O atendimento ao público “é uma das profissões mais difíceis do mundo” admite João Araújo. A “oportunidade de fazer uns trocos enquanto conciliava um emprego e os estudos” marcou a entrada do jovem de 23 anos no mercado de trabalho e na área do catering e serviços de restauração.
Licenciado em Engenharia de Energias Renováveis pela Universidade de Bragança, João Araújo começou a trabalhar aos 17 anos e desde então tem dividido o tempo livre entre os estudos e servir às mesas em casamentos, batizados e até passagens de ano.
Apesar deste ano o jovem ter escolhido passar o réveillon em família, este ainda se recorda de quando aceitou fazer dois serviços seguidos na noite da passagem de ano. “Fiz este trabalho dois anos seguidos, depois com o covid fizemos uma pausa, mas no ano a seguir voltei a passar o réveillon a trabalhar”, conta João Araújo.
Do ponto de vista do empregado de mesa “claro que era preferível estar com a família e amigos, mas este dia é sempre mais bem pago e tenho de aproveitar estas ocasiões por isso mesmo”. O jovem diz mesmo “sempre achei que mais valia fazer estes sacrifícios agora em início de vida, fazer este esforço agora para puder aproveitar a vida mais tarde”.
O serviço durante a passagem de ano também é um dia “muito mais duro” em comparação a outros eventos, “lembro-me bem de fazer 24 ou 25 horas de trabalho em alguns serviços”, comenta João Araújo. A exigência dos horários carrega o seu peso e o jovem confessa que “daqui a uns anos não me vejo a conseguir fazer este tipo de horários tão facilmente como faço agora”, mais um dos motivos que o motivaram a fazer este serviço dois anos seguidos.
O número de horas de trabalho é uma das dificuldades deste tipo de trabalho mas o que deixou mais marcas no jovem servente foi “a maneira como as pessoas tratam os empregados nesse dia”. Na noite de réveillon “as pessoas não compreendem que mesmo a trabalhar também estamos a viver a passagem de ano e tratam-nos como se fosse só mais um dia”, justifica o servente.
João Araújo acha que podia haver “um bocadinho mais de compreensão, porque estamos a perder estes momentos para proporcionar um dia melhor a todos os outros. Nota-se muita falta de compaixão e empatia pelos empregados neste setor”.
A interação com o público e os clientes “é muito difícil e quando as pessoas não nos ajudam mais difícil é conseguirmos tornar serviços como por exemplo de um dia de casamento num dia especial”.
No entanto, João Araújo vê todo o seu esforço como “uma mais valia, pela independência que me dá e pelo que acabo por aprender ao longo dos anos. Este trabalho já me deu muito mais do que só dinheiro”, frisa.
Além disso, a experiência pessoal é só uma parte das vantagens de ter um emprego enquanto se estuda, “a nível profissional ganho um currículo que se calhar quando entrar no mercado de trabalho da minha área vai ser um ponto diferente em relação a todos os outros”.
Assim, João Araújo ainda não vê um fim para os seus dias no serviço de catering e o jovem reforça que “todas as inúmeras histórias que já passei a trabalhar nesta área fizeram-me valorizar mais a vida de uma maneira que outras pessoas que não trabalham não valorizam”.