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Marco de Canaveses
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Marco de Canaveses: Património, Sabores e Natureza

José Sendas, arqueólogo/diretor científico: josesendas@protonmail.com

Redação

No coração do norte de Portugal, Marco de Canaveses é um destino que une passado e presente num mosaico vibrante de história, sabores e paisagens deslumbrantes. Aninhado entre rios e serras, a menos de 60 km do Aeroporto Francisco Sá Carneiro  que, em 2024, registou um tráfego superior a 15,9 milhões de passageiros, evidenciando a sua relevância como “hub” para os fluxos turísticos da Euro-região Galiza/Norte —, o concelho possui um elevado potencial para se afirmar como um modelo de turismo sustentável, conciliando o desenvolvimento económico com a preservação da sua identidade cultural.

A riqueza patrimonial do Marco reflete uma história milenar. Vestígios pré-históricos, romanos e medievais convivem no território, oferecendo aos visitantes uma viagem única pelo tempo. Esta herança, aliada às tradições culturais e gastronómicas, revela a profunda ligação da comunidade à sua terra. Pratos típicos, festividades locais e produtos regionais proporcionam experiências autênticas que celebram as raízes do concelho. A natureza é outro pilar deste território. Os vales dos rios Douro e Tâmega, as serras envolventes e áreas protegidas criam um cenário ideal para o ecoturismo e atividades ao ar livre. Trilhos, praias fluviais e paisagens intocadas convidam a explorar a beleza natural, reforçando o compromisso com a sustentabilidade ambiental e sociocultural.

Com o início de um novo ciclo político, o Marco de Canaveses enfrenta a oportunidade de consolidar o seu potencial turístico. O futuro passa por valorizar o património, diversificar a oferta turística e apoiar iniciativas que promovam inovação e a inclusão. Proteger o ambiente, incentivar o empreendedorismo e envolver a comunidade são passos essenciais para construir um concelho mais resiliente e atrativo, tanto para residentes como para visitantes.

Património Arqueológico e Arquitetónico

O concelho destaca-se pela sua excecional riqueza histórica e arqueológica, com vestígios que atravessam milénios, desde a Pré-História até à era moderna. Entre os seus tesouros patrimoniais, sobressai a cidade romana de Tongobriga, classificada como Monumento Nacional desde 1986.

Enquanto Conímbriga, visitada por mais de 135 mil pessoas em 2024, é o símbolo mais reconhecido da romanização em Portugal, Tongobriga tem o potencial para se afirmar como a referência da presença romana no norte do país — a sua singularidade, marcada pela adaptação do urbanismo romano a um território montanhoso e pela fusão com a cultura castreja, oferece uma narrativa única, capaz de atrair visitantes e consolidar o seu lugar como um destino cultural de relevo.

A ocupação antiga do território é ainda reforçada pelo património arquitetónico e religioso abundante, incluindo monumentos medievais que integram a Rota do Românico, oferecendo um vasto mosaico de história, cultura e natureza, cujo estudo, conservação e valorização são fundamentais para o desenvolvimento de sinergias de coesão social, com tomada de consciência duma história comum, alicerçada numa longa relação das comunidades locais com a sua paisagem. Paralelamente, também promoverá o desenvolvimento de economias locais sustentáveis, criando novos produtos culturais e valorizando os já́ existentes, incrementando o setor económico dedicado à exploração da fruição responsável do património cultural e natural.

https://visit.marcodecanaveses.pt/marco-tour/aldeia-do-freixo-cidade-romana-tongobriga

Gastronomia e Vinho Verde

À mesa do Marco, cada prato é uma celebração da identidade local. O anho assado com arroz de forno, iguaria de festas e encontros, simboliza a partilha e o afeto. Na doçaria, delícias como as Fatias do Freixo, Cavacas, Sopa Seca, Pão Podre e os “Cães do Marco” preservam tradições que encantam gerações.

O Vinho Verde assume o papel de embaixador da terra. Integrado na Região Demarcada criada em 1908, o Marco de Canaveses tem visto crescer o prestígio dos seus vinhos, agora celebrados na Rota dos Vinhos, onde vinte e quatro quintas abrem as suas portas ao visitante. Ali, cada copo é uma celebração da paisagem, da hospitalidade e da autenticidade que marcam este território.

