O ano de 2025 não podia ter começado da melhor maneira para João Ribeiro, um celoricense que integrou equipa técnica da Overdrive Racing, vencedora da 47.ª edição do Rally Dakar 202.
Recém chegado da Arábia Saudita, João Ribeiro nunca pensou “ser tão bem recebido pelos celoricenses e por outras pessoas. Felizmente, já ganhei outros eventos, a nível mundial, mas nunca como o Dakar. Quando fiz a publicação da vitória foi um ‘boom’ de comentários, uma coisa espetacular”.
Este é o segundo ano na Overdrive Racing, tendo já estado presente, em 2024, no Rali de Marrocos, em Portugal e no Mundial de Bajas (Grândola). Fazer parte da equipa vencedora foi “espetacular e é uma sensação única, um sonho tornado realidade. Estar presente no Dakar já é ótimo, fazer parte da equipa que ganhou é ainda melhor, como é óbvio“, garante o mecânico, com quem estiveram, também, mais 22 portugueses.

A entrada neste mundo “começou há uns anos”, quando ganhou a “vontade de entrar para mecânico para o Motosport e as coisas foram evoluindo. Comecei em Celorico de Basto com o Fernando Costa, que tem uma oficina de carros de corrida. Entretanto, fui para a Sports & You, do Abel Fernandes, que também é do concelho. Depois disso, ainda passei pela Racing Factory. Mais tarde, como freelancer, surgiu a oportunidade de fazer o Rally Dakar com a Overdrive. Fizeram o convite e aceitei logo, nem pensei”, recorda.
Assim começou a história de João Ribeiro neste mundo, que vive como mecânico, mas não põe de lado a vontade de ter a experiência como piloto. “Envolve muita coisa, mas gostava, nem que fosse um ralizinho aqui pela terra, por exemplo. Só para experimentar. Andamos sempre da parte de fora, estar dentro do carro deve ser completamente diferente”.
Enquanto mecânico a responsabilidade “é muita”, principalmente, “em provas importantes” como o Dakar. “É muita gente a ver, são muitos quilómetros, a prova é considerada a mais dura a nível mundial e há a questão, importante, da segurança de quem vai no carro. Qualquer parafuso nestes carros é importante”, realça.

Quanto ao tempo, “nos ralis há uma hora limite para trabalhar, que são, no máximo, assistências de 45 minutos. Já em provas como o Rali Dakar podemos trabalhar no carro desde o momento em que o chega até ele ir. O carro só sai de manhã, por volta das 06h00 e quando chega, por exemplo 16h00, temos muito tempo para trabalhar. O que aconteceu algumas vezes”, explica.
João Ribeiro recorda um momento em que a equipa teve de fazer “direta”. Começaram “a trabalhar no carro por volta das 17h00 “ e terminaram “pelas 06h00. Tínhamos dez carros e como estamos divididos por secções – há mecânicos que trabalham nas caixas de velocidade e nos diferenciais, outros nos amortecedores – o trabalho torna-se mais lento. Foi o único dia em que atrasamos mais, mas que não impediu a vitória”.
Família, esposa, amigos … “estão muito orgulhosos”
O gosto pelos carros transparece nas palavras que partilha e resultou de uma herança familiar. Os pais e os tios acompanhavam os ralis. “O meu pai começou a levar-me a ver os ralis a acompanhar um conterrâneo da terra, o Casimiro Magalhães Costa. Daí nasceu o bichinho pelos carros de corrida de ralis. Já adulto surgiu a oportunidade de fazer a mecânica e entrei logo, em 2008 ou 2009. Desde então foi sempre a evoluir e a lutar pela carreira”.
Família, esposa, os amigos … “estão muito orgulhosos e ainda bem, fico muito contente”. Mas, apesar de gostar “muito” do que faz, o celoricense confessa que é “difícil” estar longe da família. “É a parte mais complicada, principalmente quando se tem uma filha. Passamos muitos dias fora, mesmo muitos, mas eles percebem, é o que nós gostamos, é a nossa paixão“.
Uma paixão que o ‘afastou’, pela segunda vez, da família na noite de passagem de ano. “O ano passado, fomos para o Dakar no dia 31 de dezembro. Este ano no dia 29. Entrei em 2025 com a família do rali. Parámos durante uma horinha, para festejar, e depois lá continuamos a trabalhar. É o que a paixão faz”.
Passamos muitos dias fora, mesmo muitos
As provas não param e João Ribeiro já planeia as próximas viagens. Espera-o Mundial em Abu Dhabi, mas antes, já este sábado, parte a Baja Ha’il, na Arábia Saudita. Sem esquecer o Mundial de Ralis, com uma equipa espanhola, a começar pelo Quénia.
O celoricocense agradece o apoio da “familia, esposa e amigos”, assim como à população da terra Natal, ao presidente da autarquia e ao “grande amigo” Eugénio Carvalho.