (para Portugal) era muito rápido, tudo muito bonito, mas para vir a viagem custava imenso, demorava muitas horas, não havia motivação. Para trás ficam as saudades, embora na Bélgica tenha a minha própria casa, tenho os filhos perto, mas mesmo assim gosto da minha terra. Por isso, a viagem de volta custa sempre”, garante.

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Emigrante há 41 anos, e com o sonho de passar mais tempo na terra Natal, Aventino Freitas tem vivido uma “vida de muito trabalho. Agora estamos à espera da reforma, falo por mim, vivemos à espera disso”, diz. A vida além fronteiras começou aos 17 anos, quando emigrou para os alpes suíços, em 1982. “Os recursos não eram muitos, mas também não vivia muito mal. Sou o mais novo de seis irmãos e trabalhava na construção civil. Na altura via os outros na zona a ir para os hotéis na Suíça e eu pedi a um senhor, arranjou-me e fui”, recorda. Ainda menor de idade precisou da autorização do pai para sair do país. “Teve de assinar um termo de responsabilidade para poder ir. Foram várias pessoas, um cunhado meu, mas da família direto fui só eu”.

No aeroporto tinha alguém à espera, mas a partir daqui tudo seria “uma incógnita, nunca tinha saído do Porto. Ia a passeios da escola, mas nunca tinha ido para muito longe. Era tudo novo, senti-me muito triste. Hoje sei o que são os alpes suíços, mas na altura não conseguia dar o verdadeiro valor e ver como era bonito, porque estava completamente fora de casa, da família e era jovem”, conta.

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Aquela foi a segunda casa durante sete anos, até se “apaixonar por uma linda menina, Conceição Freitas, que era emigrante em Paris. Numas férias, em Portugal, conheci-a e começamos a namorar, por cartas, porque não havia telemóveis, por chamada só nas cabines telefónicas. Um dia tivemos uma zanga que foi resolvida com a minha ida até Paris e acabei por ficar lá. Casamos, eu com 25 e ela 23 anos e tivemos três meninas e um menino“.

Em 2003, a família regressou a Portugal após o nascimento do filho mais novo, mas a ligação a França “ficou sempre”. Já em 2006 regressou à vida de emigrante, desta vez na Bélgica, onde vive desde então. “Queria voltar para Portugal, porque não queria que ficassem a viver noutro país. O meu pensamento era ‘se eu ficar eles depois não voltam’. Então fomos para Portugal, estivemos uns tempos, mas entretanto não estava muito bom e vim sozinho para a Bélgica. A família veio ter comigo em 2010. Agora estamos quase todos, exceto uma filha que vive em Vila Nova de Gaia”.

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Aos 59 anos, e a alguns quilómetros de distância, Aventino Freitas faz questão de visitar Portugal “muitas vezes. No Natal, na Páscoa, às vezes em maio, julho novembro” e garante que “a ligação nunca se perde. Nunca me senti estrangeiro no meu país, nunca me senti mal aí e não tenho vergonha de dizer de onde sou“.

Do que sente mais saudades, não tem dúvidas, “é da convivência. Não é da comida, porque trouxe um forno a lenha e cá fazemos boa comida. Sinto falta é do convívio, o espírito dos portugueses é diferente. Continuo a ter imensos amigos em Marco de Canaveses, nunca me senti excluído na minha terra. Só fico triste porque não posso estar em alguns convívios com os amigos, as pessoas não se podem substituir”.

O marcoense sempre trabalhou na construção civil e, atualmente, é encarregado na empresa onde trabalha. Quanto ao futuro, o grande objetivo é “poder estar entre os dois países. Andar por aí com tempo, sem ver a data, o calendário, sem estar preocupado“.