miguel sousa
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Os cuidados paliativos, enquanto especialidade médica, são uma área recente e com uma oferta que poderia ser “muito maior”, mas naquela que existe Miguel Sousa dedica-se a dar aos doentes “um fim de vida com qualidade: o objetivo é ajudar a morrer bem, ou seja, tentar minimizar o sofrimento”, explica o enfermeiro. 

Ainda na faculdade, esta era uma área que gostava e um interesse que o motivou a realizar uma formação avançada. Mais tarde, em 2014, foi convidado para integrar a primeira equipa multidisciplinar de cuidados paliativos do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. 

Desde esse dia que tenta “ao máximo” não se “ligar aos doentes. No momento em que saio do hospital tento abstrair-me e não levar o trabalho para casa”. Uma forma de estar que o faz conseguir “lidar bem com situações mais complicadas” e, sobretudo, o faz sentir-se “bem e realizado”, porque sabe que está a fazer o “melhor para que os últimos dias sejam o melhor possível”, garante.

Ele e toda a sua equipa acompanham uma fase “complicada e difícil de ultrapassar para o doente e para a família”, mas também para todos os profissionais. “Há a possibilidade de nos apegarmos se acompanharmos um doente muito tempo, mas temos de conseguir adquirir algumas estratégias que nos levem a conseguir superar isso”.

De acordo com Miguel Sousa, os cuidados paliativos devem ser introduzidos “o mais precocemente possível, quando o sofrimento é intenso e há um descontrolo de sintomas muito grande”. Na entrada dos doentes, cabe aos profissionais “antever os problemas que podem surgir de determinado problema de saúde”

Estes cuidados assumem a sua “relevância” à medida que “a doença vai evoluindo e os sintomas vão ficando cada vez mais intensos”. Durante todo este processo, os pontos-chave são, para Miguel Sousa, “o controlo de sintomas; a comunicação adequada com doente e família; o apoio à família, que se prolonga após a morte do doente com o acompanhamento no luto; e o trabalho em equipa”.

Os cuidados paliativos são “normalmente associados a pessoas mais velhas, com doenças terminais e quase sempre cancro, mas podem ser para todas as pessoas, independentemente da idade e doença, que tem de ser crónica, progressiva, irreversível e incurável. Com isto podem e devem beneficiar dos cuidados”, explica o enfermeiro.

Os sete anos de experiência no serviço de cuidados paliativos, mostram-lhe que os cuidados paliativos “fazem a diferença na vida dos doentes. Quanto mais cedo forem referenciados, melhor é a vivência dessa mesma doença e nós, profissionais, sentimos isso. Temos doentes que acompanhamos desde que iniciamos a consulta, em 2014, com os quais temos uma relação estabelecida e nota-se que ficam gratos e têm um carinho muito grande por nós”, confidencia.

Hoje, Miguel Sousa gosta do que faz e não se arrepende da escolha que fez. “Há dias que são mais fáceis e outros mais difíceis. Mesmo tentando não viver o sofrimento deles, há situações que nos tocam. Temos reuniões com as famílias que são pesadas do ponto de vista emocional e psicológico, mas tentamos que tenham os últimos dias com o melhor conforto possível”.

Este sábado, 8 de outubro, assinala-se o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos e para o enfermeiro são “datas importantes para chamar a atenção da comunidade”.