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Marta Moreira cobre o mundo a partir dos EUA: "o fascínio pela profissão não se perdeu"

Redação

Marta Moreira teve um convite "único" quando saiu da universidade e sentiu que era o momento de "largar ou agarrar". Com vontade de "aprender" e fazer o "melhor" a nível jornalístico, a jovem lousadense aceitou o desafio, proposto pela Agência Lusa, e lançou-se sozinha para o Brasil, país que a desafiou e que "abriu horizontes". Uma decisão que abriu portas para o estrangeiro e, mais tarde, para os Estados Unidos da América.

Durante o ensino secundário, Marta Moreira começou a refletir sobre o seu gosto pela escrita e pela criação de histórias e decidiu que o jornalismo poderia ser uma área "capaz de combinar as suas competências académicas com as pessoais".

Consciente de que o jornalismo a faria "feliz", Marta Moreira licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa, no Porto, e fez um Mestrado em Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa. 

A experiência de Marta Moreira, enquanto jornalista em Portugal, foi curta. Enquanto estudava, realizou alguns estágio no Norte, mas mal terminou o mestrado a oportunidade "inesperada" surgiu. Não estava nos planos da lousadense, no entanto, considera que "as oportunidades são para serem agarradas" e, por isso, lançou-se para Brasília, a convite da Agência Lusa, onde foi desafiada a acompanhar as eleições e a cobrir o governo de Jair Bolsonaro. 

"Sabia que era um enorme desafio para uma jovem de 24 anos que acabava de concluir o seu percurso académico, mas aceitei e voei imediatamente para o Brasil. Sou uma pessoa que agarra as oportunidades quando elas surgem e soube logo que dificilmente uma oportunidade como esta voltaria a aparecer. É o chamado 'agora ou nunca'", conta.

Oportunidade aceite, Marta Moreira viveu três anos e meio de forma "intensa e desafiadora" a realidade brasileira, incluindo, a pandemia. Com a chegada do ano de 2022, foi novamente desafiada pela Agência Lusa, desta vez para trabalhar em Nova Iorque. À chegada viveu "o desafio" de cobrir a intensa política norte-americana e de ser a correspondente permanente da Lusa junto à ONU, num momento em que a Rússia tinha iniciado a invasão da Ucrânia.

Mas as mudanças não ficavam por aí, Marta Moreira dava novos passos no mundo do jornalismo televisivo e tornava-se na nova correspondente da SIC nos Estados Unidos da América. "É um cargo muito desafiador e muito solitário também, porque não tenho uma redação ou uma equipa a trabalhar comigo no terreno, mas é muito estimulante, porque me permite entrar na realidade de países totalmente diferentes e navegar entre vários temas, desde política, economia ou cultura", partilha.

Por não ter uma redação que a acompanha, Marta Moreira foi "obrigada" a "fazer mais com menos. Foi também um desafio ser capaz de entregar textos, áudios e vídeos sozinha, às vezes em condições adversas e até violentas, como o caso de manifestações com milhares de pessoas".

Marta Moreira é então correspondente internacional, o que significa lidar com os mais variados assuntos, seja na política, economia ou cultura. Atualmente, grande parte da sua agenda é dedicada "ao trabalho da ONU e às reuniões do Conselho de Segurança sobre vários conflitos ao redor do mundo - desde a Ucrânia a Gaza, passando pelo Sudão ou Haiti". 

Sem esquecer que os Estados Unidos da América são "um país muito importante no cenário internacional, por isso, todos os 'seus passos' acabam por ser alvo de interesse não só para Portugal, como para o resto do mundo". 

Embora esteja a viver um cenário "inesperado e intenso" desde o início da carreira, Marta Moreira confessa que "cabe ao jornalismo ser esta janela para o mundo, seja o cenário agradável ou não. Nem consigo imaginar o  que seria do mundo, o que seria das guerras, sem o olhar atento dos jornalistas" e, por isso, garante que "o fascínio pela profissão não se perdeu, muito pelo contrário". 

Com 2024 a aproximar-se, Marta Moreira está consciente de que "o calendário de trabalho será fortemente influenciado" pelas eleições presidenciais. "Começando pelas sondagens, convenções partidárias, eleições primárias, eventos de campanha, até, efetivamente, as eleições presidenciais, agendadas para novembro do próximo ano".

Transversal a todo o jornalismo, Marta Moreira fala de um "enorme desafio: as 'fake news. Acho também importante reforçar que o jornalismo atravessa um período muito difícil, com a propagação desenfreada de 'fake news' e com o avançar da inteligência artificial, em que tudo é facilmente manipulado, tornando cada vez mais difícil distinguir o que é verdadeiro ou falso. Em cenários de guerra, por exemplo, esse material falso circula com uma facilidade gigante nas redes sociais. Isto é um enorme desafio para o jornalismo, com grandes jornais a investirem em equipas especializadas em desvendar informação falsa. São novos e difíceis tempos para o jornalismo e há realmente um esforço por parte das redações e dos jornalistas em tentar entregar a verdade a quem nos vê, lê e ouve, e considero esse um trabalho fundamental em qualquer Democracia", destaca.

Todos os dias sente falta da "família, animais e amigos", no fundo, a "resposta universal" para quem está fora do país. "A componente humana, a componente familiar, é o que mais pesa".

Para cada fase há prioridades diferentes e Marta Moreira afirma que está "a dar total prioridade à carreira". No dia em que ponderar "alargar a família", a vida deverá levar a jovem de volta a Portugal. Por enquanto, tem ao seu lado o marido, também natural de Lousada, que mudou-se para junto da esposa há cerca de um ano.  

Ao fim de seis anos de trabalho no estrangeiro, Marta Moreira partilha que "neste momento é o que me vejo a fazer", mas revela que tem "uma mente bastante aberta e os pés bem assentes na terra, por isso, quando chegar o momento de regressar, analisarei os possíveis cenários e tentarei escolher o que for melhor para mim".

Enquanto não regressa à terra natal, Marta Moreira vai tendo um olhar sobre a realidade portuguesa. "É um olhar de preocupação e angústia por ver os meus amigos e colegas muito qualificados a nível académico, mas no desemprego ou com baixos salários que não os permite sair de casa dos pais; por ver toda uma geração com o futuro suspenso; por ver famílias a ter de escolher entre pagar uma renda ou um empréstimo ao banco ou proporcionar uma boa alimentação aos filhos;  por ver pessoas com a saúde a deteriorar-se diariamente e a não conseguir um atendimento médico rápido; por ver gerações inteiras a viver para o trabalho e a não conseguir ter dinheiro para umas férias", são algumas das angústias que enumera e que a deixam "apreensiva".

Assim, Marta Moreira deseja que "os portugueses vissem as suas carreiras progredir com bons salários e boas condições de trabalho, e não fossem 'empurrados' para o estrangeiro, onde, efetivamente, são mais valorizados". No entanto, realça que "não é um problema exclusivo de Portugal". Também por ruas nova-iorquinas, Marta Moreira ouve queixas sobre "a inflação e as elevadas rendas das casas. Por mais que mudemos de país, os problemas são muitas vezes semelhantes, com as sociedades a procurarem sempre as melhores respostas de quem as governa".

Marta Moreira acreditava que "este tipo de cargo só era acessível a jornalistas com vários anos de carreira", mas a vida mostrou-lhe que as oportunidades podem surgir e serem bem desempenhadas quando existe "vontade de aprender e de abraçar o desconhecido, sempre com o intuito de entregar os melhores resultados a nível jornalístico".