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Mesmo com todos os testemunhos de professores descontentes com a profissão que foi ouvindo ao longo dos anos, Maria Ramos não desistiu de seguir a carreira de docente. 

As primeiras aprendizagens foram feitas numa “pequena escola da aldeia”, partilhadas com “apenas cinco colegas”

Com uma infância “tranquila e feliz”, Maria Ramos foi encontrando, durante o percurso escolar, “professores exemplares” que a “cativavam a cada aula”. 

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O despertar para a profissão foi também ‘alimentando’ pela mãe que trabalhou durante alguns anos numa escola enquanto auxiliar. “Consegui observar de perto a magia de ensinar, cuidar, amar os meninos como se fossem nossos. A vontade de ser professora intensificou-se e, mesmo tendo resultados escolares que me permitiam entrar em cursos com média muito superior, decidi escolher educação pré- escolar e 1.º ciclo, como curso”, conta em entrevista ao Jornal A VERDADE.

Professora desde abril de 2022, Maria Ramos, de 26 anos, recorda que na primeira colocação, no concurso de 2021/2022, ficou em Portimão, a mais de 700 quilómetros de casa, como docente de português língua não materna (PLNM). “A minha formação habilita-me a trabalhar com crianças em idade de pré-escolar e 1.º ciclo. Numa colocação de PLNM tive alunos de pré-escolar, 1.º ciclo, 2.º ciclo e 3.º ciclo, a maioria de origem ucraniana. Completamente sozinha, numa cidade desconhecida”, explica.

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Já no segundo concurso, em 2022/2023, tentou ficar mais perto de casa, e Portimão ficou “para penúltima opção. Mas mesmo assim, foi o que me calhou na ‘rifa’. Desta vez com uma turma com 13 nacionalidades diferentes (Portugal, Brasil, Colômbia, Guatemala, Argentina, Guiné-Bissau, Rússia, Polónia, Ucrânia, Itália, Holanda, Perú, Cuba)”.

Nesta curta experiência enquanto docente garante que não está arrependida de ter seguido a “vocação”, mas sente-se “triste” por “uma profissão tão importante como esta, sem a qual nenhuma das outras poderia existir, ser tão desvalorizada e desrespeitada”.

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O vencimento e a falta de tempo com a família são exemplos de “desrespeito” pela profissão que aponta. “O ordenado que recebo no fim do mês, mal dá para pagar as despesas. Tenho duas casas para sustentar, porque o meu marido trabalha em Chaves. Apenas consigo ir a casa nas interrupções letivas, porque a viagem é demasiado dispendiosa e nem sequer existe tempo, durante um fim de semana, para a fazer”, afirma.

Deixar casa, marido, família para trás na procura pelo sonho “é difícil, em todos os aspetos. Tudo isto para tentar acumular uns míseros dias de serviço, na esperança de que isso possa fazer a diferença nas próximas colocações. Fará?!”.