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José Costa sagrou-se campeão mundial depois do funeral do pai: "Disse-lhe que ia vencer e assim foi"

Redação

No dia 2 de agosto José Costa vivia, certamente, um momento marcante com a conquista do título de campeão mundial de stick-fighting, na Polónia.

Há alguns anos que o GNR, natural de Paredes, faz parte da seleção nacional da modalidade de luta com bastão, que começou a praticar em 2016. "O selecionador nacional é meu camarada de serviço e foi campeão mundial em 2016. Fui convidado pelo Comandante da Unidade a formar uma equipa de militares e aceitei o convite", recorda o paredense de 46 anos, que atualmente vive em Lisboa por motivos profissionais (presta serviço na Unidade de Intervenção da GNR).

Os prémios já não são uma novidade para José Costa. Em 2018, sagrou-se vice-campeão do mundo, no campeonato realizado em Portugal e, em 2019, foi vice-campeão da Europa, em Roma, Itália (Anagni). Mas em nenhum deles viveu um momento "tão difícil" como o que viveu na Polónia.

Estava no campeonato do mundo, pronto para uma prova para a qual se tinha preparado "muito", quando recebeu a notícia da morte do pai, no dia 31 de julho. "A minha irmã ligou-me. Recordo-me, perfeitamente, que o selecionador marcou um alongamento para esse dia, antes de irmos para a inauguração. Quando vi o número dela não queira atender. Sentei-me e chorei durante duas horas, porque ainda estávamos num tempo de intervalo. Pensei vou perder tudo isto tudo num dia", recorda.

O paredense não esconde que estava "no auge da forma física" e, por isso, tinha a "certeza absoluta de que tinha de dar tudo o que tinha e não tinha" naquela prova.

Tentou esconder a dor dos colegas, porque são "um grupo muito unido" e sabia que "os ia afetar", mas "não podia esconder mais e disse ao selecionador 'é humanamente impossível eu poder ficar cá. Despedir-me da pessoa que me deu vida era o mínimo que eu podia fazer".

José Costa recorda, com carinho, o pai que o apoiava e que "dizia sempre tudo com poucas palavras. Dizia-me vai, faz isso. Era uma geração, e eu sempre compreendi perfeitamente, que não demonstra os sentimentos por palavras. Eu olhava para ele e sem me dizer nada eu sentia que ele estava orgulhoso do que eu tinha conseguido. Um conquistar de coisas que ele nunca tinha conseguido e talvez, se projetasse-se em mim".

Um orgulho que, juntamente com o apoio da família, o fez continuar a lutar pelo título. "Disseram-me que não podia desistir do sonho, pelo qual tinha lutado tanto". A verdade é que interrompeu a competição mundial para ir ao funeral do pai e regressou um dia depois. "Eu tinha de me despedir, mas não encontrava solução, porque o mundial estava no início, a cerimónia já tinha acontecido".

Em conversa com o cunhado percebeu que havia "uma luz de esperança", a mesma que "todos os dias" tenta passar a quem o rodeia e "havendo uma luz de esperança há sempre alguma coisa a fazer". Falou com o selecionador e a organização acedeu a uma situação "excecional. Isto foi na quarta-feira de manhã, dia do funeral. Disse 'vou hoje e regresso amanhã'. E assim foi".

Na despedida do pai, o GNR de Paredes disse-lhe que "ia conseguir, por ele e pela família", mas ficou o sentido de "culpa. Despedi-me dele, para regressar e a família precisava de mim. Mas estavam todos do meu lado e diziam-me para não desistir. Eu nunca estive sozinho. O combate é um momento solitário, mas eu transporto dentro de mim o amor que me dão e tinha todos dentro de mim naquele momento. Assim como as palavras do meu filho, que me disse 'ensinaste-me a nunca desistir, tu não vais poder desistir pai'. Pensei 'vou ter de fazer isto' e foi".

Com o adversário à frente e o árbitro a ditar as regras, o pensamento estava nas palavras memorizadas de "todas as pessoas que apoiaram, os colegas de seleção, de profissão da esposa e dos filhos. Pensava, também, os campeões fazem-se nos momentos de dificuldades, nascem dos momentos sombrios, mas estava completamente de rastos e, fisicamente, sem capacidade. Pousei o pé direito no ringue e não tinham mobilidade por causa do desgaste dos voos e de não ter dormido, mas pensei que tinha de encontrar forças. Visualizei os treinos, as palavras e o amor todo que transportei foi colocado ali. Disse ao meu pai que ia vencer e e assim foi".

Quinze dias antes de embarcar na aventura, José Costa tinha visitado pai e disse-lhe "ao ouvido" que ia participar no campeonato do mundo. "Ele sorriu com os olhos", recorda. Depois da vitória deu um grito de "desespero. Os colegas estavam todos a chorar, porque sabiam o que me tinha acontecido. Foi uma descarga, um grito de revolta. Por que tive de sofrer tanto num momento tão feliz da minha vida e não pude saborear por completo?".

Num momento "feliz", mas ao mesmo tempo "triste", o GNR garante que a vitória foi dada pelo "coração. Eu sentia a fraqueza nos músculos todos, mas o coração a empurrar-me e a equipa a puxar por mim. Eu fiz aquilo a que me tinha proposto, mas não queria acreditar que tinha conseguido".

Estava entre "os melhores atletas do mundo", depois de uma "preparação foi muito sofrida" e sem descurar a vida pessoal. "Depois de cada treino tinha de ser um militar competente, um pai competente, um marido competente, portanto todas essas tarefas. Foram dois anos de muito sofrimento, com várias lesões".

Mas José Costa acredita que "tudo na vida acontece por alguma razão" e vê na perda do pai "uma oportunidade nova para saborear a vida, mais uma lição de vida e que existe sempre a possibilidade de um início novo".

Ao pai está "muito grato" por "tudo o que ele fez. Há sempre um novo começo para conseguir alcançar seja o que for na vida. É na sombra que aparece o crescimento e vou transportar isto comigo a minha vida toda".

Nesta caminhada José Costa contou "sempre" com o apoio da Guarda Nacional Republicana.