Este domingo, dia 12 de fevereiro, celebra-se o Dia do Casamento e, por isso, o Jornal A VERDADE traz-lhe o testemunho de Francisco e Hélder da Sousa, dois marcoenses, que oficializaram o seu amor em 2019, seis anos depois de se terem conhecido.
Foi no ano de 2013 que Hélder e Francisco se tornaram amigos por meio de outros conhecidos e começaram a sair todos juntos, sem nunca imaginarem que viriam a casar-se e viver juntos.

Olhando para trás, o casal admite que com o tempo os "sentimento apareceram, mas nenhum de nós tinha dado o primeiro passo". Em 2015, passado dois anos de "conversas sem segundas intenções", Hélder da Silva convidou o homem que viria a ser seu marido para um jantar.
Jantar onde "pensou que não íamos dar em nada", depois de Francisco ter revelado que partia para a Bélgica no dia seguinte. No entanto, aquela noite marcava uma viragem na vida dos dois jovens, que assumia perante "toda a gente" os seus sentimentos um pelo outro.
A Bélgica rapidamente foi substituída pela Suíça, onde moram desde abril de 2015. A par da procura por uma vida melhor, os jovens naturais de Marco de Canaveses decidiram emigrar porque "era mais fácil lidar com as coisas. Deixamos o fogo arder sozinho e fugimos a essa pressão", afirma Hélder da Silva, acrescentando que tivemos "a sorte da família ter apoiado bastante".

Numa viagem a Veneza soou a palavra "casamento"
Outro momento marcante na vida deste casal foi a primeira viagem que realizaram, neste caso, a Veneza. Dias que os fizeram perceber que "podia ser para a vida. Foi a primeira vez que nós sentimos que olhamos um para o outro e dissemos que se calhar era amor para a vida toda, que queríamos conhecer o mundo juntos". Durante esta conversa soou também a palavra "casamento".
Sem nenhum pedido oficial, mas envolvidos nos sentimentos que nutriam e nutrem um pelo outro, Hélder e Francisco "marinaram" a ideia durante dois anos e em 2019 viajaram até Portugal para oficializar a relação, através do casamento. No fundo tiveram durante algum tempo "a preparar a família para o embate não tanto connosco, mas com os outros, porque ia ser comentado".
No dia do casamento a quinta pintava-se de vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e roxo. As damas de honor formavam a bandeira lgbt para celebrar um casamento homossexual. Hélder partilha que a ideia foi "criativa, mas aconteceu naturalmente, porque eu dizia sempre que não queria nenhuma vestida com a mesma cor".

"Normalidade" foi sempre uma palavra de ordem. No que toca à família tiveram "o choque inicial", mas foram percebendo que o jovem casal tinha objetivos e expetativas como qualquer pessoa. "As coisas eram sérias, tivemos sorte e fizemos por ela, emigramos, começamos a trabalhar, casamos e compramos casa", acreditando que esses fatores contribuem "para que as pessoas olhem para nós como para qualquer outro casal".
Ao fim de quase 10 anos, revelam que sentem "mais preconceito vindo de gente mais nova do que velha". Destacando as suas avós que "estiveram lá e viveram mais intensamente isto do que nós".
Quando questionados sobre filhos, admitem que "neste momento e nos próximos anos a resposta é não. O mundo não está preparado, não quero sujeitar alguém que venha para este mundo através de mim, não quero pensar no que a pessoa vai sofrer".

Acrescentando que "pela via da adoção não queremos estar mais de cinco anos à espera de uma coisa que pode vir a não acontecer, se tentássemos seria pela fertilização in vitro ou barriga de aluguer, mas acho que Portugal ainda não está aí e na Suíça é muito caro. Desde o início que optamos por não pensar muito nisso, nunca dizemos nunca mas vamos vivendo", partilham.
Hélder da Silva reflete ainda que agora em adulto percebe que "sabia desde sempre" a sua orientação sexual. "Não há maneira de fugires. Ou pensas em viver uma vida dupla ou focas-te naquilo que és e segues em frente, porque não há outra maneira". Por outro lado, Francisco cresceu no ambiente do futebol, onde "não houve espaço para estegénero de conversas", o que fez com que se descobrisse apenas com o passar dos anos.
A chegar ao fim da conversa, o casal deixa uma mensagem especial a todos os leitores e casais: "é preciso confiar naquilo que queres fazer da tua vida. Sermos seguros daquilo que somos, as pessoas têm o direito de não perceber e nós temos de explicar as coisas com calma, não vale a pena responder com agressividade. Se a pessoa quiser entender ótimo se não quiser segues a tua vida e acabou".

No fundo, o mais importante e a chave do sucesso para a relação é o "amor. Só o amor é que interessa, o amor é que pode curar o mundo, mais nada. É responderes com amor todos os dias, as pessoas vão acabar por se habituar a casais como nós".
"Foquem-se na pessoa com quem estão, estejam lá, não se preocupem com o resto, não há resto, vivam o presente.. não é difícil é só viver, acordar todos os dias com a certeza que queres estar aqui", terminam.




