cristina mendes a fabrica de constantino
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Está frio; mais que muito que até gelam os fios de cabelo em Constance. É véspera de Natal, todos se preparam para esta noite: as “chefes” da cozinha ocupam-se alegremente com os seus cozinhados, os homens ansiosos, não vêm a hora de voltar para casa e as crianças perdem-se em tudo menos na ideia de receberem presentes.

Apenas uma pessoa não parece estar feliz com o Natal: o velho Constantino, um homem de negócios forreta, rezingão e solitário. Ele não entende a razão de tanta alegria e irrita-se, com a paragem que tem de fazer na sua fábrica de chapéus pois tem que dar folga aos seus funcionários. É uma alma desassossegada até atormentada, tanto por rancores do passado como pelo sentimento de cobiça, que o enche por completo. Não liga à família, nem sabe o que é ajudar alguém.

Na semana anterior recebeu a visita de dois homens que lhe pedem ajuda para fazerem o Natal acontecer na vida de uns pobres, ajuda que ele se nega determinantemente a dar, por achar que já faz demais ao pagar seus impostos. Falou de forma tão bruta e má que os dois homens foram embora de passo acelerado, mais pareciam que se tinham cruzado com o diabo.

Nessa noite teve um sonho, com a versão fantasmagórica do seu ex-sócio Marcolino que lhe apareceu e lhe mostrou as correntes que ainda o amarram a este mundo e ele já se foi há mais de 10 anos.

Marcolino conta-lhe nesse sonho, o que se está a passar após ter morrido, por não ter feito o bem durante a sua vida. Nesta visita, Marcolino avisa Constantino de que irá receber a visita de três fantasmas: o fantasma do Passado Natal, do Presente Natal e do Futuro Natal.

Receoso dessa visita e das consequências dela, Constantino pede ajuda ao ex-sócio mas este, avisa-o apenas que a mudança da sua atitude o pode salvar de um futuro aterrador como aquele que ele está a viver. Mas com a vida ocupada com a sua avareza e ganância Constantino depressa se esqueceu do aviso do Marcolino. E a visita ainda mais depressa aconteceu.

O primeiro a visitá-lo é o espírito do passado e leva-o para a sua infância, a criança que foi, as pessoas queridas que o acarinhavam, como a sua irmã e a sua professora. Vê o quanto as pessoas eram felizes e o quanto tentavam fazer as outras também felizes, embora não fossem ricas. Ele sentiu o cheiro a fumo da casa da avó, quando o avô fazia uma enorme fogueira que tanto o alegrava ver os cavacos a arder e que tão bem sabia aquele quentinho que aquecia pela frente, mas as costas continuavam geladas pelo frio que entrava pelos buracos da parede de pedra encastelada. Ele lembra-se do quanto se sentia feliz.

Na segunda noite, vem o espírito do presente Natal. E lhe mostra como as pessoas não gostam dele e lamentam por ele ser tão ganancioso e como ele poderia fazer algumas pessoas mais felizes, mas não o ajudam em nada. Sente que não é feliz.

Na terceira noite, Constantino está já muito cansado e arrependido de tudo o que não fez na sua vida nem na vida das pessoas. Nessa noite, vem o último espírito, o espírito do Futuro Natal. Tudo o que o espírito lhe mostra é morte, solidão, uma tristeza infinita e uma falta de carinho até ao final da sua vida. Afinal, Marcolino há muito deixou de ter respeito pelos outros. Ficou aterrorizado do que aí vinha e iria sofrer.

Ao ver tudo isto pede uma oportunidade para ser diferente, porque quer mudar a sua forma de viver e mudar a sua vida para mudar o seu futuro. Quando abre os olhos, percebe que tudo não tinha passado de um sonho, ainda é véspera de Natal. E pensa que ainda tem uma oportunidade para fazer diferente.

Resolve mudar a forma como trata a família e dá-lhe mais atenção, até lhe leva presentes, trata melhor os seus funcionários e até marca um enorme jantar com todos eles. Toda a gente estranha o Constantino e o seu comportamento, mas ficam muito contentes com a mudança. Constantino não deu presentes a toda a gente, mas o que ele não sabia era que ao cumprimentar todos com quem se cruzava em Constance, estava a dar um enorme presente a cada um.

Ele não sabia que o seu cumprimento era recebido como um presente, mas ele sentia algo verdadeiramente extraordinário, ele sentia-se feliz e muito contente consigo próprio.

Com a mudança que Constantino fez na sua vida, ele faz acontecer o Natal em Constance e todos se sentiram presenteados. Uns com o simples gesto de carinho que ele passou a distribuir ao cumprimentá-los, outros tiveram uma casa mais cheia de alguma comida que fazia falta, alguns agasalhos que eram tão necessários e algumas crianças receberam um brinquedo do Pai Natal Constantino. Como a mãe delas lhes ensinou a chamar ao agradecer.

Natal é fazer acontecer. Natal é muito mais dar que receber. Natal é viver e ajudar a viver! Natal é renascer!

Texto de Cristina Mendes.