novo 2 1
Publicidade

Joana Nogueira, natural do Marco de Canaveses, é primeiro-tenente da classe técnico superior naval na Marinha Portuguesa e o exemplo das muitas mulheres que têm abraçado a carreira militar nos últimos anos.

A Marinha Portuguesa assinala este ano os 30 anos da entrada das primeiras mulheres como militares. Uma história que começou com o alistamento da primeira mulher na Escola Naval a 15 de junho de 1992, “após concurso público, para frequentar o Curso de Preparação Básica de Oficiais e ingressar nos quadros permanentes, na categoria de oficiais da classe de Farmacêuticos Navais”, de acordo com a Revista Militar.

O acesso das mulheres às Forças Armadas, nomeadamente na Marinha, só foi possível através da alteração à Lei do Serviço Militar, aprovada em 1991 e uma portaria reguladora da prestação de serviço militar pelas mulheres. Mas, sobretudo, pelas adaptações efetuadas, ao longo dos anos, que contribuíram para que as mulheres integrassem naturalmente.

Joana Nogueira, primeiro-tenente da classe técnico superior naval, de 39 anos, faz parte da percentagem de mulheres que decidiu arriscar e romper o preconceito de um mundo dito, popularmente, de homens. Em 2006, depois de concluir a licenciatura em Ciências da Educação, recebeu uma informação da faculdade para a abertura de concurso para as Forças Armadas, mais precisamente a Marinha Portuguesa. Inscreveu-se “sem saber para o que ia e o que esperar”, conta ao Jornal A VERDADE. Sem qualquer ligação ao mar e à Marinha, decidiu aproveitar uma “oportunidade que surgiu numa altura em que não estava a trabalhar na área. Concorri e acabei por entrar em 2006”, revela a primeiro-tenente.

e0239d7a 0bcf 4420 a126 08c9107f505e

São agora 16 anos de ligação e de evolução. “Fui evoluindo. Comecei primeiro como formadora, que exerceu durante 15 anos, e mais tarde acumulou funções de chefe de gabinete. Entretanto mudei de unidade e de funções e, atualmente, integro a gestão de formação, na componente de avaliação de formação e desenvolvimento curricular”.

Apesar de um início sem expectativas, Joana Nogueira foi conhecendo de perto os valores da marinha, com os quais se foi identificando: “o espírito de corpo, a lealdade e trabalhar em prol da sociedade, que representam as forças armadas”, e a fizeram permanecer. Também o facto das ciências da educação ser uma área “bastante valorizada na Marinha e permitir ter uma oportunidade e carreira para o futuro” pesou na decisão da primeiro-tenente que, em 2011, concorreu aos quadros permanentes, demonstrando a sua vontade em continuar. “Quando concorri sabia que enquanto contratada seria por seis anos, com possibilidade entrar nos quadros se abrisse na minha área. o que aconteceu, porque é muito necessária tendo em conta as escolas e centros de formação que existem na Marinha, com bastante qualidade e que necessitam de pessoas para a gestão de formação”.

A igualdade de género e a inexistente distinção entre homens e mulheres, é um ponto que Joana Nogueira destaca, enaltecendo o papel da Marinha. “Aqui somos todos militares, independentemente do sexo, somos tratados como tal. Temos as mesmas funções, desempenhamos as mesmas tarefas e cargos. É com base na nossa competência e capacidades”.  A nível pessoal nunca esteve perante uma situação de discriminação e apesar do aumento do número de mulheres no meio militar, o tema da igualdade de género, pela sua experiência, “ainda continua a ser falado”

Ainda existem alguns desafios no que respeita à gestão pessoal e de carreira, que se prendem com a compatibilização da maternidade com a profissão, mas neste ponto Joana Nogueira, conta com “o apoio fundamental do marido e dos sogros” para cuidar dos dois filhos quando está num serviço de 24 horas ou a participar numa cerimónia militar. O meio militar não é um mundo apenas de homens, é uma certeza para Joana Nogueira, “obviamente que há uma componente física”, mas no caso da Marinha, a realidade que conhece, “não é nada de extraordinário”.

Para todas as mulheres que pretendam ingressar nas Forças Armadas, e na Marinha em particular, a primeiro-tenente incentiva a “sair da zona de conforto para conhecer outra realidade, adquirir valores como espírito de grupo, flexibilidade, resiliência, lealdade”, assumindo-se uma “boa oportunidade de trabalhar em prol da sociedade e, potencialmente em termos humanitários”, em eventuais missões, como também já participou no âmbito da cooperação técnico-militar com Angola e Moçambique. 

Joana Nogueira não tem dúvidas de que “ir para a Marinha é uma boa oportunidade de carreira”.