Natural do Porto, mas a viver há quatro anos em Marco de Canaveses, Freixo, Diogo Meireles descobriu e solidificou por terras marcoenses e baionenses a paixão pelas abelhas. Um trabalho que foi 'posto em causa' pelos incêndios que assolaram o país.
Em entrevista ao Jornal A VERDADE, o apicultor recorda a noite de 16 de setembro, segunda-feira, em que viu, através das redes sociais, testemunhos de hectares que ardiam no concelho de Baião. Com o coração nas mãos, deslocou-se até aos seus apiários e deparou-se com o cenário desolador que se vivia em toda a vila. "Quintas dizimadas, o cenário piorava a cada minuto, mas, felizmente, a nossa quinta salvou-se. No entanto, foram dois apiários à vida dos sete que tenho e outros três estão sem pasto para as abelhas, felizmente elas sobreviveram, mas ardeu tudo à volta", partilha.
Quando Diogo Meireles viu pela primeira vez os seus apiários só conseguiu sentir "desolação total" e as "lágrimas nos olhos". Mesmo com o passar dos dias, sempre que se recorda daquela noite fica "emocionado. Foi uma tristeza profunda, só tinha lágrimas nos olhos, nem sequer conseguia falar direito, continuo a sentir-me emocionado com o que vi, porque depois de quatro anos de trabalho chegar lá e não ver nada, só os tampos de metal das colmeias… é horrível".
No total, o produtor perdeu 52 colónias, dois apiários, material, equipamentos e cerca 500 a 600 quilos de mel que ainda iria recolher, além das cerca de 80 colmeias que estão sem alimento, totalizando um prejuízo com mais de 15 mil euros.

Ao fim de quatro anos de investimento no seu negócio e, acima de tudo, na sua "paixão", este dia foi um "abalo muito grande" que ficará para sempre cravado na memória do apicultor. Mesmo inconsolável, Diogo ganhou coragem, ergueu os braços e garante que não pretende desistir. Por estes dias, tratou das colmeias que sobreviveram, criou um apiário hospital e, consciente, de que terá de abdicar da produção de mel no próximo ano traçou os próximos passos. "Alguns amigos já me disponibilizaram o terreno para recuperar todas as colmeias, mesmo as que não têm alimento vão ser deslocadas para serem alimentadas artificialmente este ano para, no próximo ano, já conseguirem produzir alguma coisa", explicou.
Agora, espera angariar fundos de "amigos e conhecidos" e comprar material, criar novos enxames e "voltar à normalidade. Para o ano não vou conseguir produzir mel nenhum, só irei produzir enxames para voltar a ter o mesmo número de colónias. Vou ter de abdicar da produção de mel para a produção de enxames para voltar a ter o mesmo número de colónias", reiterou.

Decidido em recuperar o número que tinha, Diogo pretende partilhar o dinheiro que angariar com outros produtores de mel. "Só queria recuperar os números que tinha, todo o excedente vai ser para ajudar outros apicultores".
Diogo Meireles foi um dos muitos afetados pelos incêndios. O fogo destruiu-lhe parte do seu negócio e acima de tudo da sua "paixão" que começou com o desejo de "promover a biodiversidade", mas que, através do contacto com as abelhas, levou o recém-apicultor a formar-se na UTAD, a realizar várias formações e a ganhar uma menção honrosa no projeto Marco Invest.