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Fábrica histórica de Lousada fecha portas ao fim de 48 anos por "falta de trabalho"

Redação

Cerca de 90 funcionárias da antiga Golf, uma fábrica com quase 50 anos localizada em Macieira, no concelho de Lousada, foram "surpreendidas" com o encerramento da empresa na quarta-feira, 4 de dezembro.

A empresa alega "falta de trabalho" e ausência de "qualidade" das funcionárias, que na manhã desta quinta-feira, 5 de dezembro, se deslocaram à fábrica em protesto.

A LEUMAN - Confecções, Unipessoal, gerida por José Belmiro da Costa, fez chegar às funcionárias uma comunicação escrita a avisar que "para os devidos e legais suspendeu a sua atividade produtiva no dia 04/12/2024. Na mesma data a declarante deu instruções para que os seus advogados iniciassem procedimento especial de insolvência".

Na mesma cartaz pode ler-se que "...porque não tem nenhuma actividade em curso e até que se demonstrem cessados os contratos de trabalho fica a trabalhadora (nome da funcionária) dispensada de comparecer sem perda de direitos ou antiguidade".

A antiga Golf, que iniciou atividade em instalações situadas no centro da vila de Lousada, declarou insolvência e fez chegar a informação às trabalhadoras através de um advogado, a informar-lhe que era o último dia de trabalho. "É uma vergonha não dar a cara. Mandaram um advogado dizer que a fábrica fechou. Soubemos através dele, chegou aqui e desligaram a luz às quatro horas. Soubemos tudo por fora. sSbíamos mais por fora do que por dentro. Por dentro ninguém dizia nada. Agora mandam-nos embora sem nenhum papel, sem nada, sem justificação nenhuma", lamentam as funcionárias.

Algumas das funcionárias em protesto trabalharam naquela histórica unidade fabril quase desde o início e mostram-se "descontentes" com a situação. "Estou aqui em baixo (Macieira) há 42 anos, foi quando se mudou, mas eu trabalhava lá em cima, na outra, debaixo da casa dele", diz uma das funcionárias ao Jornal A VERDADE.

"Eu deixei na minha máquina a peça de trabalho metida, desligaram a luz e ficou lá o trabalho metido em linha. Não sabíamos que íamos chegar aqui e ia estar fechado. Há mães solteiras, que não têm nada, há pessoas que se divorciaram há pouco tempo. Fizeram-nos trabalhar quatro dias deste mês para acabar uma encomenda, acabou e desligaram-nos a luz. Entregaram uma declaração de três dias como estávamos dispensadas de trabalho. Estamos sem nada nas mãos. O advogado diz que vai abrir insolvência, mas primeiro que nos deem o papel pode demorar 45 dias. O que vão comer as pessoas que têm créditos, filhos pequenos. E dizem agora não temos qualidade? Se não tivéssemos qualidade nunca teríamos estado tantos anos abertos", diz outra trabalhadora.

"Ele para ser o que é hoje começou aqui de zero. Nunca nos deram formação para ter qualidade. Sabemos que as coisas estão mal e que havia pouco trabalho, mas nós sempre colaboramos com eles. Nós este ano estivemos duas vezes em lay-off e a trabalhar sempre. Nessa altura, tínhamos de trabalhar X horas, X dias e foi sempre. E eles avisaram para nós dizermos que só trabalharmos de manhã", diziam indignadas.

Apesar da empresa "cumprir sempre com as obrigações financeiras", nada previa "que fosse acabar assim. As coisas resolvem-se. Falavam connosco e se nos dessem tudo direitinho estava resolvido. Deviam ter dado a cara. Agora estão-nos a culpar que a fábrica fechou porque não temos qualidade? Diziam que era a melhor fábrica para trabalhar. Não houve uma palavra connosco. Veio um advogado ontem, que ele nem sabia o que havia de dizer".

Liliana Prazeres, de 32 anos, é natural do Alentejo, vive com a mulher em Meinedo e sem trabalho não sabe como será o futuro. "Se eles ao menos fossem transparentes. E se o papel do desmeprego só vier daqui 45 dias, como é que vai ser? vamos viver de quê durante esses 45 dias. Como é que irá ser? Quem é que vai pagar as rendas. Quem é que vai pagar as coisas?",

Os representantes de empresa estiveram no local, mas não quiseram prestar declarações.

A antiga Golf foi fundada por Joaquim Rafael de Sousa e por Fernando Machado, que criou, entretanto, a FSM, um grupo que se instalou na antiga Lousafil, junto à Costilha, em Cristelos.