A harmonia entre território, tradição e autenticidade distingue o Marco de Canaveses e cria novas oportunidades de valorização económica. A promoção e consolidação dos vinhos verdes do Marco é determinante para assegurar a continuidade deste legado, preservando o equilíbrio entre inovação e identidade. No panorama internacional, o Vinho Verde tem vindo a conquistar crescente reconhecimento e procura, reforçando o seu papel estratégico nas exportações, podendo ajudar a projetar o nome do Marco de Canaveses no mapa global da viticultura.

https://visit.marcodecanaveses.pt/experiences/rotas-enogastronomicas/rota-dos-vinhos-do-marco-de-canaveses

Natureza

A paisagem do Marco de Canaveses é marcada pela beleza dos seus rios e serras. O Douro, reconhecido como Património Mundial pela UNESCO, recebeu 1,37 milhões de visitantes em 2024. Com cais estratégicos e proximidade a esta rota, o concelho pode aproveitar esse fluxo turístico, oferecendo roteiros que combinem quintas vinícolas, aldeias tradicionais, património cultural e natural, reforçando seu estatuto como destino de excelência.

O rio Tâmega e seus afluentes proporcionam opções serenas para os amantes da natureza, oferecendo um cenário ideal para atividades ao ar livre. A Serra da Aboboreira, classificada como Paisagem Protegida Regional, destaca-se como um santuário de biodiversidade e história, perfeito para trilhos pedestres, ecoturismo e programas educativos. É crucial capitalizar este potencial, integrando-o com os demais patrimónios para criar uma experiência turística única, sustentável e enriquecedora.

https://aboboreira.douroetamega.pt/galeriaimage_gallery_detail_27_image_gallery_id=alto-da-serrinha

Desafios e Oportunidades

Para que o Marco de Canaveses se consolide como um destino turístico de referência, é essencial transformar ambições em resultados concretos, valorizando o seu rico património cultural, natural e económico. As prioridades incluem:

  • Desenvolvimento de estudos / projetos para a conservação e valorização de sítios estratégicos do território, promovendo condições adequadas para visitação.

  • Desenvolver sinalização multilingue e acessível, complementada por painéis interpretativos que destaquem a singularidade do património; integrar os pontos turísticos do concelho nas rotas promovidas pela CCDR Norte e Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte, ampliando a visibilidade e atraindo visitantes de outras regiões.

  • Produção de roteiros turísticos integrados, coerentes e inovadores, acompanhados de material de apoio de qualidade, aliados à realização de eventos culturais de excelência, capazes de atrair fluxos turísticos significativos e mensuráveis.

  • Investir em centros de acolhimento de visitantes modernos e atrativos, num sistema de transporte público eficiente, na manutenção de trilhos pedestres em excelentes condições e na criação de ciclovias seguras, assegurando uma experiência turística fluida, sustentável e inesquecível.

  • Estabelecer programas regulares com escolas, universidades e operadores turísticos, promovendo visitas temáticas, estágios académicos e roteiros educativos focados no património local.

Com uma abordagem integrada, que combine investimento em infraestruturas, promoção criativa e envolvimento da comunidade, o Marco de Canaveses tem o potencial para se afirmar como um destino turístico vibrante e sustentável. A colaboração entre autarquias, entidades regionais, empresas e cidadãos será a chave para transformar este potencial em realidade.

Marco de Canaveses oferece já hoje uma experiência irresistível; cabe-nos transformá-la num destino de excelência para as próximas gerações.

Nota biográfica: José Sendas é licenciado em História, com especialização em Arqueologia (2006), pela Universidade do Minho, onde também concluiu o Mestrado em Arqueologia (2010). Entre 2007 e 2010 desempenhou funções de arqueólogo co- responsável de diversos projetos na Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho. Desde 2011, desempenha funções de diretor científico na empresa Arqueologia e Património, liderando numerosas intervenções e projetos arqueológicos. No âmbito da museologia, contribuiu decisivamente para a conceção e produção do Núcleo Arqueológico da Porta dos Figos, em Lamego, e foi responsável pela criação, desenvolvimento e execução do Núcleo Expositivo do Elevador da Sé, em Lisboa. Atualmente, para além de coordenar múltiplas intervenções arqueológicas, dedica-se a iniciativas de valorização e preservação do património cultural.