Desde 2004 que Daniel Ribeiro, natural São Gonçalo, Amarante, se dedica às artes da carnação (pintura de figuras religiosas), embora se defina como artesão.
Foi na, recente, edição da AGRIVAL que o encontramos, mais precisamente no stand da CIM do Tâmega e Sousa, a representar o concelho de onde é natural. Estava a trabalhar numa escultura de São Gonçalo em madeira esculpida por um outro artesão e que, posteriormente, será trabalhada por mais dois. “Estava a realizar parte de uma peça colaborativa”.
Em junho, o amarantino de 39 anos criou os “Medievalescos”, uma conjugação de medieval e grutesco, que são esculturas em pasta cerâmica, moldadas e esculpidas por mim, inspiradas na arte medieval. Atualmente, tem trabalhado figuras religiosas.
Vamos conhecer um bocadinho melhor o percurso de Daniel Ribeiro.
Há quanto tempo e porquê se dedica a esta arte?
A carnação comecei em 2004, quando estudava em Coimbra e um dia, ao passar numa loja de artes, decidi experimentar pintar gesso. Comprei uma Rainha Santa Isabel, alguns pinceis e uns boiões de tinta e lá pintei a minha primeira peça. Depois fui comprando outras, ainda em gesso, que pintava e oferecia a familiares e amigos. Entretanto, durante a pandemia criei uma pagina no Facebook (Arte e Devoção) e comecei a pintar para vender. Agora já não pinto gessos, mas o marfinite, que é semelhante, mas muito mais resistente.
Gosto, particularmente, de pintar temáticas religiosas, porque sou crente e sei que as minhas peças serão utilizadas por pessoas que, em algum momento do dia-a-dia, as utilizarão para melhor se conectarem ao transcendente. Outro aspecto que também reparo, agora que pinto, que as imagens que se veem à venda nas lojas de artigos religiosos são todas iguais e sem grandes cuidados ao nível da pintura, não tem expressão, por vezes, usam cores berrantes, ou seja, nota-se que não há cuidado com os acabamentos ou pormenores. Por esta razão, e porque sei que as minhas peças, por norma, não serão apenas decorativas, dou particular cuidado à pintura e à expressividade dos rostos. Aliás, posso dizer que a última coisa que faço antes de terminar uma imagem é precisamente pintar os olhos, porque os olhos são o espelho da alma.
Com os “Medievalescos é diferente, como são peças decorativas, procuro apenas rigor nas posturas, nas formas, nas tonalidades e nas entidades a representar. Por exemplo, nunca irei criar uma Nossa Senhora de Fátima medievalesca, pois esta devoção mariana é muito recente! Os meus motivos marianos medievalescos serão sempre as ditas Santa Maria, ou do Ó. Ao nível de santos, acontece a mesma coisa nunca irei criar uma Santa Teresinha por exemplo.
Que tipo de peças faz?
Neste momento, trabalho temáticas religiosas. Sendo eu de Amarante, tenho de ter sempre o São Gonçalo, o Santo António e o S. Tiago. Quanto à Virgem Maria, procuro ter sempre representações novas e não repetir as invocações. No marfinite posso ainda dizer que mesmo tendo peças saídas do mesmo molde, o resultado final nunca é igual! Todas as minhas peças são únicas, datadas e assinadas. Quero ser autentico e que os meus clientes tenham uma peça que é a sua.
Na minha sessão medievalesca, represento o São Gonçalo nas versões iman e escultura, com ou sem ponte, com a corda dos noivos ou dos desejos, a pregar ou vestido de peregrino. As Nossa Senhoras são sempre em majestade, de pé ou sentadas com o menino ao colo. Depois procuro outras representações de santos, em Junho os populares, agora o São Miguel, o São Martinho e o São Nicolau e brevemente irei iniciar alguns presépios.
Vende ou é apenas por hobby?
O hobby está sempre presente, pois gosto de apreciar o meu trabalho e também gosto de as mostrar ao publico. Claro que também fico contente de as vender, pois se alguém mas comprar é porque as apreciou!
Fazer peças de Amarante tem um significado especial?
Sim, gosto muito da minha terra e gosto de explorar algumas das suas temáticas mais espirituais. Confesso que a minha inspiração para os medievalescos é quase sempre resultante do estudo das formas de obras existentes em Amarante ou na região!
O artesanato é a sua atividade profissional?
É um passatempo que gosto muito de desenvolver e explorar, mas não abdico da minha formação e profissão, sou arqueólogo e estou a exercer a minha profissão a tempo inteiro, por isso, só me dedico ao artesanato à noite ou ao fim-de-semana.
Aprendeu sozinho ou com alguém?
Comecei como autodidata, embora em 2016 tenha realizada uma pequena formação em ilustração cientifica que me permitiu adquirir novos conhecimentos e técnicas. A minha aprendizagem é também feita pela observação, contacto com outros artesãos e artistas e por vezes, até por restauradores. Na minha família que eu saiba, sou o único artista!
Sente que é uma arte que se vai perder entre as novas gerações?
As artes da carnação ou a modelagem, na minha perspectiva, adaptam-se muito bem às novas estéticas e tendências, por isso não correm o risco de outros tipos de artesanato.