Germano Sousa é um penafidelense, de apenas 21 anos, que enfrentou, por duas vezes, um cancro no cérebro. 'Curado' há cerca de dez anos, o jovem assume o papel importante de barnabé, isto é, retorna à Associação ACREDITAR, a sua casa durante os tratamentos, para ajudar crianças e jovens que estão a viver um cancro na própria pele.
2003 e 2009 foram os anos mais exigentes da vida de Germano Sousa, sobretudo, no ano em que já era mais crescido e do qual se recorda mais. O penafidelense nasceu com um cancro no cérebro, que regressou em 2009 após ter feito um TAC à cabeça na sequência de uma queda. Até hoje não se sabe bem qual foi o motivo e, provavelmente, nunca saberá. "Há quem diga que foi genético, há quem diga que foi por causa da forma como nasci, porque fui preguiçoso, não quis sair, então tive de ser puxado e dizem que isso pode ter afetado", no entanto permanece uma incerteza.
À sua volta havia quem colocasse as suas capacidades em questão, mas Germano Sousa não tinha dúvidas de que iria concretizar os objetivos a que se tinha proposto. Prova disso é estar no último ano de licenciatura em educação básica e já pensar no próximo passo: um Mestrado em Educação Pré-escolar e 1.º Ciclo. "Tenho conseguido superar muito bem os receios, que na verdade eram mais dos meus professores do que meus. A doença deixou-me cego do olho esquerdo, mas não considero que seja limitador".
Os tratamentos de quimioterapia foram longos e "difíceis" e, até hoje, Germano tem "traumas" com hospitais. "Não consigo estar muito tempo lá dentro e, por exemplo, a minha faculdade fica à beira do São João, os primeiros dias que vinha para aqui, metia-me muita impressão, porque a minha rotina normal era vir para aqui, fazer o mesmo trajeto, mas para ir para o hospital. Mexe um pouco comigo, porque faz-me lembrar uma fase muito má e dura". A verdade é que se encontra estável há dez anos e quer acreditar que continuará assim.

Em todos os obstáculos e dificuldades, Germano teve ao seu lado os pais, aqueles que considera serem "o maior apoio. Eles mudaram a vida toda por minha causa". Além disso, teve também "uma turma incrível, ficaram comigo até ao 9.º ano, então fomos uma família que se manteve sempre junta, eles foram sempre muito bons".
A falta de compreensão surgiu apenas na universidade. "Só comecei a sentir a questão da exclusão social quando entrei na faculdade, pela questão visual. Entrei para a licenciatura com muitos colegas meus a ficarem surpreendidos como é que fazia certas coisas, porque as pessoas acham que isto é um bicho de sete cabeças, ou as pessoas acham que sou demasiado forte e colocam-me num patamar de que sou uma força ou então encostam-me para canto e não me deixam expôr as minhas ideias, são sempre os extremos", conta.
Germano Sousa é barnabé na Associação ACREDITAR
De 15 em 15 dias, Germano Sousa desloca-se à Associação ACREDITAR, mas confessa que, se os protocolos o permitissem, que "passava lá a vida. Gostava de estar mais presente na história da associação e dar o meu contributo, porque o trabalho deles é genial".
Germano Sousa lida, sobretudo, com as crianças mais pequenas e, durante três horas, tem como objetivo "mostrar compreensão. Às vezes a melhor coisa que se pode ter é alguém que nos compreende, porque é terapêutico. Uma conversa muito boa por vezes passa por 'ei tomas isto, eu também tomei; olha tens esse cateter, eu também tive' e são essas comparações um bocado estranhas, mas que funcionam".
O jovem confessa que não conhece a sua vida "de outra forma" e acredita que "tudo o que acontece tem um propósito. Acredito muito que se não fosse isto, não teria a sensibilidade, capacidade de motivar os outros e, principalmente, de lidar com crianças, tudo está predeterminado para conseguir cumprir aquilo que gosto. Apesar dos traumas que tenho, isto foi a melhor coisa que me aconteceu, porque só sei ser feliz assim, passei por isto tudo, mas ganhei uma viagem à Disney, tenho os barnabés, daqui a algum tempo vou fazer uma viagem com eles para outro sítio, se não tivesse passado por isto tudo não estaria nesta situação, é nisso que me agarro. Cresci assim, não sei como é a vida normal", termina.
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