Em 2019, Kaik Miguel tinha 14 anos e preparava-se para atravessar o atlântico e iniciar uma nova vida num país “mais seguro e calmo, com sistema de educação e de saúde superior” ao do Brasil.
Agora com 20 anos, o jovem brasileiro garante “estar a gostar” de viver em Portugal, onde sabe que tem “oportunidades que não teria no Brasil”.
Kaik Miguel foi o melhor aluno do Curso Profissional de Mecatrónica, do Agrupamento de Escolas Joaquim de Araújo, em Penafiel, terminando a formação com uma média final de 18 valores.
Confessa que sempre gostou “da parte tecnológica”, principalmente de robótica. “Sempre gostei de construir coisas do zero. Nesta área fascina-me a variedade de assuntos interligados“, diz o jovem que optou seguir a formação num Curso técnico superior profissional – CTeSP. Profissionalmente, imagina-se a “participar em projetos de ‘construção’ de software, páginas. É o que gosto”, confessa.
Adepto de “manter uma vida social ativa”, quando assim é possível, na procura de “aliviar e distrair a cabeça” e estar “somente na natureza e longe de tecnologias”, Kaik Miguel acredita fazer parte de uma geração que, “de um modo geral”, está preparada para os desafios atuais do mercado de trabalho. “É uma geração mais académica, com mais diplomas, temos mais preparação teórica. Todavia perdemos alguns traços de criatividade e espontaneidade na prática”.
“Este não é nosso país e não podemos fazer desordem”
São cada vez mais os brasileiros que procuram Portugal para viver uma vida com maior segurança e tranquilidade, tal como a família de Kaik Miguel o fez. Seguiram-se alguns familiares, “dois primos”. O jovem brasileiro reconhece que existem vários “pontos de vista” sobre a emigração. Por um lado, “os brasileiros procuram um lugar onde possam conquistar coisas e ter oportunidades de melhoria na qualidade de vida que não têm no próprio país“.
Por outro lado, Kaik Miguel reconhece, também, que “o povo português tem, não só a razão, como o direito, de se impor ao financiamento do Governo para pessoas que não precisam, mas sim se vitimizam. Nós, brasileiros, temos de entender que este não é nosso país e não podemos fazer desordem. Existem regras, leis e uma cultura a ser seguida e respeitada”, sublinha.
Aos outros jovens, o brasileiro aconselha a que “aproveitem a oportunidade que têm. Vindo de um país um pouco menos desenvolvido, reconheço que não é todo mundo que tem um ensino de valor igual ao vosso. Sei que não é o melhor do mundo, mas muitos gostariam de ter algo semelhante. Então, aproveitem”.
Quanto ao ensino profissional e aos estereótipos a ele, ainda, associados, Kaik Miguel considera que “a mentalidade de que os cursos profissionais são para ‘fracassados que não querem nada da vida’ é um tanto arcaico“, Acredita que “falta um pouco de financiamento” que resulte num bom aproveitamento “de todos os aspetos dos cursos, muitas escolas sofrem por falta de material adequado para preparar melhor os alunos”, diz ainda.
O futuro será “igual a muitos jovens portugueses. É cada vez mais difícil ter independência, os salários são baixos e custo de vida alto. Acho que em determinado tempo penso em trabalhar fora”, diz-nos Kaik Miguel.