Cerca de 90 funcionárias da antiga Golf, uma fábrica com quase 50 anos localizada em Macieira, no concelho de Lousada, foram “surpreendidas” com o encerramento da empresa na quarta-feira, 4 de dezembro.
A empresa alega “falta de trabalho” e ausência de “qualidade” das funcionárias, que na manhã desta quinta-feira, 5 de dezembro, se deslocaram à fábrica em protesto.
A LEUMAN – Confecções, Unipessoal, gerida por José Belmiro da Costa, fez chegar às funcionárias uma comunicação escrita a avisar que “para os devidos e legais suspendeu a sua atividade produtiva no dia 04/12/2024. Na mesma data a declarante deu instruções para que os seus advogados iniciassem procedimento especial de insolvência“.
Na mesma cartaz pode ler-se que “…porque não tem nenhuma actividade em curso e até que se demonstrem cessados os contratos de trabalho fica a trabalhadora (nome da funcionária) dispensada de comparecer sem perda de direitos ou antiguidade”.

A antiga Golf, que iniciou atividade em instalações situadas no centro da vila de Lousada, declarou insolvência e fez chegar a informação às trabalhadoras através de um advogado, a informar-lhe que era o último dia de trabalho. “É uma vergonha não dar a cara. Mandaram um advogado dizer que a fábrica fechou. Soubemos através dele, chegou aqui e desligaram a luz às quatro horas. Soubemos tudo por fora. sSbíamos mais por fora do que por dentro. Por dentro ninguém dizia nada. Agora mandam-nos embora sem nenhum papel, sem nada, sem justificação nenhuma”, lamentam as funcionárias.
Algumas das funcionárias em protesto trabalharam naquela histórica unidade fabril quase desde o início e mostram-se “descontentes” com a situação. “Estou aqui em baixo (Macieira) há 42 anos, foi quando se mudou, mas eu trabalhava lá em cima, na outra, debaixo da casa dele”, diz uma das funcionárias ao Jornal A VERDADE.
“Eu deixei na minha máquina a peça de trabalho metida, desligaram a luz e ficou lá o trabalho metido em linha. Não sabíamos que íamos chegar aqui e ia estar fechado. Há mães solteiras, que não têm nada, há pessoas que se divorciaram há pouco tempo. Fizeram-nos trabalhar quatro dias deste mês para acabar uma encomenda, acabou e desligaram-nos a luz. Entregaram uma declaração de três dias como estávamos dispensadas de trabalho. Estamos sem nada nas mãos. O advogado diz que vai abrir insolvência, mas primeiro que nos deem o papel pode demorar 45 dias. O que vão comer as pessoas que têm créditos, filhos pequenos. E dizem agora não temos qualidade? Se não tivéssemos qualidade nunca teríamos estado tantos anos abertos”, diz outra trabalhadora.

“Ele para ser o que é hoje começou aqui de zero. Nunca nos deram formação para ter qualidade. Sabemos que as coisas estão mal e que havia pouco trabalho, mas nós sempre colaboramos com eles. Nós este ano estivemos duas vezes em lay-off e a trabalhar sempre. Nessa altura, tínhamos de trabalhar X horas, X dias e foi sempre. E eles avisaram para nós dizermos que só trabalharmos de manhã”, diziam indignadas.
Apesar da empresa “cumprir sempre com as obrigações financeiras”, nada previa “que fosse acabar assim. As coisas resolvem-se. Falavam connosco e se nos dessem tudo direitinho estava resolvido. Deviam ter dado a cara. Agora estão-nos a culpar que a fábrica fechou porque não temos qualidade? Diziam que era a melhor fábrica para trabalhar. Não houve uma palavra connosco. Veio um advogado ontem, que ele nem sabia o que havia de dizer”.
Liliana Prazeres, de 32 anos, é natural do Alentejo, vive com a mulher em Meinedo e sem trabalho não sabe como será o futuro. “Se eles ao menos fossem transparentes. E se o papel do desmeprego só vier daqui 45 dias, como é que vai ser? vamos viver de quê durante esses 45 dias. Como é que irá ser? Quem é que vai pagar as rendas. Quem é que vai pagar as coisas?”,
Os representantes de empresa estiveram no local, mas não quiseram prestar declarações.
A antiga Golf foi fundada por Joaquim Rafael de Sousa e por Fernando Machado, que criou, entretanto, a FSM, um grupo que se instalou na antiga Lousafil, junto à Costilha, em Cristelos.