filipa pinheira cinfaes
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Com o crescente uso das novas tecnologias o mundo mudou. As pessoas comunicam entre si através das redes sociais, as empresas passaram a ter uma maior presença digital e também a forma de recrutar novos trabalhadores se alterou. Foi através do LinkedIn, uma rede social voltada para a parte profissional e de negócios, que Filipa Pinheiro mudou o rumo da sua vida e vive agora na Irlanda.

Foi em Cinfães que nasceu e cresceu, mas foi no Porto que fez o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, e onde trabalhou durante cerca de dois anos e meio, numa farmácia.

Recentemente, recebeu uma mensagem no LinkedIn que a surpreendeu. “Era de uma empresa de recursos humanos na área de farmácia comunitária e eu, inicialmente, até pensei: «Isto é uma brincadeira! Eu nunca iria para a Irlanda! Não, nem pensar”, conta.

No entanto, Filipa decidiu ouvir a proposta e concluiu que as condições nessa farmácia na Irlanda “eram muito superiores às condições de trabalho em Portugal”. E foi o namorado, Miguel, que a “incentivou a responder à mensagem”: “Ele é que me disse «Por que não?». Ele é a primeira pessoa que diz «Atira-te!», porque sabe o esforço que eu fazia antes mensalmente para conseguir estar a viver no Porto e a conseguir aguentar com todos os encargos em termos monetários no final do mês. Por isso, ele foi o primeiro a dizer, até porque ele também sempre quis ter uma experiência no estrangeiro, quer fosse meio ano, quer fosse um ano”, relata.

Como um dos requisitos era fazer um exame de inglês para entrar na ordem, frequentou um curso para se preparar e, “no prazo de quatro meses”, tinha “tudo pronto” e já estava a trabalhar em Carlow, na Irlanda.

“Foi tudo muito rápido. Basicamente, no meu primeiro mês aqui, consegui tratar de tudo o que seria necessário para viver como se estivesse aqui há anos”, afirma ao Jornal A VERDADE, referindo que já tinha “posto no ar” a ideia de emigrar um dia, mas que não era nada que tivesse “realmente ponderado”.

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“É um horário mais próximo do horário fixo e de horário empresarial; tu entras e sais e não levas trabalho para casa e tenho mais regalias quanto a fins de semana livres… o que também era uma coisa que acho que, quando somos jovens, temos a tendência a querer trabalhar o máximo possível, mas pensando a longo prazo, uma pessoa vai deixando de querer trabalhar aos domingos e começar a querer esses dias para família e para estar com os nossos amigos e com as pessoas com quem queremos estar sem ser apenas a trabalhar. E eles ofereciam esse tipo de regalias”, explica. A jovem refere que a sua profissão é das “melhores remuneradas” no país e que, “em termos de compras de mercearia, supermercado, os preços estão a ficar, vendo agora a inflação em Portugal, muito similares”, sendo mais cara a luz, internet e televisão, bem como as rendas das casas.

Quando deu a notícia aos pais, que foi preparando ao longo de todo este processo do curso, garante que “não foi complicado”. “A partir do momento em que lhes mostrei as condições de trabalho, a remuneração e as possibilidades que eu teria cá até de progressão de carreira, eles perceberam que, realmente, se eu algum dia quiser ter qualidade de vida, conseguir ter as minhas próprias coisas, uma casa, ou um carro, ou constituir família, ou se algum dia eu pensar em tal, em Portugal iria ser apenas possível se eu acumulasse créditos em cima de créditos. Porque é mesmo muito difícil a nossa geração conseguir ter rendimentos para conseguir ter a vida que os nossos pais têm e as mesmas condições que os nossos pais têm”, recorda. “Eles são as pessoas que me apoiam em tudo incondicionalmente. São uns pais maravilhosos e tenho muita sorte em ter uns pais assim”, comenta.

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Há pouco mais de um mês que Filipa Pinheiro está a viver na Irlanda. O namorado, que está a terminar o Mestrado em Ciências e Tecnologias Ambientais, chegou há cerca de uma semana e vai começar a procurar emprego no país.

Os dois já passavam “muito tempo juntos”, pois Miguel é da Maia e chegava a passar uma semana em casa de Filipa. “Já nos fomos habituando um ao outro e fazia todo sentido começarmos a viver juntos e é algo que nós ambicionávamos a curto prazo. Agora é diferente. Uma pessoa chega a casa e já tem com quem conversar acerca do dia, é diferente de estar a ligar a alguém, porque eu passava muito tempo ao telefone à noite, era quase uma hora com os meus pais, quase uma hora com ele. Ter alguém com quem contar e com quem partilhar os desafios do dia a dia é diferente”, sublinha, lembrando que “o primeiro mês foi um bocado complicado”, pois é “muito stress, muita burocracia para tratar”.

O objetivo, para já, é manterem-se na Irlanda. Daqui a, aproximadamente, três anos, há a possibilidade de Filipa Pinheiro “passar para o patamar superior profissional”. “Neste momento, a profissão de farmacêutico aqui está numa busca muito grande e com muitas ofertas em todas estas áreas. Presumo que daqui a poucos anos será, a médio prazo, fácil de conseguir fazer uma progressão rápida de carreira”, afirma.

“Apesar de também uma pessoa trabalhar muito – é um trabalho extenuante e é muita informação e tudo mais -, a profissão é mais regularizada cá, o que é bom nós sermos valorizados na nossa área. É sempre algo que nos traz muito alento para conseguir lidar com o dia a dia, mas, em termos monetários, aqui é bastante melhor. Por isso, voltar atrás seria um bocado complicado, mas não sei”, continua.

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“É muito triste ver um profissional com um curso superior, um mestrado ou um doutoramento a ter de ir embora do país porque o próprio país não lhe consegue dar as condições para que tenha possibilidade de ter um futuro tranquilo e ter qualidade de vida e conseguir construir aquilo que ambiciona. Mas, sinceramente, acho que as pessoas devem arriscar e eu vejo muito na minha profissão que há muita gente a querer arriscar e, sinceramente, por que não? Se não correr bem, voltamos atrás, porque, apesar de ser um bocadinho mais difícil encontrar emprego em Portugal, é possível”, declara.

“É experimentar, fazer, pelo menos, nem que seja meio ano à experiência, ver como é que corre. Se correr bem, tudo bem, ótimo, senão, voltar atrás porque as coisas vão se manter como estão. Acho que somos tão jovens, principalmente, agora com a esperança média de vida sempre a aumentar, com a idade da reforma sempre a aumentar. Temos tanto tempo para fazer mais e para experimentar outras culturas e outros países que acho que faz todo o sentido arriscar”, conclui.