Fernando Couto Ribeiro nasceu em Moçambique, mas considera-se “completamente marcoense”. Embora não seja a sua profissão, dedica, todos os dias, algum do seu tempo à escrita e é nela que vê a sua liberdade, ocupação e uma forma de se conectar a outras épocas e pontos do mundo.
Numa altura em que eram “outros tempos”, os pais de Fernando Ribeiro acabaram mesmo por combinar o casamento por carta e celebraram o relacionamento em Moçambique. Aquando do 25 de abril, acabaram por fazer parte do grupo dos retornados, retomando a terra de Marco de Canaveses, de onde o pai era natural.
Nos primeiros anos em que foi dando a conhecer a sua escrita ao mundo, algo que descobriu na quarta classe, era difícil com que as pessoas “pudessem não gostar”, já que a escrita na infância é pautada por algo “fofinho e engraçado”. À medida que foi crescendo e que a escrita se tornou mais complexa começou a conter “alguns elementos de rutura”, no entanto, permanece defensor de que é “presunçoso” considerar que a sua escrita serve para “levar as pessoas a refletir“.
Na altura da universidade, Fernando Ribeiro chegou a ser um “escritor sofredor”. Mergulhado em sentimentos e reflexões profundas, sente que perdeu o domínio durante a escrita, o que o levou a escrever “compulsivamente” e, pouco tempo depois, a deixar o papel e a caneta, durante algum tempo, de lado. “Nessa altura a escrita não me fazia assim tão bem. Usava a escrita para explorar assuntos mais tristes, e depois não tinha maturidade para lidar com eles, até porque a escrita pode ser libertação, mas também pode ser uma espécie de redemoinho que nos leva lá para baixo. Dava-me muita à dor, era um escritor sofredor. Nessa idade decidi que não ia escrever mais”, confessa.
Mas o desejo de agarrar novamente no papel e na caneta permaneceu dentro de si, até ao dia em que tornou da escrita “uma prática diária”, sem nunca desejar que fosse a sua profissão. “A escrita não é de todo uma profissão, porque não quero depender financeiramente para existir e para que a minha família tenha uma forma de sustento, porque assim posso manter a escrita mais livre e um hobbie”, confessa.
Aliás, o marcoense é um verdadeiro defensor de que devemos ter atividades que “fazemos só porque nos apetece. É libertador termos um entretenimento pessoal que fazemos porque nos faz bem, sem existir obrigatoriedade de horários”.
E é com este lema que mantém a sua escrita. “Vou dizendo o que penso e depois as pessoas têm a liberdade de interpretar e sentir à sua maneira e de torná-lo seu. Não penso para quem escrevo, penso que me vão ler”.
Escritor sobretudo de poesia e alguns contos, Fernando Couto Ribeiro é inspirado pelas “desatenções” às quais acha piada ou quer registar. No fundo, vai dando “conta do mundo” e conta que “qualquer coisa” serve de “desculpa para escrever. Pode ser uma notícia ou um gesto que não é meu, aliás acho piada fazer o exercício de desfazer aquilo da minha história. A mim também me interessa muito o que está à volta da história ou mais subentendido”.
Enquanto lê outros autores, o marcoense mergulha numa conversa com o escritor e espera que as pessoas, de certa forma, façam o mesmo quando leem os seus livros. “Podemos falar com escritores como o Luís de Camões, conversar com alguém de outro tempo ou do outro lado do mundo e acabamos por discutir a vida com eles. É fascinante quando pensamos nesta perspetiva”, destaca.
Fernando Couto Ribeiro vive envolvido pelo mundo e pelas histórias dos outros, defendendo que “nenhum homem é uma ilha” e que tirá um “prazer enorme” em “sacar” um sorriso no outro.