A jovem Maria João Santos, de Marco de Canaveses, sagrou-se campeã do Torneio Internacional de Padel no Catar, juntamente com uma dupla portuguesa, Gabriela Andrade.
As duas atletas representaram Portugal e a Arábia Saudita, país onde residem atualmente, e garantiram o título com os parciais de 6-2 e 7-6 (3) na final contra uma atleta egípcia e outra emirati.
Em entrevista ao Jornal A VERDADE, Maria João Santos, a "menina do Clube de Ténis do Marco" que tinha o sonho de ser tenista profissional, fala sobre esta conquista e o que a levou a começar a praticar Padel.

- Há quanto tempo é que pratica Padel?
Comecei a praticar padel em 2019, ainda em Portugal, com alguns amigos do ténis. Entretanto tive que parar em 2020 por causa da pandemia e dediquei-me exclusivamente à minha carreira profissional. Após mudar-me para a Arábia Saudita, senti a necessidade de voltar a ter uma motivação extra na minha vida e algo que me ajudasse a integrar mais facilmente aqui e, portanto, voltei a jogar padel muito recentemente, em março de 2023.
- Porque decidiu começar a praticar este desporto?
Como ex-jogadora de ténis, comecei a ver os meus amigos e antigos colegas de competição a juntarem-se ao Padel e estavam sempre a convidar-me para jogar com eles, uma vez que o Padel é um desporto bastante parecido com o ténis, portanto a transição de um desporto para o outro é facilitada.
- O que mais gosta neste desporto?
Para ser honesta é, sem dúvida, a comunidade. Senti uma grande diferença em relação ao mundo e ao ambiente envolvente da competição do ténis.
O Padel é um desporto que efetivamente une as pessoas, até porque o formato de duplas já é propício a isso. No entanto, mesmo para além disso, é possível ver as pessoas a construir relações e amizades dentro e fora do campo, as pessoas realmente socializam e é incrível ver como é um desporto capaz de conectar pessoas de diferentes origens, culturas e até mesmo contexto profissional, através do interesse pelo mesmo jogo.
Tenho que ser franca, a comunidade do Padel foi uma lufada de ar fresco para mim e, sem dúvida, um fator diferenciador na minha rotina na Arábia Saudita. Foi um dos fatores mais importantes para me ajudar a encarar e a superar a maior e mais arriscada mudança da minha vida com outro ânimo, coragem e confiança.
É impressionante o quanto as pessoas aqui estão realmente envolvidas e dispostas a ajudar e apoiar umas às outras. As mulheres são realmente gentis e cooperativas, estão sempre atentas e dispostas a ajudar os emigrantes e isso, no final do dia, faz toda a diferença. Até porque, no final, quem faz os lugares são sempre as pessoas. E eu estou muito grata por ter encontrado as pessoas certas, enquanto faço uma das coisas que mais gosto, que é praticar desporto!

- Acredita que a sua ligação ao tênis a ajudou no Padel? Porquê?
Sim, sem dúvida. Como já mencionei anteriormente, há várias amizades do ténis que acabei por reencontrar aqui no Padel. A transição de um desporto para o outro é facilitada, uma vez que o conceito dos dois jogos é similar. Para além disso, a disciplina, o espírito competitivo e a vontade de vencer que ganhei no ténis continuam firmes e são um dos maiores motores no meu dia-a-dia.
- De onde surgiu a oportunidade de representar Portugal a nível internacional?
O Padel no médio oriente está a ter uma evolução e exposição muito grandes e a busca por talentos internacionais está a ser intensa. No fundo, os locais procuram cada vez mais aprender e adquirir conhecimento através de nós, sem nunca perder a identidade e cultura deles claro.
Neste seguimento, eu e a minha parceira fomos convidadas pelo clube organizador do torneio a jogar este torneio internacional no Qatar, representando Portugal e Arábia Saudita ao mesmo tempo.
- Qual foi a sensação de perceber que tinha vencido o torneio?
Quando ganhamos o último ponto da final, eu e a minha parceira nem festejamos propriamente, porque acho que ficamos tão surpreendidas por ter ganho que não queríamos acreditar. Sinceramente, nunca imaginei que depois de um longo período sem competir estaria aqui, do outro lado do mundo, a levantar um troféu e contribuir para a evolução da participação feminina em eventos desportivos na região do GCC.
Na verdade, este torneio trouxe-me de volta à sensação de quando eu era tenista, à sensação de ter que me preparar e treinar com responsabilidade, dedicação e perseverança, à sensação única de estar de volta a competir dentro de um campo, à sensação de felicidade e dever cumprido ao final de cada jogo, à sensação de realização ao erguer o troféu. Mas, sem dúvida, que a sensação mais predominante é o orgulho e a responsabilidade que senti ao representar o meu país natal, Portugal, e agora o meu país de coração, Arábia Saudita, ao mesmo tempo num torneio internacional.

- O objetivo é continuar a representar Portugal? Porquê?
Sim, sem dúvida. Tenho muito orgulho nas minhas origens, não só do meu país, mas também da minha terra. E sei que parte do que sou devo-o muito às pessoas da minha terra, ao Marco de Canaveses, a Portugal.
É sempre com entusiasmo que, claro após ouvir o típico "Ronaldo? Siiiim", explico onde fica o meu país, mostro fotografias do nosso rio e parque fluvial do Tâmega e até já trouxe na mala um pouco do nosso Marco de Canaveses e dei a provar as nossas típicas fatias do Freixo! Eles adoraram!
Somos pequeninos, mas temos muito talento e dedicação para dar e, acima de tudo, temos um sentimento de comprometimento muito grande com todos os desafios que enfrentamos! E, no fim do dia, estes são os ingredientes principais para qualquer receita de sucesso.

- Uma mensagem final
Quem me conhece bem sabe o significado disto para aquela menina do Clube de Ténis do Marco que, há muito tempo atrás, sonhava ser tenista profissional e para, agora, a mulher que sou hoje e que ambiciona lutar por um mundo de igualdade. É um sentimento inigualável.
Admito que sei que estou a ter uma oportunidade única ao poder não só vivenciar, mas também estar na vanguarda desta transição cultural e ajudar as mulheres deste lado do mundo a terem mais e melhores condições no mundo do desporto.
Estou também a aproveitar e valorizar o momento que estou a viver. No entanto, quero mais e melhor e já estou aqui a preparar-me para competir novamente, até porque o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.