A Associação Profissional dos Trabalhadores de Pedreiras reúne, atualmente, 223 associados.
Jorge Soares dedicou a vida profissional ao setor da pedra, primeiro, como trabalhador, e depois, como um dos impulsionadores da Associação Profissional dos Trabalhadores de Pedreiras. À semelhança de outros profissionais, a carreira de Jorge Soares foi relativamente curta ou, pelo menos, terminou antes do tempo estimado. A queda de uma giratória provocou fraturas na coluna e impediu-o de continuar a trabalhar.
Jorge Soares vestiu a pele de pedreiro durante quase 30 anos e, embora o acidente que sofreu, não quis abandonar o setor. "Os trabalhadores precisam deste apoio. Queremos proteger e lutar pelos direitos e deveres dos pedreiros", explica. A luta começou em 2016, ainda Jorge Soares não era reformado. Três anos mais tarde, em abril de 2019, foi possível criar a associação, através do Bloco de Esquerda, e classificar o setor da pedra como "uma profissão de desgaste rápido para os pedreiros". Em entrevista ao Jornal A VERDADE, admite que a lesão incentivou-o "a levar a associação para a frente, de forma a ajudar pedreiros que estejam na mesma situação".
Em conjunto com os restantes associados, Jorge Soares descreve esta arte como "muito dura e de desgaste rápido. Apanhamos sol, chuva, poeiras" e, por isso, é preciso "encontrar soluções para dar respostas mais eficazes".
Do lado da entidade patronal, a associação nota uma "melhoria na preocupação com os funcionários. Os patrões estão a ficar cientes e estão a criar formas de não haver tanto risco de acidente, porque os acidentes, muitas vezes, acontecem por um excesso de confiança". Um fator que deve ser, igualmente, tido em conta pelos próprios pedreiros. "Ainda existem trabalhadores que não usam os equipamentos de proteção, mesmo quando estes são oferecidos".
Neste âmbito, a associação tem procurado realizar palestras para "sensibilizar os trabalhadores para os cuidados que devem ter, de forma a evitar acidentes e lesões". No entanto, também admitem que "existe equipamento inadequado. Há máscaras que não são adequadas para proteger do pó e temos muita gente na casa dos 50 anos que faz bombas de oxigénio".

Embora o esforço que se tem feito dentro do setor, Jorge Soares fala de uma "queda. Estão a ser suspendidas algumas encomendas e depois não há pessoas jovens que queiram vir para esta arte". Mas para contrariar este fenómeno, está convicto de que "os ordenados têm que incentivar, porque se não os jovens vão preferir ir para uma caixa de supermercado do que para uma pedreira porque é sempre sujo, tem ruído, poeiras, e é desgastante, passam 10/15 toneladas por dia nas mãos".
Fruto da falta de respostas, Jorge Soares descreve um cenário em que se recorre a maquinaria e mão de obra estrangeira. "As entidades patronais estão a recorrer a mais maquinaria porque falta mão de obra e a recorrer a quem vem de outros países". No entanto, é da opinião de que "a mão de obra portuguesa é da melhor que há. Pegamos em qualquer coisa. Não estou a discriminar ninguém, mas para esta arte nem todos estão capacitados porque não estão habituados".
"Mudar a mentalidade em Portugal" é um princípio que a associação defende. "O que não queremos para nós, não devemos querer para os outros. Tem de haver uma reeducação dos funcionários e da entidade patronal". Para quem começou esta jornada cedo, trabalhar numa pedreira era sinónimo de "não chegar à idade normal da reforma" e de contrair "problemas de saúde, tais como, tuberculose, silicose, fibrose e nódulos".
Jorge Soares reitera que "estamos a caminhar para melhor, mas ainda há muito para fazer, porque há patrões e patrões, alguns não querem saber dos trabalhadores, querem é produção e não pode ser assim. Por isso é que estamos a debater com as entidades patronais sobre a higiene e a segurança nas pedreiras", realça.
Nos próximos tempos, a associação espera colocar as juntas médicas das doenças profissionais para dar resposta à região e, sobretudo, aos concelhos de Penafiel e Marco de Canaveses, as zonas mais afetadas pela tuberculose a nível da União Europeia.
Os fundadores da associação quiseram não só dar voz ao seu concelho e a cidades vizinhas, como "acolher" todos os pedreiros do país e, por isso, continuam, dia após dia, a "lutar" por este setor.
