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Margarida Fernandes é atriz e Doutora Palhaça na Operação Nariz Vermelho há 12 anos. Em entrevista ao Jornal A VERDADE a “Dr.ª Francesinha”, como é conhecida pelos corredores do IPO do Porto, explica que a motivação para entrar neste ‘mundo’ se deveu “à pertinência de levar a arte a um contexto complexo como é o hospitalar pediátrico”.

A equipa dos Doutores Palhaços é formada por artistas que “treinam, aperfeiçoam e apuram o seu ofício”, com o objetivo de estarem “na melhor forma possível para realizar os encontros com as crianças e cuidadores”.

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Os palhaços humanizam o espaço hospitalar através da arte, por isso, como artista, Margarida Fernandes garante que “é um privilégio poder enquadrar a técnica de palhaço, com a qual tive contacto no processo de formação profissional, de forma tão contínua e desafiante”.

Ao longo destes 12 anos o mais recompensador e mais “extraordinário são os encontros com as crianças, aquele momento em que conseguimos, através de uma brincadeira, uma mudança de ambiente”.

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Como nos explica, os Doutores Palhaços trabalham sempre em duplas e, por isso, esses momentos “recompensadores são sempre partilhados e vividos com intensidade. Através de uma escuta muito fina, a dupla de Doutores Palhaços vê e ouve a criança hospitalizada e, caso ela os mande embora, eles irão de facto. Em todo o hospital, os Doutores Palhaços são os únicos a quem a criança pode dizer ‘não’, e esta ligação primordial ao que a criança quer gera momentos únicos. Não sei se faço diferença, mas, depois de cada encontro destes, eu pelo menos sinto-me diferente”.

Foram já muitas as crianças a quem levou um sorriso, mas Margarida Fernandes recorda um menino, com cerca de 10 anos, que não queria receber a visita dos Doutores Palhaços. “Da frincha da porta, só mesmo com a ponta do nariz à vista, lá anunciámos: ‘É só para dizer que não vamos entrar, está bem? Está bem, responde o menino’. Eia! Uma resposta, pensámos nós. Voltámos ao jogo. A mesma resposta. Uau! À terceira, tropeçámos um no outro e eis que, da porta escancarada, sentimos vergonha pelo erro que acabávamos de cometer. O menino desatou a rir e convidou-nos finalmente a entrar. E o difícil depois foi sair!”.

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Por outro lado, quando questionada sobre as maiores dificuldades de trabalhar no IPO, a Doutora Palhaça prefere “priorizar as recompensas, que passam por encontrar crianças que passaram pelos tratamentos e já não estão internadas, que cresceram e que, ainda assim, nos cumprimentam como se o tempo não tivesse passado. Reconhecemos ali uma ligação, sentimos uma saudade alegre que partilhamos com os seus familiares”.

As dificuldades “que poderiam existir, dada a doença em causa, o cancro”, são contornadas pela “técnica artística que nos preenche e suporta, assim como trabalharmos sempre em dupla e com a devida preparação. Os heróis são as crianças e os respectivos cuidadores, que estão a vivenciar algo extremamente difícil e que tão bem nos recebem ao longo destes anos”, sublinha.

Neste Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, Margarida Fernandes agradece “a todos aqueles que nos hospitais se dedicam a humanizar o contexto hospitalar pediátrico com dedicação, compromisso, empatia e alegria”.