familia numerosa os maias penafiel
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Até à decada de 1970 o Dia da Mãe era celebrado a 8 de dezembro, entretanto o dia foi alterado e é comemorado no primeiro domingo de maio. Desta forma, o Jornal A VERDADE decidiu assinalar a data e esteve à conversa com Margarida Maia, natural da freguesia da Portela, em Penafiel, que aos 74 anos é “acarinhada” por 15 filhos, 28 netos e cinco bisnetos.

Margarida Maia cuidou dos filhos “mais sozinha do que acompanhada”, apesar de ter tido “muito trabalho e dor de cabeça”, conseguiu alimentar, educar e ver crescer cada um dos filhos. Com as lides domésticas, o trabalho de campo e os filhos nunca restou tempo para ter uma profissão, por isso, dedicou-se a 100% à casa e à família.

Sempre de mãos na terra, Margarida Maia levava os miúdos consigo e permanecia no campo quase até ao fim de cada gravidez. As vizinhas diziam “qualquer dia vais largá-lo no meio do campo”, partilha Maria José, uma das fihas, entre risos.

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As responsabilidades surgiam desde cedo no seio familiar porque os mais velhos começavam a cuidar dos irmãos que chegavam. Quando questionada sobre como é crescer com tantos irmãos, Maria José afirma que “tem coisas boas e más, na infância não se nota tanto, mas consoante vamos crescendo existe uma diferença na mentalidade”, já que Manuel Silva, irmão mais velho, tem 55 anos e o mais novo, Jorge Silva, caminha para os 28. “Os irmãos mais velhos cresceram com mais dificuldade do que os novos, já os mais novos tiveram oportunidades que os outros não tiveram”, como irmã do meio, Maria José ri-se e diz “eu levava pancada dos dois lados”.

Durante a infância, ” Os Maias”, como eram conhecidos, juntavam-se a outros miúdos para brincarem. Na altura, sem autocarros nem carrinhas, o percurso para a escola era feito a pé. “Íamos para a escola pelo campo, com as galochas todas molhadas, claro, quando havia galochas se não íamos descalços”, apesar das circunstâncias, Maria José recorda estas dificuldades como momentos “felizes”.

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Como todas as crianças, os irmãos também faziam as suas “traquinices. As nossas brincadeiras era roubar fruta aos vizinhos, eramos influenciados uns pelos outros, e mesmo quando a ‘asneira’ não era feita pelos ‘Maias’, o dedo era apontado para um de nós”, conta em conversa com o Jornal A VERDADE.

Na época os brinquedos eram escassos e, por isso, os irmãos “pregavam partidas uns aos outros e brincávamos ao ‘faz de conta”, diz em tom alegre.

Maria José tem um irmão emigrado na Angola e partilha que é o que fala “mais sobre o passado, a nossa infância e as traquinices que nós fazíamos”. A irmã considera que por estar mais distante e longe da família vive as memórias com “mais intensidade”.

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O principal sustento da família eram os produtos vindos da terra, a mãe Margarida acordava cedo e passava o dia no campo para cultivar produtos de forma a alimentar os filhos durante o ano. Maria José recorda que “não passamos fome, mas a fartura não era muito. A minha mãe ia governando isso para o ano todo”. Conta que na época natalícia, o presente era um chocolate distribuído pelos irmãos todos e, por isso, desde nova que aprendeu a “partilhar”. Quando cresceram, os irmãos mais novos começaram a proporcionar “mimos” aos mais pequenos.

Maria José volta a recordar o irmão emigrado na Angola, descreve-o como a personagem “caricata” da família, “só a forma dele falar já é engraçada”. Quando se reúnem é o entretenimento dos irmãos enquanto conta e relembra histórias da infância.

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A cicatriz debaixo do olho da irmã é uma dessas recordações. Durante uma brincadeira, o irmão espetou com um pau e para a curar “atirou terra”, apesar de na altura ter sentido dor, até hoje é um momento que contam entre risadas.

À medida que os irmãos iam crescendo, alguns terminavam os estudos outros deixavam a meio porque “a necessidade obrigava a isso”, e juntavam-se na área da restauração, entre cafés e restaurantes. Atualmente, alguns são eletricistas outros continuam ligados ao ramo da restauração e três acabaram por emigrar: “um já regressou, uma está na Suíça e outro na Angola”.

Normalmente, a época de Natal não é a altura mais propícia para se reunirem, já que na “hora da ceia, uns têm que ir para as sogras”, volta a rir-se. Desta forma, o verão ou o Dia dos Avós é a altura festejada pelos filhos, netos e bisnetos.

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Outro momento de festa costuma ser a altura das vindimas, a família de agricultores aproveitava a época para colher e produzir mais alimentos enquanto se divertiam.

Apesar da “dor de cabeça” que é ter uma família grande, Margarida partilha que “sente muito carinho” e Maria José ao recordar a sua infância diz que “viajou no tempo” e que perante tantas lembranças conclui que “a vida destes 15 irmãos dava uma biblioteca ou um filme”.