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Este ano, José Ferreira tornou-se professor efetivo de português e inglês na Escola EB 2,3 de Alpendorada, em Marco de Canaveses, ao fim de 21 anos de carreira.

Quando José Ferreira ainda era jovem tinha em mente “escapar” da profissão da família que são “feirantes de gerações e gerações”. Apesar desse desejo admite que “passou-me pela cabeça continuar, não havia uma rejeição completa à profissão”, mas o seu “plano de emergência” acabou por se tornar real no ano de 1996 quando foi estudar para Viana do Castelo.

O professor acabou por escolher um emprego “mais confortável”. Inicialmente, entrar no mundo da educação surgiu pela “apetência para as disciplinas”, mas transformou-se “devagarinho e depois a toda a velocidade naquilo que eu mais gosto de fazer”, conta.

Atualmente, com 45 anos ainda se levanta “com vontade de trabalhar” no dia a dia, mas confessa que o desejo é “menos do que antigamente, mas ainda me sinto realizado”.

Antes de se fixar na escola de Alpendorada, José Ferreira trabalhou por terras asiáticas e açorianas. “Sou natural de Barcelos, estudei em Braga, depois Viana do Castelo”, mas quando chegou a hora de dar aulas pela primeira vez o destino foi Timor-Leste. O docente explica que “não foi um acaso, conhecia um amigo timorense”, após algum tempo regressou a Portugal, acabando por se fixar durante três anos nos Açores que admite ter sido uma “experiência positiva como professor do primeiro ciclo”.

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Foto: Jornal A VERDADE

Ao fim de alguns anos, chegou a Alpendorada, a casa que “escolheu”, mas, mais uma vez, o percurso foi de pouca estabilidade, já que andou de escola em escola, entre Alpendorada, Penafiel, São Pedro da Cova e Valongo. “A carreira de um professor é bastante volátil, eu dou aulas em Alpendorada há muito tempo, mas não seguido, foram precisos 20 anos para efetivar”, partilha.

Após descrever o percurso em conversa com o Jornal A VERDADE acabou por concluir, entre risos, que “não sou de lado nenhum”. Atualmente, reside em Rio Tinto e realiza oitenta quilómetros diariamente até ao seu local de trabalho, que considera ser a “segunda família e casa”.

Após uma reflexão sobre o seu percurso profissional, José Ferreira destaca as “deslocações, mudanças de condições de trabalho e dificuldades na estabilidade da carreira” como as principais causas do seu descontentamento e acredita que a solução passa pela “união”, nomeadamente, a “união dos sindicatos”, que lamenta não existir.

Após enumerar algumas dificuldades, dá como exemplo o trabalho burocrático que tem realizado, mas que considera “não ser uma competência que deveria estar a fazer” e que acaba por “atrapalhar o trabalho com as crianças”.

Mesmo assim garante que fazer greve é uma “espécie de responsabilidade moral” e uma escolha, desta forma, José Ferreira afirma convicto que “quando me perguntarem onde é que estava em 2022 nestes dias, eu vou dizer que escolhi fazer greve. Essa é a minha postura”.

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Foto: Jornal A VERDADE

José Ferreira admite que trabalha “por gosto. Eu faço de tudo pelos alunos, a nossa vida é toda ela uma história enorme de episódios com eles” e que, por enquanto, ainda se diverte no trabalho.

No entanto, acredita que é o gosto pela profissão que faz os governos “abusarem dos docentes. É altura de nos unirmos porque eles acham que podem fazer o que quiserem porque nós gostamos mesmo disto e não fazemos outra coisa, mas acho que tudo tem um limite”. Terminando por dizer que “chegou a hora de mostrar que os professores têm sido desvalorizados o suficiente”.

No fundo, José Ferreira destaca que o “elo comum a tudo isto são os alunos, porque eu preciso dos alunos e eles de mim, os pais precisam de mim e eu deles, o mesmo acontece com a direção” e garante que quando faz greve “também é pelos seus estudantes”.

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Foto: Jornal A VERDADE