Há 12 anos, Marina Sousa conheceu pela primeira vez o pequeno Martim. Ali nasceram também as dúvidas de um possível problema, que se viria a confirmar depois de um exame: Trissomia 21.
Apesar das limitações do filho, as mesmas nunca foram motivo para que se colocasse em segundo plano. “Nunca tive de deixar de trabalhar para cuidar do meu filho. Independentemente do Martim ter T21 ou não ter qualquer patologia, tenho de ter a minha vida. O meu filho é muito importante na minha vida, mas não é mais importante do que eu”.
Martim nasceu, mas a vida “continuou a ser a mesma. Estive um mês de licença de maternidade e não quis mais. Comecei a trabalhar a meio tempo, porque o meu trabalho me dá essa vantagem. Três semanas depois do nascimento estava também a começar as aulas no mestrado. Não deixei de fazer nada”, recorda Marina Sousa.
Em entrevista ao Jornal A VERDADE, reconhece o “apoio fundamental” do pai de Martim e das avós maternas, que “ajudaram muito para que pudesse continuar a ter uma vida normal”.
Ser cuidadora ou mãe de um criança com T21 não implicou, para Marina Sousa, fazer uma mudança na sua rotina, mas é uma realidade que não é vivida por muitas outras. “Do meu ponto de vista é um erro. Deixamos de ter qualidade de vida, deixamos de cuidar de nós. Se eu não estiver bem, não vou estar bem para o meu filho. Tenho de cuidar de mim, ter o meu tempo, fazer o que gosto e ter a minha qualidade de vida social”.
Por isso, prescindir de tudo isso “nunca foi sequer uma hipótese”, afirma. Para Martim, a família procura “sempre o melhor”, mas para que isso aconteça é importante “continuar uma vida normal”.
Receber a notícia da T21 “não foi fácil”, mas ter ao seu lado “um super pai foi fundamental. É o meu pilar e acaba por ser a minha força”.
Seis meses após o nascimento do filho, foi-lhe diagnosticado um problema “ainda mais grave. Síndrome de West. Ainda não tinha recuperado da primeira e já me estavam a dar uma ainda mais grave. Nem sabia o que era. Lembro-me da minha mãe começar a chorar compulsivamente e eu não reagi. Perguntou-me se me estava a sentir bem e eu só lhe disse: ‘se o meu filho tem esta doença, vamos ter de lidar com a situação. É aceitar e seguir em frente. A única coisa que peço a Deus é que me dê capacidades para estar à altura do desafio e até agora tem-me dado”.
Apesar de todos os problemas e obstáculos que existem, Marina Sousa não tem dúvidas de que o ser humano “não tem qualquer controlo sobre a sua própria vida, a única coisa que pode controlar é a maneira como reage ao que acontece”. Por isso, para estar mãe, a solução passa por “aceitar e dar a volta por cima ou passamos a vida a lamentar e a deprimir, mas isso não resolve nada”.
Queixar-se numa foi opção, até porque “existem tantas outras pessoas com problemas muito mais graves e com situações mais difíceis. Não me posso queixar da minha vida, aliás todos os dias tenho milhões de motivos para agradecer por tudo e mais alguma coisa, principalmente pela força que me dá.
Marina Sousa considera-se uma pessoa “muito preocupada” com quem a rodeia e tenta “ajudar toda a gente, só não o faço se não puder, mas cuido de mim. Para estarmos bem para as pessoas que nos rodeiam e precisam de nós, temos de cuidar de nós. Se não o fizermos não vamos estar bem para nós, nem para ninguém. Cuidar da nossa saúde física, psíquica, emocional, é extremamente importante e é um trabalho diário”.
Esta é a sua “forma de estar na vida”, mas entende que “as pessoas não são todas iguais e as vidas, de cada um, também não”.