kirkma imigrante marco
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No início deste ano, Kirkma Mark, de 47 anos, decidiu fazer as malas e partir com os três filhos para a segunda emigração. O destino foi Marco de Canaveses, mais precisamente em S. Lourenço do Douro. As políticas na Venezuela ‘obrigaram-na’ a sair do país e a procurar um lugar “com mais segurança”.

Trabalhava por conta própria, tinha dois spas, mas o Governo “não dava as condições necessárias”, recorda a venezuela, que se viu forçada a fechar as portas do negócio. Sozinha, com os filhos ao encargo e “sem qualquer apoio”, vendeu “tudo o que tinha” e decidiu ir para “um país onde toda a gente estava a ir”: o Peru. Foi “bastante difícil, porque há muita discriminação” e os filhos “perderam praticamente três anos de estudo”. Kirkma tinha “muitos trabalhos, mas o salário não era respeitado”.

Esteve naquele país durante seis anos e regressou à Venezuela. Com a morte da mãe decidiu voltar a fazer as malas e, desta vez, Portugal foi a escolha desta família. Foi “muito bem recebida” pela população e pelo CLAIM (Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes) que a ajudou “em várias ocasiões. A qualidade de vida melhorou muito em comparação com o que vivia no Peru”, garante.

A vida em Marco de Canaveses começou “numa casa de freiras, era a única coisa disponível. Todo o dinheiro que tinha foi para lá”. Depois, na mudança, contou a ajuda de Judite Freitas, do CAERUS, que foi “um anjo e uma benção”.

Desde que chegou, Kirkma ainda não conseguiu “um trabalho fixo”. Afirma não ter vindo para “incomodar”, mas sim para “trabalhar. Trouxe dinheiro para os primeiros tempos e não quero que me deem nada. Se estiver a trabalhar, sou a pessoa mais feliz do mundo”, diz com orgulho.

A venezuelana quer contrariar o preconceito que existe em torno da imigração e, no seu caso, diz ter aprendido que “tudo se ganha a trabalhar. Faço-o desde os 14 anos e não tinha necessidade. Comprei o meu primeiro carro aos 17 e a minha primeira casa aos 26. Tudo com o meu trabalho”.

Em Portugal desde fevereiro, Kirkma já conseguiu alugar uma casa, diz “não estar a roubar nada” e, assim que conseguir um trabalho fixo, não precisa que lhe levem “mais comida. Prefiro que a levem a quem precisa. Sei que existem pessoas que precisam e não têm a oportunidade”.

Atualmente, trabalha em casa de idosos três vezes por semana e faz limpezas. “Não é grande coisa”, mas é o que pode “fazer agora por causa da documentação”. Até agora, não conheceu “más pessoas” e sente-se “feliz” desde que chegou a Portugal. “Os meus dois filhos são muito acarinhados na escola e não querem voltar para a Venezuela”.

No que diz respeito ao CLAIM, Kirkma reconhece que tem sido “uma boa ajuda. Não há ninguém melhor que este serviço para nos ajudar e orientar. Com o apoio das técnicas sinto-me mais tranquila”. A “mãe-galinha” que vive com os três filhos – de 21, 12 e 11 anos – um deles com autismo. “Neste momento, não tem terapias, mas já o pedi na escola. Estão na Escola de Sande e foram muito bem recebidos. Estou muito grata”.

A venezuelana vê Portugal como “um país seguro” e onde os filhos conseguem ser “crianças normais”.