Treinos intensos de musculação, refeições cuidadas e uma variedade de suplementos fazem parte da rotinas de muitos atletas, mas que não chegam quando o objetivo é levar o corpo ao "limite". Para isso recorrem aos esteroides anabolizantes, compostos sintéticos que imitam os efeitos das hormonas produzidas naturalmente pelo corpo, mas que implicam riscos graves para a saúde, como a impotência, cancros e lesões cardiovasculares.
Ainda são escassos os estudos com amostras significativas que mostrem quantas pessoas em Portugal consomem esteroides anabolizantes, mas sabe-se que são medicamentos com um acesso "muito fácil". Mesmo havendo um acesso mais generalizado a vários canais de informação, como a internet, "muitas vezes, o consumo é feito sem ser identificado" e Muitas vezes, o consumo destes medicamentos é feito de forma abusiva e não são prescritos por um médico. Hoje em dia, é muito fácil encontrá-los, por exemplo, na internet e, por isso, são cada vez mais utilizados", afirma Cláudia Reis é médica anestesista e pós graduada em medicina desportiva.
Estas substâncias permitem aumentar os músculos, reduzir a percentagem de gordura corporal, aumentar a força ou reduzir o tempo de recuperação muscular, consequências que motivam os atletas a seguir este caminho, mas que ao mesmo tempo os fazem esquecer os riscos e consequências da toma a curto e longo prazo. "As pessoas quando consomem estes compostos preocupam-se muito com o aumento da massa muscular, o foco será aumentar a performance. O que acontece é que este objetivo a curto prazo também se associam a objetivos a longo prazo. Estes medicamentos têm efeitos muitas vezes cardíacos, provocam um aumento da massa cardíaca muito maior do que o habitual, podem estar associados a cancro do fígado, da próstata, a uma dependência psicológica, a uma maior agressividade e necessidade de manter este consumo. Muitas vezes pode desencadear algumas arritmias e o atleta que consome ter graus de desidratação extrema", explica.
Mas por que razão atletas, e não só, se predispõem a estes riscos? Tudo é feito em prol de uma "aparência física" desejada. "Quando falamos dos esteroides anabolizantes e o objetivo é aumentar a massa muscular, o objetivo é ter uma aparência física com todos os cuidados de nutrição, treino e descanso que são fundamentais, mas muitas vezes é impossível alcançar aquele aqueles músculos perfeitamente definidos, porque é um trabalho muito grande. As pessoas quando recorrem a estes fármacos pretendem aquele objetivo que muitas vezes é irreal, mas que com eles é conseguido. Aí a própria pessoa, mesmo sabendo, pensa que não lhe irá acontecer a ela. É a esperança de 'a mim não me vai acontecer'. Correm o risco pela procura do objetivo de alcançar aquilo que tanto procura".
Para além destes fármacos, existem "muitos outros" usados pelos atletas - como os estimulantes - para "cortar" a sensação de fadiga. "Poderão haver alguns desportos que recorram mais para conseguir os objetivos, mas é importante perceber que poderá ter alguma contraindicação e ponderar muito bem se é isso que a pessoa quer", frisa a médica.
Como alerta, Cláudia Reis pede a "ponderação" de quem decide recorre ao uso de esteroides anabolizantes. "Se a pessoa pretende tomar, tem de pensar muito bem nas consequências da escolha. Ao escolher utilizar estes fármacos, tem de perceber que tem também o outro lado que vai ser danoso para a saúde. É muito importante avisarmos não só 'a população de risco' - aquelas pessoas que recorrem mais e que procuram o aspeto físico de músculos altamente desenvolvidos - mas também temos de alertar os mais jovens que ainda não estão nesse meio, mas que podem começar a aperceber-se que existe isso e que poderá ser um caminho. é muito importante alertarmos para as consequências que podem ser muito adversas para a saúde, inclusivamente levar à morte", conclui Cláudia Reis.