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Os dados mais recentes indicam que a comunidade brasileira é a maior a residir em Portugal. Representam 29,8% do total de estrangeiros no nosso país. 

Os motivos que os levam a abandonar o país são vários, mas no caso de Jéssica Martins uma relação vivida à distância e a segurança foram decisivas para a mudança. “Casei com o meu namorado (também brasileiro), que já vivia em Portugal há quatro anos. Então tivemos de tomar a decisão de qual país seria melhor para iniciarmos nossa vida”

A este ponto acrescia um outro “crucial” para a tomada de decisão. Cerca de um ano antes, a mãe de Jéssica foi atingida “por uma bala perdida e a questão da segurança foi decisiva”, explica.

Mudança para Portugal foi “um choque cultural muito grande”

Em entrevista ao Jornal A VERDADE, a jovem de 25 anos confessa que a chegada a Portugal não foi tão fácil como esperava. “Vimos do Brasil a achar que vamos ficar na nossa zona de conforto, por causa do idioma, e que vamos encontrar um país semelhante ao nosso, mas no meu caso foi um choque cultural muito grande”, garante.

Do Rio de Janeiro para Lousada, as diferenças começavam pelo “clima. O frio é extremamente frio e quando chega o calor e que achamos que vai ser igual no Brasil, não é, aqui é muito seco e o verão é muito diferente”. E continuaram na comida “muito diferente, como os temperos”.

Para contrabalançar, encontrou pessoas “muito acolhedoras. Acho que todos imigrantes notam que os portugueses, apesar de serem mais frios do que os brasileiros, ajudam em questões de trabalho, casa. Senti-me mesmo acolhida por muitas pessoas que passaram na minha vida”, diz.

Apesar da “dificuldade” de comunicação que sentiu inicialmente, um mês após a chegada e depois de se “habituar ao idioma”, começou a procura por trabalho. “Distribui alguns currículos e no terceiro dia fui chamada e comecei logo a trabalhar. Atualmente trabalho em um ginásio, como gestora comercial”.

Um ano depois, “muita coisa mudou” na vida de Jéssica Martins 

Em janeiro de 2022, a jovem do Rio de Janeiro atravessou o Atlântico para vir ao encontro de Lucas e viver uma vida a dois. Um ano depois da mudança garante que “apesar de sentir muita saudade de casa”, não se arrepende da escolha. “Estando aqui estou em desenvolvimento constante e já cresci muito durante esse ano. Muita coisa mudou em relação à minha forma de pensar, postura e ao valor que dou às coisas. Tornei-me uma pessoa muito melhor!”, afirma com orgulho.

Hoje, falar do que mais gosta em Portugal já é mais fácil. “Sem dúvida que a liberdade de ir e vir é o que ainda me choca. Como não conduzo, às vezes saio do trabalho por volta das 22h40 e volto pra casa, sem medo, com o telemóvel na mão e isso não tem preço”, explica.

A “facilidade de conhecer outros lugares” é também um dos pontos positivos na ainda curta estadia no nosso país. “Amo viajar e desde que cheguei já fui a lugares que nunca imaginei, coisa que eu só via nos filmes mesmo”.

“Já ouvi coisas preconceituosas e ofensivas só por ser mulher e brasileira”

Os desafios de viver num país que não é o seu são alguns, mas com o preconceito inicial foi “muito difícil de lidar. Sempre fui muito ligada aos direitos das mulheres e aqui, sinto que a população tem valores que eu já desconstruí há muito tempo. Acho que acontece muitos julgamentos machistas, até para muitas mulheres, acaba por ser normal por estar tão enraizado. Já ouvi coisas preconceituosas e ofensivas só por ser mulher e brasileira”, conta.

Apesar “de todo lado bom” que é morar em Portugal, confessa que é “muito difícil”  estar “a viver num país que não é o seu, longe de tudo, e ter de reconstruir tudo o que aprendemos. O processo é muito doloroso”.

Mas voltar ao Brasil ainda não é uma certeza para este jovem casal. “Tem dias e dias. Muitas vezes penso em voltar, para estar perto da minha família. Mas hoje, com um bebê a caminho e as notícias do Brasil, tenho muito medo”.

O sonho, confessa, era “trazer as pessoas que eu amo pra cá. Mas como isso também não é possível, voltaria ao Brasil se atingisse uma condição financeira que me permitisse viver numa cidade mais tranquila, onde pudesse dar ao meu filho acesso as mesmas coisas que ele teria aqui”.

Para já, o objetivo é ficar em Portugal, “ter uma vida tranquila e com dignidade que acho que é isso que todo imigrante procura”.

A viver a experiência da maternidade, Jéssica Martins sente que este é o país “certo” para o crescimento do filho. “Sempre quis voltar para o Brasil, mas quando descobri a gravidez comecei a questionar-me se isso fazia sentido. Aqui temos educação de qualidade, segurança, acesso à saúde, coisas básicas que no Brasil certamente não teria”.