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Diagnosticada com cancro aos 42 anos, Teresa Silva nunca fez a pergunta "porquê a mim"

Redação

Até março deste ano, Teresa Silva era "uma pessoa muito ativa, profissionalmente extremamente ocupada, dinâmica na freguesia, fazia desporto, fazia tudo". No dia 2 de março, ao fazer uma apalpação simples no corpo, detetou um nódulo na parte superior da mama e que associou a "dores articulares, por causa do trabalho".

Como é "uma pessoa informada" e não é de "meter a cabeça de baixo da areia", a penafidelense não demorou em procurar respostas. Foi a uma consulta de urgência e, "deitada na maca", o médico dizia-lhe que "não sentia nada. Uma cunhada tinha sido diagnosticada com cancro três meses antes, então disse-me que era cisma minha".

No dia seguinte à consulta, Teresa Silva, natural de Valpedre, fez uma ecografia e aí percebeu o que iria enfrentar nos meses seguintes. "No início o doutor Miguel não estava a encontrar, mas depois detetou e percebeu logo que não era um quisto normal. Pela textura e por aquilo que visualizava poderia ser um nódulo maligno. Esclareceu-me e deu-me logo muita força. Pediu-me para fazer a biopsia e fiz no próprio dia".

Aos 42 anos dava início a uma caminhada "difícil" e que a fez "pensar em tudo". No consultório e enquanto ouvia as palavras do médico tentava "controlar" as lágrimas, mas quando ele lhe agarra o rosto e diz 'você vai vencer isto facilmente', Teresa Silva desabou. "Caí no chão. O meu marido estava a trabalhar em Espanha durante a semana, tenho dois filhos menores e sou um bocadinho a 'cabecilha' da família toda. Então nessa hora tudo desabou e só pensava como é que ia vou continuar a ajudar os outros. Eu estava sozinha e liguei primeiro à minha irmã, que trabalha perto", recorda.

Aliás, o maior medo "sempre foi, com os tratamentos, perder a noção", porque no resto Teresa Silva "tinha a certeza que, se o corpo ajudasse, ia conseguir passar o que muitos passam".

O diagnóstico, que confirmava o cancro na mama, chegou uma semana depois, no dia 12 de março. "Ligaram a dizer-me que os resultados estavam prontos. Enviei à minha médica e ela chamou-me logo ao consultório. Foi tudo muito rápido".

O marido "reagiu muito mal" e sentiu-se "perdido". Já com os filhos, Teresa Silva não deixou que "a doença tivesse implicações na vida deles. Embora mais condicionados, mas fizemos os passeios durante o verão e fomo de férias. O meu filho joga futebol e foi sempre acompanhado. A minha filha nunca deixou de ir à dança. A única situação em que tiveram de estar com outras pessoas foi quando estive no IPO por causa da cirurgia. Achei importante manter a rotina".

Depois do diagnóstico seguiu-se a cirurgia e, após o resultado de análise ao nódulo, os médicos entenderam que a penafidelense "deveria fazer todo o ciclo de tratamentos devido ao tipo de nódulo que me foi retirado, à minha idade e às estatísticas, que apontam para vários reaparecimentos. Houve sempre a esperança de que fosse uma cirurgia e pouco mais, mas aí percebi que ia mesmo ter de parar".

Dinâmica "por natureza", Teresa só parou de trabalhar depois da cirurgia, um "segundo choque", porque é o "braço direito" na empresa em que é diretora administrativa. "Custou-me por saber que as pessoas dependiam de mim e que há muito trabalho que só eu faço. Mas, mesmo agora, tento estar sempre em contacto com eles, não abandonei. Como sou muito ativa e estou habituada a uma rotina, deixar de a ter, psicologicamente, afetou-me muito".

Depois dos tratamentos fica sempre "o cansaço, os enjoos", mas o que "custa mais" a Teresa Silva é "ter de parar e não conseguir fazer tudo o que estava a habituada. Durante todo o processo nunca perguntei o 'porquê a mim'. É a vida a acontecer. Não é por sermos más pessoas, porque acontece às crianças e elas são inocentes. Essa pergunta nunca a fiz. Aconteceu, vamos avançar".

A força encontrou na família - nos filhos e no marido - e na cunhada que passava pelo mesmo processo. "No início, para ela, foi um choque, porque sempre fomos mais companheiras, mas depois tornou-se um 'vamos juntas'. Sabíamos o que cada uma estava a sentir".

"Falam connosco como se nos tivessem a dar boas notícias"

Alguns meses depois da descoberta do cancro na mama, Teresa Silva continua a percorrer os corredores do IPO do Porto, instituição onde sempre foi "muito bem acompanhada pelos assistentes, médicos e enfermeiros ... todos falam connosco como se nos tivessem a dar boas notícias e nunca de uma forma assustadora. Falam-nos a verdade de uma forma bonita, eu sinto isso e sempre senti nas pessoas que cuidam de mim desde que entrei lá. Sempre muito afáveis. Todo esse conforto ajuda na recuperação", garante a penafidelense.

Quanto ao desporto, "que tanto gostava", está "um bocadinho condicionado" devido aos tratamentos de quimioterapia. "A única coisa que consigo manter são as caminhadas, mas pouco tempo de cada vez. Antes da doença fazia zumba três vezes por semana, mas tive de deixar".

Um hábito que quer retomar "assim que conseguir", porque Teresa Silva quer regressar "à ótima forma em que estava. Parei e de repente engordei 15 quilos. O aspeto físico mexeu muito comigo", confessa.

Os tratamentos, semanais, ainda são uma realidade, assim como as "dores musculares" que a penafidelense, agora com 43 anos, tenta "contrariar" com as caminhadas.

Rodeada por "um mar de amor", Teresa Silva sente-se "feliz a ajudar" e partilha alguns conselhos com outros doentes oncológicos. "Não coloquem a cabeça debaixo da areia. Se acontece, vejam o que é".

O alerta vai tanto para o poder estatal e para a importância da prevenção, em todas as idades. "Deixem de pensar que as pessoas são novas para lhes acontecer. É preferível detetar no início, haver um custo estatal do tratamento, do que perderem-se pessoas. Devia haver um papel diferente na prevenção", diz-nos Teresa Silva.