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Há cinco anos que Jorge Ferreira vive na maior cidade da China, onde "tudo é diferente"

Redação

Em 2019, Jorge Ferreira deixou o conforto de casa, em Penafiel, e partiu sozinho para Xangai, a maior cidade da China. Dois anos depois, enfrentou o confinamento de 'tolerância zero' chinês.

Jorge é formado em desporto e, em 2019, encontrava-se em Portugal com poucas perspectivas para o futuro. Até que surgiu a oportunidade de ser treinador de futebol numa academia chinesa, na cidade de Xangai. Em setembro do mesmo ano, partiu "mesmo na aventura", sem conhecer ninguém.

Quando lá chegou, teve um "choque", porque "em Portugal temos uma ideia muito tradicional da China", explica Jorge. Conhecida como a "Nova Iorque da Ásia", Xangai é uma das cidades mais populosas do mundo, "cheia de vida e super movimentada".

A primeira semana foi de "difícil adaptação", numa mistura de choque cultural, com o jet lag de sete horas, língua diferente, comida diferente, "tudo é diferente", conta.

Foi graças a dois portugueses que conheceu - quando andava "um pouco perdido" - que começou a orientar-se e ganhou rumo numa cidade "estranha" a poucos meses de ser atingida por uma pandemia que abalou o mundo.

Na China, o ano letivo é igual ao europeu, no entanto, as férias realizam-se no Ano Novo Chinês, em detrimento do Natal e da Páscoa. Foi em janeiro de 2020, durante as férias, que Jorge voltou a Portugal. "Quando venho, fecha tudo na China. A minha empresa, onde eu trabalhava, acabou por fechar as portas".

A presença da COVID-19, em Xangai, foi confirmada a 20 de janeiro de 2020. As fronteiras do país foram fechadas em março, mas nessa altura, o penafidelense já tinha um novo trabalho confirmado como professor de educação física numa escola com um departamento internacional e estava de regresso à costa central da China.

A minha empresa, onde eu trabalhava, acabou por fechar as portas

"Depois estivemos, de 2020 a 2022, com uma vida normal. Enquanto que na Europa estava tudo a fechar, lá estávamos a ter uma vida normal. O único problema que tínhamos era que não podíamos sair do país. Caso saíssemos, não poderíamos voltar a entrar", conta.

A 'vida normal' tinha algumas particularidades: todos eram obrigados a realizar o teste de COVID-19, de três em três dias. "Havia cabines de testes na rua", conta Jorge. "Tínhamos um código QR associado a uma aplicação" que era obrigatório mostrar sempre que queriam aceder a algum estabelecimento. Se o teste fosse negativo, o código ficava verde, se o teste fosse positivo, o código ficava vermelho "e não podíamos ir a lugar nenhum", continuou. "Tirando isso, a vida era normal: íamos jantar fora, havia festas, as piscinas estavam abertas, podíamos viajar dentro do país. (...) Foram dois anos tranquilos", esclareceu.

Até que, no final de março de 2022, perante o aumento do número de casos, as autoridades de Xangai instituíram o confinamento, dando início ao que viriam a ser dois meses de restrições rigorosas impostas a 25 milhões de residentes, em concordância com a estratégia de 'tolerância zero' do governo chinês.

Os moradores ficaram sem acesso a comida e necessidades diárias, face ao encerramento de supermercados e farmácias, "ninguém podia sair de casa para nada, zero. Muita gente teve dificuldades, porque não tinha comida. O governo acabou por mobilizar o exército, para distribuir comida pelas pessoas. Foi uma fase muito difícil", recorda o professor.

Jorge Ferreira esteve quase três anos sem voltar a casa. Nos dois primeiros anos, teve o apoio de "uma comunidade estrangeira, imigrante, muito próxima, muito coesa". Uma proximidade que "acabava por abafar um pouco a falta de estar com a família, a falta de estar com os amigos", afirma o penafidelense, sublinhando que o apoio das pessoas com culturas semelhantes "é fundamental"

Foi uma fase muito difícil

Durante o confinamento de 2022, decidiu voltar para casa "independentemente de conseguir regressar ou não". De acordo com Jorge, "as estatísticas, hoje em dia, dizem que 75% dos estrangeiros que viviam em Xangai vieram embora, porque foi um choque muito grande para muita gente. Mesmo a nível mental, estar dois meses fechado numa casa sem poder sair para nada mesmo, foi muito difícil"

Foi graças à escola onde trabalhava que conseguiu regressar  à China, no final de agosto. O período de confinamento tinha terminado em junho e, "aos poucos, a sociedade começou a encarar o covid como sendo uma gripe normal". Em janeiro de 2023, com vista à recuperação da economia do país, as fronteiras abriram, sem restrições.

Desde então, Xangai "tem voltado a ganhar vida aos poucos. Já voltou a ser uma metrópole, como era, mas ainda não com aquela vida que eu encontrei quando cheguei". Jorge Ferreira continua a viver na Nova Iorque asiática, mas acredita que esta ainda vai "demorar uns anos" a regressar à normalidade.