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Fátima Oliveira vai lançar um livro em “homenagem” à sua filha Ana Catarina, uma jovem diagnosticada com trissomia 21 que transmite “uma força e energia inabalável” num mundo ainda marcado por “preconceitos e tabus”.

Tudo começou numa formação no Penafiel Activa, entre muitos dos desafios que eram lançados aos formandos, um deles era “contar a nossa história de vida. Falei da minha infância e depois partilhei o nascimento da minha filha. Mais tarde, também a minha apresentação final incidiu sobre o tema da trissomia 21”. Naquela altura, um professor afirmou que “o meu testemunho dava uma linda história”. Durante a pandemia, Fátima Oliveira ainda escreveu alguns textos, mas “desistiu”, embora a ideia tivesse permanecido “na cabeça”.

Alguns meses depois, a penafidelense cruzou-se com uma pessoa que escrevia livros. Foram necessários apenas alguns rascunhos para “ter a certeza de que daria num livro”. O nome da protagonista é Ana Catarina, tem 26 anos e foi diagnosticada com trissomia 21 dez dias após o nascimento. A mãe descreve-a como “uma jovem autónoma. Gosta muito de internet, músicas, séries e de jogar Candy Crush. É uma menina meiga, doce, por vezes, teimosa, mas faz parte, é uma das descrições deles. Quando criança era uma alegria, não havia tristeza com ela, estava sempre bem disposta, sempre a rir e na palhaçada, brincava muito, ela alegrava o dia de qualquer pessoa. Agora já é uma mulher e a vida é diferente, mas sempre foi uma força e energia”.

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Ana Catarina tem mostrado provas de que a “estimulação” é fundamental para o sucesso “destas pessoas. A minha filha trabalhou um ano no Pingo Doce, fez um curso no Porto e, agora, está a frequentar a Cercimarante”.

Mas para dotar a filha destas ferramentas, Fátima teve primeiro de conhecer o que implicava a “trissomia 21”. Na altura do nascimento de Ana Catarina, a mãe conhecia apenas a palavra “mongoloide” e, com base na sua experiência de vida, remetia-a para um cenário “angustiante. Quando contaram caiu-me tudo. Não tinha noção o que era a trissomia 21 ou Síndrome de Down. Desatei aos gritos, a chorar, fiquei de rastos por saber que a minha filha era um ‘mongoloide’ porque lembrava-me de um menino, a gente não deve fazer comparações mas confesso que naquela altura veio-me à cabeça aquele menino. Fiquei em choque, sem saber o que fazer…”. No entanto, Fátima Oliveira não demorou muito tempo para começar “a pedir ajuda. Soube que era preciso estimular a minha filha e essa tornou-se a minha grande preocupação”.

A conquista foi tão grande que Ana Catarina fez viagens de autocarro sozinha para o Porto. “Andei dois meses a ensiná-la a andar de autocarro e depois começou a ir sozinha. De manhã levava-a à paragem de autocarros e ela apanhava um autocarro direto para o São João, saia, mudava de paragem e apanhava um novo autocarro para ir para o curso e à vinda fazia o mesmo. Claro que se enganou algumas vezes, mas pode acontecer com qualquer pessoa. Primeiro ficou sem reação, mas depois aprendeu a lidar com a situação”. Para além disso, Ana Catarina fez amigos durante as viagens o que tranquilizou o coração da mãe. “Só tenho de agradecer às pessoas que a ajudaram e com quem ainda mantemos contacto”.

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Mesmo assim nem tudo foi um “mar de rosas”. Fátima Oliveira partilha que este livro também vem “desmistificar” a doença. “Quando a minha filha nasceu era um tabu e um bicho de sete cabeças. Era vista como uma coitadinha e não suportava isso. Embora já seja diferente continua a existir preconceito e falta de oportunidades. É uma chamada para as pessoas e entidades que colocam-nos de lado. Na escola os miúdos deixavam-na de parte. Fico muito revoltada, enquanto mãe partia-me o coração”.

Durante muitos anos, Fátima Oliveira confessa que não teve “coragem” de responder às pessoas e, por isso, este livro é também uma forma de expôr os seus sentimentos.

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Fátima Oliveira acabou por ter mais dois filhos e só se arrepende de uma coisa: “de não ter tido um filho mais cedo para acompanhar melhor a Catarina”, embora o receio permanecesse dentro de si decidiu voltar a engravidar e partilha que “correu tudo bem”.

Fátima Oliveira vai apresentar o livro este domingo, dia 3 de dezembro, no âmbito do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. O local escolhido foi o Hotel Termas de São Vicente e a sessão tem início pelas 16h00. Para terminar, a penafidelense deixa um convite: “conheço muitas mães no concelho de Penafiel com filhos com trissomia 21. O que posso dizer é para que não desistam e, quando é o primeiro filho, se tiverem oportunidade, deem-lhe logo outro irmão. Não deixem esperar muito tempo porque é uma mais valia para a criança. Nunca desistam do vosso filho porque eles são a nossa alegria. Costumo dizer que há tristeza é porque é o nosso filho que tem trissomia 21 mas, também é a nossa alegria porque eles são tão meigos, compreensivos e preocupados”.

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