Natural de Gouveia, Serra da Estrela, Maria Virgínia vende gelados há mais de 30 anos nas Festas do Marco, desde que acontecia ao pé do campo de futebol. “Tive lá por vários anos, depois mudaram aqui para cima e continuei”, conta ao Jornal A VERDADE.
A feirante de 70 anos afirma que, mesmo vindo de longe, já está “habituada”. E, de modo especial, sente-se muito bem no Marco. “Fui sempre muito bem recebida, tenho meus clientes mais ou menos certos, porque nunca me largaram”, afirma.
Eu gosto muito da cidade
Durante os últimos 30 anos, conheceu muitas pessoas da cidade que todos os anos fazem questão de a cumprimentar. “Mesmo que, às vezes, venham só para saber que eu estou aqui, vêm cá de propósito para me cumprimentar. Ontem à noite vieram vários e é bom a gente sentir isso, porque sentimo-nos acolhidos”.
Maria destaca a felicidade por ser “tão bem” tratada pelos marcoenses. Há clientes que vão ao gelado “desde pequenitos” e, hoje em dia, visitam-na para dar “abraços e beijos”. Há dois clientes que até a “chamam de tia”, conta a feirante.

Maria Virgínia explica que por serem feirantes, há “pessoas que os discriminam”, o que não acontece no Marco, acrescentando: “Eu gosto muito da cidade”.
Para além do acolhimento que recebe dos clientes, a feirante refere, também, que no que toca ao relacionamento com a câmara municipal, sempre foi “muito bem acolhida, muito bem respeitada e muito bem estimada”.
“A vida nas feiras significa, também, uma vida nas autoestradas”
Quanto à origem do negócio, Maria Virgínia conta que, ainda que esteja há mais de 30 anos no meio, ela e o marido “nunca” tinham tido a ideia de entrarem “na vida das feiras”.
Ainda em Gouveia, Maria trabalhava numa fábrica de lanches e o marido na construção civil. No entanto, foi a dificuldade de trabalhar e cuidar do filho pequeno – “na altura não havia creche como há agora” e “não havia ninguém que quisesse ficar a tomar conta de uma criança” – que fez com que Maria pensasse em seguir outro caminho.
As irmãs eram feirantes, o marido “não queria nem por nada” trabalhar nas feiras, mas Maria “conseguiu convencê-lo a seguir o negócio”. Assim, a vida mudou e, a partir daí, o casal foi “vivendo com a cara descoberta” e “ganhando para as despesas”.
A vida nas feiras significa, também, uma vida nas autoestradas. São “semanas e mais semanas” que andam “de terra em terra” e “sem ir a casa”. Desde março, a roulote de doces e gelados passou por Aveiro, Leiria e Vila do Conde e chega agora ao Marco de Canaveses. “Vamos de uma terra para a outra, porque são viagens muito grandes e não dá para a deslocação. A gente já paga tanto em gasóleo e portagens que não dá para ir e vir”, explica a feirante.
Vamos de uma terra para a outra
Por trás das cores vibrantes da gelataria e de sorriso no rosto, Maria Virgínia revela algumas das dificuldades de ter um negócio como este, nomeadamente a fiscalização “sempre em cima, a exigir nas câmaras sei lá quanta papelada”.
A feirante relata a “frustração” e diz que a burocracia “afeta os lucros”, dado que, em certos momentos ela e a família não sabem se “os lucros dão para tanta coisa”. Para além da fiscalização, Maria menciona que passa por “muitas dificuldades com a EDP”, uma vez que é necessário “meter essa papelada toda em janeiro, para trabalhar neste mês, não só para essa câmara, mas para todas as câmaras”.
Para além de esposa, mãe e feirante, Maria Virgínia é, também, avó de nove netos. Destes, três ajudam-na nas feiras, com o filho que, atualmente, toma conta dos negócios. Maria afirma que o filho “adora feiras” e que, enquanto puder, vai “ajudá-lo”, porque não pode “estar quieta”.
Artigo redigido com o apoio de Matheus Santos, aluno estagiário da UTAD