A festa de São Martinho é celebrada em Várzea do Douro há mais de duas décadas e todos os anos, em novembro, os jovens desta localidade do Marco de Canaveses organizam a festa do seu padroeiro, uma tradição que surgiu com os inícios desta celebração.
A Associação Recreativa e Cultural da Rota da Esperança (A.R.C.R.E.), mais conhecida como o grupo de jovens de Várzea, organiza este certame desde a sua fundação, mas esta tradição surgiu um pouco antes da criação desta associação.
Horácio Sousa, um dos fundadores do A.R.C.R.E. e membro ativo da comunidade de Várzea do Douro, recorda a primeira vez que celebrou o santo padroeiro: “a primeira festa do São Martinho que houve na freguesia aconteceu quando chegou cá uma imagem nova do santo”.
Na altura, a ainda freguesia de Várzea do Douro recebeu a nova figura do santo com uma missa e uma festa, “e isto já foi há 50 anos mas depois nunca desta festa não se fez mais nada, até que um dia voltou a falar-se da festa uns anos mais tarde”.
Um grupo de homens juntou-se “assim de lanço” e um dia “fizemos o seguinte, resolvemos fazer um magusto no dia seguir ao São Martinho. Formamos um conjunto de música, pusemos uma camioneta com os taipais abertos a fazer de palco e cantamos lá umas canções”.
E assim, estreou-se na freguesia os “Castanhas com Bicho”, revela Horácio Sousa entre algumas gargalhadas, uma banda de fregueses que se juntou para animar esta que seria a primeira de muitas festas de São Martinho.
O grupo de amigos “cantava ali meia dúzia de canções e animavam ali a nossa festinha, e foi a partir daí que a festa cresceu cada vez mais”, acrescenta Manuel Joaquim, outro membro fundador da A.R.C.R.E..
Nos começos desta festa, a tradição era:“ter os Castanhas com Bicho a cantar enquanto toda a gente comia as castanhas do magusto e se enfarroscavam uns aos outros,era mesmo uma festinha, nem foguetes tinhamos nem nada”. As gentes de Várzea juntavam-se sempre para desfrutar deste “clima de brincadeira onde aparecia muita gente mesmo, todos gostavam muito de participar”, conta o habitante de Várzea do Douro.
E a festa continuou nestes modos até à fundação do grupo de jovens, que com a ajuda dos animadores da altura, Manuel Joaquim e Horácio Sousa, passaram a ser os responsáveis por continuar as tradições desta festa.
O primeiro certame organizado pelos jovens “correu bem mas na altura nem havia noitada, era só mesmo uma brincadeira do grupo da terra com os Castanhas com Bicho que depois foram substituídos pelos Stacato, outro grupo da terra que ficaram conhecidos por fazer esta festa”, explica Manuel Joaquim.
A festa e a animação musical atraíam muita gente da freguesia à festa, no entanto, “o ponto mais forte foi sempre o teatro e na altura o nosso grupo de jovens até era chamado, pelas gentes de fora, da Capital do Teatro”, revela Horácio Sousa.
O São Martinho é recordado como “uma festa da terra”, de inícios humildes, de “bandas pequeninas e teatro” que hoje em dia já evoluiu para uma festa que chama grandes nomes à pequena localidade de Várzea do Douro.
Contudo, apesar de ser “uma festa mais moderna e maior”, a adesão da população a estas tradições e dos jovens à associação, estão muito aquém do que era antigamente.
“As pessoas aderiram mais a tudo, mas também agora há outros divertimentos…a nossa sociedade vive de outra forma mas naquela altura a festa do são martinho era mais apreciada”, adianta Horácio Sousa.
Os costumes e a maneira de viver antigamente faziam com que uma festa, mesmo pequena como era o São Martinho, acaba-se por dinamizar bastante uma freguesia. “Não havia grandes atividades na freguesia e naquela altura até nem havia um café em Várzea”, frisa Manuel Joaquim.
Apesar de todas as mudanças da festa e da própria localidade de Várzea do Douro, o seus fundadores continuam a reforçar que a associação é importante para a comunidade: “ajuda na vida da comunidade toda e ajuda em especial aos jovens. E acho mesmo importante termos a juventude ligada à freguesia de alguma maneira acho que é bom para a nossa comunidade”, realça Horácio Sousa.
Manuel Joaquim reforça esta ideia e acrescenta: “por aquilo que me apercebo há poucos grupos de jovens, mas antigamente havia muitos jovens tanto que nós chegamos a ir a encontros ao pavilhão rosa mota e o pavilhão rosa mota estava repleto de jovens”.
Contudo, apesar de todas as diferenças tanto a festa como o grupo continuam a ser motivo de orgulho para os seus antigos animadores: “todos nós que começamos esta festa, revivemos sempre por esta altura um bocado aquilo que foi o início disto tudo. Dá-nos sempre muito orgulho para todos aqueles que foram os primeiros a fazê-lo. É uma festa que para nós vai ser sempre muito vivida e muito querida, esta é mesmo a festa da nossa terra”.