A tradicional Feira de São Martinho de Penafiel abriu ‘portas’ esta sexta-feira, 8 de novembro, e foram já muitos os curiosos que se deslocaram até lá para voltarem a reviver uma tradição secular e característica do concelho.
Mesmo perto da entrada da tenda da prova dos vinhos encontramos Fátima Sousa e Ana Cardoso, mãe e filha, que recebem os clientes sempre com um sorriso no rosto. A mãe de 55 anos está na área desde que a filha de 21 anos nasceu e tudo começou “num brincadeira” com o marido. “Virei-me para o meu homem e disse ‘e se fôssemos fazer o São Martinho?’ Ele disse ‘és tolinha, achas que eu vou para lá?’ Eu disse ‘não vais tu, vou eu'”.
E assim foi, o marido levou-a até ao local onde iria ficar a vender e Fátima começou “logo” a trabalhar. “Ele já não foi embora”, recorda. Desde então continuou “sempre” e só não cumpriu a tradição em 2013, o ano que perdeu o marido, Luís Fernando, mais conhecido por Luís “Crispim”, o assador de castanhas. Nome que têm gravado no casaco que as protege dos dias mais frios. “Estar aqui, de certa forma, acaba por ser uma homenagem, porque ele gostava disto”, diz-nos a esposa.
O pai tinha “orgulho” em ver os quatros filhos a ajudar e a continuar a tradição. Ana não teve “como fugir”, mas gosta de “estar na feira” e não se sente “obrigada” a fazê-lo. “Ela tirou férias no trabalho só para estar aqui”, dizia a mãe orgulhosa.
“Já são muitos anos nisto”
Nesta família a castanha é “boa e de confiança” e para ser boa “tem que ser média”, porque “se for muito grande acabam por não assar por dentro nestas panelas de barro. Se for naqueles carro de alumínio é diferente. Nestas panelas não pode ser muito graúda porque senão depois fica crua no meio“, explica Fátima Sousa.
A penafidelense “nunca tinha trabalhado na área” e “não tinha ninguém na família que o tivesse feito”, mas foi “apreendendo. Se calhar as primeiras ficaram queimadas, mas depois foi-se melhorando. Já são muitos anos nisto”.
Fátima trabalhava numa empresa têxtil e Luís na construção civil, trabalhos que “não têm nada a ver”, mas a vendedora não se arrepende da escolha. “É diferente. Aqui estou ao ar livre, falo com as pessoas, conheço muita gente, ganhamos novos amigos … há clientes que vêm sempre aqui. São quase amigos, Há pessoas que nos procuram e se não estivermos num lado, vão ver onde é que a gente anda”, diz a mãe, que acompanhou as mudanças do negócio ao longo dos anos. “Antigamente não tínhamos estas barracas. Era diferente, um guarda-sol e um plástico por cima e estava ‘a andar de bicicleta’. Mas, agora, estamos mais confortáveis“.
“Os espanhóis gostam da castanha assim no barro”
Fátima Sousa garante que “as pessoas continuam a manter a tradição” e, apesar de “reclamar um bocadinho do preço compram. Em vez de comprarem um quarteirão compram uma dúzia. Há pessoas que comprem só para não deixar que a tradição acabe. E não comer castanhas nesta altura é estranho“, diz a filha.
A Feira de São Martinho de Penafiel atrai milhares de visitantes, durante o mês de novembro, de Norte a Sul do país, mas também do outro lado da fronteira. Esta família vende a castanha a “muitos estrangeiros”, principalmente espanhóis, que “gostam da castanha assada no barro. Eles têm muitos castanheiros, mas não sei se fazem desta forma. É diferente. No fim de semana tive a vender em frente à câmara municipal, onde eu fico quando não há esta feira, e chegaram lá espanhóis e disseram ‘é engraçado, porque nós lá compramos naqueles carros de alumínio’. Mas é diferente, o sabor é totalmente diferente”, garante Fátima.
Esta família quer continuar a “homenagear” Luís Crispim “enquanto der” e espera que os próximos dias “tenham muita gente. A dia 20 estamos aqui, podem contar connosco. Esperemos que venha frio, porque a castanha é boa com o frio”.