Há 22 anos que Tiago Vale, de 57 anos, vive na “Aparecida” e carrega o andor há 38 anos.
O dia 14 de agosto é especial para a população da freguesia de Vilar do Torno, do concelho de Lousada, e para todos aqueles que visitam a Romaria da Senhora Aparecida. De 11 a 15 de agosto, a romaria regressa para quatro dias de festa, sendo que num deles acontece um dos momentos altos da festividade, a Majestosa Procissão.
Na tarde do dia 14, este domingo, 100 homens irão carregar o andor maior andor do país. Tiago Vale é um dos homens que sustentam 1800 quilos de “fé”, durante “duas horas de sofrimento”. Há alturas em que carrega “mais de 100 quilos, fico com os ombros pisados”, mas a devoção, que os acompanha durante o percurso, “é tanta, que se esquece tudo o resto. Queremos é chegar ao fim”, conta ao Jornal A VERDADE.
Foi no ano de 1984 que Tiago Vale carregou o andor pela primeira vez. “Tinha 18 anos e andava pela festa. Nesse dia andavam a pedir às pessoas para carregar o andor e o meu pai disse para ir ajudar, e fui”, recorda.
Desde aí, nunca mais parou. “Peguei nesse ano, depois fui à tropa, e nesses dois anos fui com a farda, mas fui sempre, sempre”.
A emoção é partilhada por todos os presentes, mas “só quem está lá é que sabe. Depois de pegar no andor é muita emoção, não há palavras. Uma pessoa pega e está logo à espera que chegue o ano seguinte para tornar a carregar o andor”, confessa.

Em 2017, ano em que o andor caiu e deixou alguns homens feridos, Tiago Vale encontrava-se na frente, o lugar onde fica “sempre. Tentamos aguentar. Ainda me coloquei de joelhos, mas não consegui fazer mais e fiquei com as pernas debaixo dele. O que me valeu foram as escadas. foi um grande susto”, recorda emocionado.
Valeu-lhe o susto e a “dedicação” que o fez continuar e “enquanto puder” vai fazê-lo. “Tenho 57 anos, mas tenho mais força do que quando tinha 18 anos. Quando não puder pegar, vou agarrado às cordas, porque de uma forma ou de outra vou sempre”.
No início e no fim da procissão, os 100 homens ouvem a contagem “até três”, mas no final o que se sente “não tem explicação. As pessoas começam a bater palmas e nós também, e toda a gente chora de emoção. É uma sensação de dever cumprido. É uma alegria”.
Tiago Vale é o mais antigo a carregar o andor, “já lá vão 38 anos. E sempre “no mesmo lugar, ninguém pega naquele sítio. Aliás, está lá o meu nome gravado”, diz com orgulho.
São “milhares” as pessoas que, ano após ano, assistem à Majestosa Procissão e, este ano, “não será exceção. Como é num domingo, vai ser um mar de gente”.
Depois de dois anos sem se realizar, devido à COVID-19 a emoção e a vontade vão ser “a dobrar. É bom retomar esta tradição”.
Apesar de não fazer parte da comissão organizadora, o senhor Tiago ajuda sempre que pode e tem “arranjado muitos homens para carregar o andor, porque é difícil arranjar homens. É preciso gostar”.
A todos os jovens, pede que “não deixem acabar a tradição e que ajudem”.