joana soares investigadora marco adopt
Publicidade

Joana Lara Soares, natural de Marco de Canaveses, é investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto e integra um grupo de investigação sobre Intervenção e Acolhimento e Adoção. Esta foi a área na qual sempre trabalhou desde que se formou e sobre a qual desenvolve um projeto que pretende ajudar no acompanhamento de famílias adotivas.

Chama-se “AdoPt: Follow-up em Pós-Adoção” e é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Este é “um projeto há muito tempo ambicionado e é uma necessidade percebida há muitos anos”. Consiste numa plataforma online, myAdoPt, através da qual se pretende “desenvolver um sistema de acompanhamento em pós-adoção, não intrusivo, sensível às necessidades e capacidades das famílias adotivas e capaz de identificar atempadamente sinais de instabilidade, bem como os recursos sociais e profissionais que lhes estão acessíveis”.

“O processo de adoção é complexo, porque as crianças que chegam a este processo são, de facto, crianças com uma história de vida com alguma adversidade, algumas experiências menos positivas durante a sua infância… As famílias sentem que, durante uma fase, são bastante acompanhadas, durante uma fase inicial, os candidatos são avaliados, selecionados… Há de chegar o momento em que é feito este emparelhamento entre os pais e uma criança e, depois, inicia-se a formação de uma família. Durante seis meses, a família é acompanhada. A partir do momento em que a criança vai para casa, é acompanhada pelos serviços de adoção, mas, ao fim de seis meses e se tudo estiver a correr bem, a adoção é decretada e aquela criança passa a ser filha daqueles pais e, a partir daí, há um corte”, explicou.

Em declarações ao Jornal A VERDADE, Joana Lara Soares sublinhou que “as famílias sentem é que, de repente, ficam sozinhas, abandonadas, sem apoio e sem suporte”: “Por um lado, pelos serviços de adoção que são as instituições nacionais que dão resposta a este processo, mas também porque não existem serviços especializados e técnicos com formação nesta área para dar resposta às necessidades que vão surgindo nestas famílias e, por isso, este projeto vem der um bocadinho de resposta a isso”.

Vão sendo recolhidos “alguns dados para perceber como estão estas famílias, identificando sinais que podem levar a alguma instabilidade na família e até à rotura da família”. “O objetivo é também prevenir estas situações e, por isso, ir ao longo do tempo identificando um conjunto de sinais que podem ser fatores de risco e que podem culminar nesta rotura, que não se quer que aconteça; ao mesmo tempo, que as famílias deixem de ter este sentimento de que não estão a ser acompanhadas, desenvolver grupos de pais através desta plataforma e também temos uma equipa que está disponível para dar o apoio”, informou.

O projeto está a ser conduzido por uma equipa de investigação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), em parceria com o ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. No total, são oito os profissionais envolvidos e Joana Lara Soares é a co-investigadora principal.

investigadoras adopt
Maria Barbosa Ducharne e Joana Lara Soares, investigadora principal e co-investigadora principal

Todos estão identificados no site do projeto e, numa terceira fase, a ideia é haver uma ida a casa das famílias, uma vez que consideram “importante ouvir as crianças”, de forma a perceber “as suas necessidades e como se encontram nas suas famílias”. Além disso, a plataforma permite também “um contacto direto com a equipa de investigação, há um setor que é o ‘pedido de apoio’ e as pessoas, fazendo esse pedido, permite a comunicação direta”, via Zoom ou marcando uma reunião presencial.

O projeto “já está no terreno” e “é longitudinal, ou seja, vai ter um seguimento das famílias ao longo de vários anos”. “Estamos numa primeira fase, de recolha de dados, de recrutamento das famílias. Este processo é confidencial, ou as famílias se acusam como famílias adotivas ou são famílias nossas conhecidas, se não, à partida, não sabemos que aquela família é adotiva”, indicou, explicando que têm um protocolo com o Instituto de Segurança Social que “permite alguma colaboração e serem os próprios serviços a divulgarem o projeto junto das famílias”, uma vez que não podem ter acesso à identificação das famílias. Contudo, os investigadores pretendem “ir por outras vias e tentar chegar às famílias” para que se juntem ao projeto.

No site, podem ser encontradas informações sobre o projeto e a forma de se registarem, através de códigos de acesso, “privados e intransmissíveis”, que podem ser acedidos após ser enviado um e-mail para a equipa a referir o interesse em participar.

“As famílias que nos estão a chegar até agora são famílias essencialmente dos grandes centros urbanos e famílias de um nível socioeconómico e sociocultural superior. Sabemos que não é representativo das famílias adotivas, que existe muita heterogeneidade em termos socioculturais e socioeconómicas”, salientou.

O objetivo vai além da investigação: “recolher informação para perceber como as coisas estão e, depois, com essa informação intervir diretamente”. No entanto, “isso pode não ser suficiente e as famílias podem ter necessidade de um apoio mais próximo, especializado e terapêutico”. “Iremos avaliar se temos competências para dar esse apoio, se não tivermos, tentaremos encaminhar. Isto é um estudo a nível nacional, nós estamos sediados no Porto e pode haver uma necessidade de um acompanhamento presencial, que uma pessoa de Lisboa e Algarve não poderá vir ao Porto para ter esse acompanhamento”, descreveu, referindo que estão a tentar, através da Ordem dos Psicólogos, “identificar os psicólogos que são especializados nesta área e georreferenciar para ter uma resposta mais ampla a nível nacional”.

“Ao longo do todo o meu percurso enquanto profissional, investigadora, pessoa que intervém na rua, fui percebendo estas necessidades e a falta de respostas na sociedade. E agora, de facto, conseguimos concretizar. A investigação que fazemos no GIIAA é com aplicação na prática. Tentamos perceber quais são as necessidades da prática e fazer esta transmissibilidade do conhecimento, da ciência para a prática, investigação que permita dar respostas. Pela falta deste apoio, as dificuldades começam a ser grandes e podem culminar na rotura da família e estas crianças já tiveram roturas em famílias anteriores, são crianças com trauma bastante acumulado e com experiência difíceis e, por isso, não se espera que, quando elas são adotadas, possam passar por situações semelhantes… E contribuir para a qualificação deste processo de adoção”, rematou.