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“Poder ajudar, curar e melhorar alguma coisa” na vida do outro, eram as principais motivações de Edite Tomás que, “desde muito cedo”, percebeu que “queria ser médica. Não tinha ninguém na família, mas mais ou menos no sétimo ano já dizia que queria seguir esta profissão”, recorda em entrevista ao Jornal A VERDADE.

Sempre foi uma aluna que se pautou pelas “boas notas” e, por isso, sempre se manteve convicta de que iria conseguir seguir o sonho. “Nunca me passou pela cabeça que não conseguisse. Gostava e gosto de estudar”, confessa.

Uma certeza que foi ‘abalada’ logo no primeiro ano do curso, altura em que achou que “não ia conseguir. O primeiro ano de medicina, sobretudo na Faculdade de Medicina do Porto, sempre teve fama de ser difícil, e realmente era. Foi muito complicado e uma adaptação extraordinariamente difícil. Mas superei e fiz o curso no tempo normal”.

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Edite Tomás é natural de Santo Tirso e é médica no Hospital Padre Américo, do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa.

Edite Tomás é uma mulher de convicções e na escolha da especialidade sabia que “queria uma especialidade médica e não cirúrgica. Dentro das especialidades médicas, queria uma que fosse abrangente”

Escolhas que a levaram à pediatria, área em que trabalha há cerca de 30 anos, “uma vida toda”, diz.  

Numa visita ao passado, Edite Tomás recorda a entrada num serviço composto “por homens. Quando cheguei, eu e outra colega, fomos as primeiras mulheres do serviço”. Números que não assustaram uma mulher que cresceu com a figura masculina bem presente. “Cresci no meio de rapazes, por isso quando entrei num serviço só com homens não senti qualquer constrangimento. Mas também sempre que alguma coisa não estava bem, eu não me calava. Protestava e punha os ‘pontos nos is’”, garante.

“Fui muito mal entendida por querer horário de amamentação no serviço de urgência”

Ao longo dos anos são vários os relatos de mulheres que denunciam situações de assédio no trabalho, mas a médica frisa nunca ter sido vítima durante toda a carreira profissional, sentindo apenas “falta de sensibilidade” na maternidade. “Se calhar porque estavam habituados a que desse tudo pelo serviço. Quando tive o meu primeiro filho tive apenas três meses de licença de maternidade. Consegui juntar um mês de férias, mas foi muito mal visto. No meu segundo filho também tive três meses de licença. Foi uma altura muito complicada, porque, fui muito mal entendida por querer horário de amamentação no serviço de urgência”.

Hoje, garante sentir-se realizada “como mulher e profissionalmente” num serviço que contraria a tendência de quando lá chegou. “Neste momento, trabalho num serviço onde quase não existem homens”.

Uma tendência que, para a médica, se explica pela dedicação da mulher. “A medicina tem tido as médias mais altas, e vão entrar muito mais mulheres do que homens, porque são muito mais focadas e esforçadas na juventude”. 

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Numa retrospectiva pela carreira profissional e olhando para o posicionamento da mulher, enquanto mãe, Edite Tomás garante que a maternidade não foi um entrave à progressão da carreira de médica. “Demorei um pouco mais, mas consegui fazer as coisas”.

A propósito das lutas que as mulheres atualmente travam pela procura da igualdade de género, afirma que nunca se sentiu “que era menos por ser mulher, pelo contrário”. No entanto, reconhece que “há muita coisa para mudar e um trabalho muito grande a ser feito”.

Na profissão que exerce não encontra “problemas”, mas o mesmo não acontece “noutras áreas. Têm de lutar e não se podem calar”, é a mensagem que deixa a todas as mulheres.