Há mais de 30 anos que a Associação Esperanças do Cabo Futebol Clube - Veteranos faz parte da rotina de Rui Faria. Começou como jogador numa altura em que "se punha a bola a correr nós íamos todos atrás, agora não. Era diferente".
As diferenças daqueles tempo para os de agora são "várias", mas o lousadense 'emprestado' faz questão de "não deixo cair" o clube e as tradições. "As pessoas vão desistindo e eu tenho de dar continuidade, senão acaba, como muitas outras associações. Mas é difícil contrariar essa realidade".
Desde os "15 ou 16 anos" que se mantém ligado ao clube que se viu reconhecido legalmente a partir de 2011 e surgiu porque "na altura queríamos inscrever-nos na Associação de Futebol Amador de Lousada (que já não está em funcionamento). Embora não tivéssemos campo próprio, nem temos, um dos requisitos era legalizar a situação. Então estivemos na AFAL durante alguns anos", recorda.

Com família em Meinedo, Rui Faria é natural de Penafiel, mas a vida levou-o para outros destinos. Viveu em Vila Meã até aos 15 anos. A partir daí, e até hoje, Lousada passou a ser a 'casa' do presidente da Associação Esperanças do Cabo Futebol Clube. "Sinto-me um bocadinho mais lousadense, completamente", garante.
Atualmente, a direção do clube é composta por "cerca de 14 elementos", mas "as pessoas vão-se desligando, por motivos profissionais e outros. Uns vão trabalhar para o estrangeiro, outros deixam deixa de viver perto e os membros vão-se alterando, mas é complicado. No fundo resistem dois ou três para irem indo fazer as coisas, mas sempre difícil", lamenta Rui Faria.
Motivos que explicam uma associação "pouco ativa" neste momento, mas que permanece com jogos das velhas guardas e com atividades realizadas pelo Motoclube - Cabo a Fundo. "As pessoas vão desistindo, porque não é só por não ter vontade, muitas vezes é mesmo pela profissão. E não é só estar na direção, é preciso desenvolver trabalho".
Os custos que são muitos, enquanto que as ajudas são poucas
Para Rui Faria, a "falta de pessoas" explica-se por se tratar de um trabalho voluntário, mas "não só". O presidente aponta para "os custos que são muitos, enquanto que as ajudas são poucas. As dificuldades são maiores porque não temos as infraestruturas necessárias, é complicado e as pessoas acabam por cansar do trabalho e das críticas. Não vêm retorno naquilo que fazem. Há muitas críticas e que está de 'fora' não valoriza o trabalho que é feito. Mas também ninguém quer assumir as responsabilidades. Sozinho não é fácil".
A pandemia da COVID-19 foi mais um entrave para o desenvolvimento do clube e, desde então, muita coisa ficou "em banho maria. Não existiam grandes eventos e assim continuou. Às vezes até tenho de cancelar jogos, porque as pessoas não aparecem. É difícil conseguir orientar isso, acrescendo o facto de termos de pagar sempre os campos", alerta.
As atividades têm sido "poucas". Rui Faria e a restante direção vão "tentando" e reconhecem que se tivessem um campo próprio "a realidade seria um pouco diferente. Não estou a dizer que fazíamos mais que os outros, mas era diferente, porque nos daria outra motivação e conseguíamos fazer muitas mais coisas".

Relembrando a oferta desportiva da freguesia, Rui Faria atenta que as camadas jovens "vão trazendo algum rendimento, porque os pais vão investindo para os filhos e vai-se aguentando melhor". Uma realidade "diferente" da Associação Esperanças do Cabo Futebol Clube - Veteranos, que "não tem qualquer fonte de rendimento".
A terminar a entrevista, Rui Faria lamenta que os jovens "já não gostem de manter as tradições da freguesia", mas espera que "haja um ponto de viragem" e mais casos como a filha, de 25 anos, que é "muito ativa".
Vai ser "difícil" dizer adeus ao clube, mas para já "vai-se mantendo assim".