logo-a-verdade.svg
Notícias
Leitura: 0 min

Filipe Pardal herdou o gosto pela pastelaria e hoje mantém tradição do doce de São Gonçalo

Redação

Amarante celebra esta quarta-feira, 10 de janeiro, o Dia de São Gonçalo, em honra a um santo, também, conhecido como casamenteiro das solteiras. Um facto que deu aso a histórias e tradições, entre elas o conhecido "Doce fálico de São Gonçalo".

Como o nome indica, trata-se de um doce com o formato de um falo e que se massificou após o 25 de abril (terminado o período de censura). Desde então, os doces fálicos começaram a ser fabricados de forma mais industrial. Aliás, se visitar o concelho de Amarante é muito provável que encontre o doce em quase todos os cafés de rua da zona histórica.

Filipe Pardal é um dos muitos responsáveis pela continuidade da tradição e proprietário de uma pastelaria, onde pode encontrar o "Doce fálico de São Gonçalo". Em conversa com o Jornal A VERDADE, o amarantino 'de coração' ajuda-nos a perceber a tradição e a evolução da mesma ao longo dos anos.

Como nos explica, "a tradição começa pelo facto do São Gonçalo ser conhecido como casamenteiro. Segundo reza a tradição, uma das imagens que estava, e está, na sacristia de São Gonçalo tinha uma corda, o chamado badalo, as solteironas iam lá e puxavam o badalo ao santo e ele casava-as. A tradição do doce parte daí. Não há muito fundamento histórico. Tentou criar-se uma tradição pagã à volta de uma tradição cristã".

Marcoense "com muito gosto", mas com "mais anos de Amarante", Filipe Pardal seguiu os passos do pai e da avó, no que à pastelaria diz respeito. "Tudo começou" com a avó Maria Pardala, assim era conhecida. "A seguir à minha avó, o meu pai seguiu as pisadas e eu acabei também por entrar no negócio. Ela fazia fazia as feiras e festas em Amarante e eu cresci a vê-la a vender. Entretanto, abrimos lojas em Amarante e começamos a produzir o doce. Aliás, eu tenho o nome registado "Doce Fálico de São Gonçalo", para manter a tradição, as coisas não podem 'fugir', e acho que todas as pastelarias fazem e devem usar para levar o nome da cidade mais longe", diz.

Ainda a recordar a avó, relembra histórias que dela ouvia e algumas "curiosas. Uma delas era que na altura da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), antes dos 25 de abril, tinham de vender o doce às escondidas, porque era um atentado aos bons costumes da altura".

E, se a tradição se mantém, há um pormenor importante que se vai alterando com o passar dos anos. Falamos da massa e, como nos explica Filipe Pardal, têm de ser "massas que se consigam formar daquela maneira. Não havia uma receita muito específica. Antigamente, o doce era feito de uma forma mais rude, com uma massa mais pobre e dura. Entretanto, aprimorou-se um pouco para uma massa mais brioche, coberta com açúcar". Com o avançar dos tempos, "algumas confeitarias da cidade, e nós, acabamos por fazer uma ainda mais comestível, massa de choux recheada com o doce dos doces conventuais de Amarante".

Em homenagem ao produto, o marcoense viaja a anos passados, "talvez em 2007", e recorda "o doce com 21 metros" que produziu "numa feira que se realizava em Amarante. Desde então, há uma vontade de repetir a proeza, mas ainda não se conseguiu chegar a esse porto. Acredito que breve irá acontecer", diz esperançoso.

Se esta não conseguiu ainda, há uma outra 'proeza' que Filipe Pardal pode partilhar e experenciar na pastelaria que tem na cidade do Porto e que levou o "Doce Fálico de São Gonçalo" a sair do território amarantino e a chegar a outros. "Há clientes com raízes em Amarante que conhecem, ou vão conhecendo a tradição, e fazem questão de brincar e dar a conhecer a colegas que a desconhecem", conta.

O marcoense de gema, com coração em Amarante pretende continuar a preservar a tradição pelas "muitas pessoas" que ainda procuram o doce, "neste dia, mas também durante todo o ano".