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Há poucos anos que Isabel Ribeiro se dedica à arte de trabalhar a palha de Vila Boa de Quires, em Marco de Canaveses, mas o seu objetivo é não deixar morrer esta tradição centenária e até implementar alguma inovação nas peças que são feitas.

Acredita que é preciso “paciência” para se dedicar a este trabalho, pois “não se aprende a fazer a trança num dia, é muito complicado” e existem vários tipos. O processo passa por corar a palha, cortá-la, escolhê-la, fazer a trança e depois é que é produzido. “Não conseguimos fazer tudo num dia, é com vários processos. O centeio tem de ser semeado e fica meio ano no campo e depois é que é cortado e a palha tem de ser cortada na altura certa, não pode estar o centeio maduro”, explica.

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Tudo isso aprendeu maioritariamente com a cunhada e outra senhora que conhece, mas a tradição também está muito presente na sua família, nomeadamente através dos sogros, que vendiam nas romarias chapéus de palha e outras peças feitas com este tipo de palha. “A minha filha mais velha já aprendeu a fazer com o meu sogro. O meu sogro tem 80 e tal anos e ainda faz tranças. Ficou feliz por estarmos a continuar uma coisa que eles fizeram”, confessa.

Foi há cerca de cinco anos que Isabel Ribeiro, nas suas horas livres do trabalho como cozinheira, passou a dedicar-se a trabalhar a palha de centeio. “Comecei isto há pouco tempo. Começaram na nossa freguesia umas feirinhas de couves, de batatas, do que a gente tivesse em casa e eu, como não tinha assim nada disso, tinha muitas laranjas e limões e pensei, então, em fazer licores e surgiu-me, como tenho raízes da família na palha, enfeitar a garrafinha com um chapéuzinho pequenino e um cestinho e daí começou o meu bichinho”, recorda.

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Isabel Ribeiro começou por tentar fazer a tradicional trança e pretende sempre dar um toque de inovação com outras ideias de peças além do chapéu e das cestas, passando por enfeites para jarras, quadros de parede. “Não tenho aquela prática, mas já consigo atingir o que quero. Já me sinto felizarda porque já estou a conseguir fazer chapéus, cestas, algumas coisas e acho muito interessante”, comenta.

Outra aspeto que motivou a artesã foi “ver que isto está a morrer, que só há três ou quatro mulheres já com idade em Vila Boa de Quires que fazem isso e mesmo elas já estão a ficar muito velhinhas”. Contudo, sublinha que foi incentivada a fazer parte dos Artesãos do Marco, que está “a apoiar muito”, juntamente com a câmara municipal, esta arte com a realização de iniciativas e workshops com os mais novos.

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Também a sobrinha de Isabel Ribeiro está “a ficar entusiasmada” com aprender mais sobre esta tradição. “É bom. A gente começa e vai puxando outros, porque se a gente for conseguindo puxar mais novos – claro que a tradição e o empenho e ver aquelas pessoas de idade, velhinhas, a fazer aquela trança, que eles nem olham para os dedos é uma coisa que nos enche – a querer fazer é o que a gente está a propor às pessoas para não deixar morrer. Se não houver novos a levar isto à frente acaba mesmo por morrer”, completa.